Os novos surtos, nomeadamente em Lisboa,
não resultam de haver quem tenha transformado o desconfinamento numa espécie de
farra ou da desacato individual aos conselhos da Direção-Geral de Saúde.
(…)
Quem desrespeita [as normas] são as
empresas de transporte e o Estado, que não garante as condições de segurança,
de distanciamento e de proteção.
Por vezes é preciso
fazer-se um retrato exagerado de uma realidade dura e persistentemente colocada
na margem, para que as consciências dos acomodados despertem e o coletivo
abandone a indiferença.
(…)
Essas populações [de
algumas periferias de Lisboa] estão sujeitas a penosas mobilidades diárias
casa-trabalho-casa que acrescentam horas de incómodo aos horários de trabalho
já de si longos, à vida em urbes degradadas onde não há condições para garantir
os direitos fundamentais.
(…)
Apanhadas no turbilhão da
covid, parte significativa dessas populações teve de continuar a trabalhar.
(…)
Sem diminuir a condenação
de todos os descuidos e desrespeitos, há que dizer: o problema central é nunca
termos estado todos no mesmo barco.
As imagens dos transportes
na zona de Lisboa não deixam margens para equívocos: comboios, metro e
autocarros lotados, apinhados de gente.
(…)
Somam-se as dificuldades
das vidas a quem o salário não compensa o trabalho fundamental que fazem para o
país, que se traduzem em condições difíceis nas habitações, muitas vezes
sobrelotadas.
(…)
O desconfinamento foi
somando equívocos com o passar dos dias.
(…)
O que foi feito para
responder à sobrelotação dos transportes ou às débeis condições habitacionais?
(…)
Mais carreiras seria menos
gente apinhada e isso o Governo podia e devia ter feito já há semanas.
(…)
E o levantamento das
carências habitacionais, já foi feito?
(…)
Mais do que culpados para
as falhas do Governo, precisamos de um Governo que não falhe neste momento
fundamental.
Pedro
Filipe Soares, “Público” (sem
link)
O desdém e o
desconhecimento do poder central face a uma realidade que devia ser una e, no
limite, de boa vizinhança, faz da regionalização uma urgência para manter o
país solidário, justo e funcional.
O Orçamento
Suplementar, que foi apresentado como o instrumento de investimento
público para responder à pandemia, não sinaliza um só euro para financiar
medidas compensatórias das aprendizagens perdidas pelo corte de um terço das
aulas presenciais previstas, nem faz uma única referência à escola pública e às
necessidades acrescidas do próximo ano lectivo.
(…)
Sem escola física, que
aproxima, não há educação. Com escola remota, que afasta, há desumanização.
(…)
Durante o encerramento das
escolas, uns alunos avançaram, outros não; se nada for feito de suplementar,
quando todos se reagruparem, para que uns recuperem, outros terão de parar.
Santana
Castilho, “Público” (sem link)
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