(…)
Quando o governo escolhe articular a estratégia [para o
hidrogénio] com as grandes empresas poluidoras, fica garantido que a mesma se
tornará um travão à descarbonização.
(…)
É necessário utilizar um combustível real - renovável ou fóssil -
para produzir o hidrogénio que alimentará um sistema energético.
(…)
O que seria uma virtuosidade, será, como veremos, um dos maiores
problemas do hidrogénio a partir desta abordagem.
(…)
A actual estratégia nacional para o hidrogénio é a extensão para a
periferia da estratégia industrial do centro da Europa, em particular da
indústria do gás fóssil.
(…)
Nas mais de 50 reuniões sobre hidrogénio divulgadas por Galamba,
só uma (depois de terminada a consulta pública da estratégia) foi com uma
instituição académica.
(…)
Não é preciso fazer um esforço enorme para perceber quem são os
autores do cerne da estratégia nacional: os maiores poluidores portugueses e
uma parte da indústria holandesa.
(…)
O Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050 é insuficiente para
manter o aumento da temperatura abaixo dos 1,5ºC e até dos 2ºC até 2100.
(…)
Há um absurdo claro em Portugal, no que diz respeito ao hidrogénio
e descarbonização: nós não temos um excesso de renováveis, nós temos falta de
renováveis.
(…)
Enquanto houver fósseis no sistema, faltam renováveis.
(…)
O pináculo da estratégia é mesmo o projecto H2Sines, que se
apresenta como exemplo acabado de como não utilizar hidrogénio verde.
(…)
A Galp está no projecto como um grande consumidor, através da
refinaria de Sines, disse em Fevereiro, o que significa mesmo usar hidrogénio para refinar mais
combustíveis fósseis.
(…)
Nenhum governo em capitalismo não imputa ao povo os custos do seu
apoio a actividades privadas, sejam o BPN, o Novo Banco ou o hidrogénio verde.
(…)
Em capitalismo é incompreensível que introduzir renováveis no
sistema só é útil se tirar fósseis do sistema, é incompreensível perceber que o
objectivo não é fazer dinheiro.
(…)
A estratégia europeia de hidrogénio continua a alimentar os
fósseis.
(…)
Não vamos fingir que não sabemos há décadas que no mundo
capitalista o Estado é uma extensão mais ou menos directa dos interesses das
indústrias e das empresas privadas.
João Camargo, “Expresso” Diário
Na União Europeia são mais de 700 mil pessoas sem abrigo e,
segundo uma resolução recente do Parlamento Europeu, o fenómeno aumentou 70% na
última década.
(…)
[Apesar disso] com a retração brutal do turismo depois do boom dos últimos anos, talvez nunca como hoje tenham
existido tantos quartos e casas vazias nas grandes cidades.
(…)
[Em Portugal] os últimos números apontavam a existência de cerca
de 6 mil pessoas em situação de sem abrigo.
(…)
Calcula-se que cerca de 35 mil idosos residam em lares
clandestinos, nas condições que se imaginam.
(…)
[O programa “Renda Segura”] não funciona.
(…)
As poucas respostas de emergência criadas pelo Governo na área da
habitação estão a falhar.
(…)
No verão, havia 322 mil pessoas com moratórias no pagamento das
hipotecas de crédito à habitação, só que estas acabam no final de março e
(…) podemos assistir a uma vaga de incumprimentos, penhoras e despejos como
nunca vimos.
(…)
Continuamos no essencial com a mesma lei de 2012 [do governo de
direita] que liberalizou os arrendamentos.
(…)
As políticas públicas de habitação permanecem num aflitivo
estatuto de menoridade.
(…)
Só enfrentaremos a crise da habitação, que tem tudo para
agravar-se, se tivermos essa política [pública] e se ela quiser de facto mudar
de paradigma.
José Soeiro, “Expresso” Diário
A pandemia apanhou a TAP desprevenida e ainda enrolada em problemas antigos.
(…)
A TAP enfrentou tudo e a tudo sobreviveu, mas
com cicatrizes que ainda perduram.
(…)
São essas cicatrizes que, apesar do resultado
operacional positivo nos últimos anos (antes de pagamento de juros e créditos),
têm colocado continuadamente as contas do Grupo TAP no vermelho.
(…)
A culpa para a situação da TAP não está nos
seus trabalhadores, está nas várias equipas de gestores que teve e num
poder político que não soube lidar com uma empresa estratégica.
(…)
O termo “concorrência” é aplicado aqui [na
TAP] num sentido diferente do habitual - a regra da Comissão Europeia é fazer
vista grossa aos países do centro da Europa e ser draconiana com os da
periferia.
(…)
O plano de reestruturação da TAP que o
Governo vai apresentar em Bruxelas é a resposta a essa exigência da Comissão.
(…)
O plano é brutal: o maior despedimento
coletivo dos últimos anos com a saída de quase 3000 trabalhadores, redução do
número de aviões e corte no número de rotas.
(…)
Quem vai esfregando as mãos de contentamento
são os alemães da Lufthansa, que sabem que no final tudo lhes irá cair no colo.
(…)
Se a Comissão Europeia quer mesmo apoiar os
Estados “no seu esforço de protecção dos trabalhadores e empresas”, o Governo
tem de lutar até ao limite para evitar a destruição de tanto emprego
qualificado.
Pedro Filipe
Soares, “Público” (sem link)
2020 vai ser o ano de menor
número de nascimentos e registar-se-á um aumento de mortalidade, por efeitos
diretos e indiretos da pandemia covid-19 e por influência de fatores associados
às alterações climáticas.
(…)
No "Relatório Global
sobre os salários 2020/2021", da Organização Internacional do Trabalho
(OIT), divulgado esta semana, constata-se que, em Portugal, os impactos da
pandemia conduziram a uma redução da massa salarial de 13,5%.
(…)
Se os países não tivessem
adotado subvenções temporárias a perda teria sido ainda mais penalizadora para
os trabalhadores com retribuições baixas e para as mulheres.
(…)
Os mercados agem para
propiciar lucro a quem os domina e não para pôr em prática uma "estratégia
de recuperação centrada no ser humano" como defende a OIT.
(…)
Portugal surge, no contexto
dos 28 países analisados, como aquele onde é mais dura a perda para os
trabalhadores.
(…)
São imperiosas políticas
que evitem uma nova vaga de emigração.
(…)
A perda de população em
idade ativa e fértil é uma das principais causas da baixa da natalidade, e será
um drama para a evolução demográfica do país.
Qualquer razão que leve uma
ou um grupo de pessoas, maior ou menor, a sair da sua zona de conforto e manifestar-se
dias a fio, não pode ser encarado como marketing, birra ou defeito de software
interno de uns quantos.
(…)
Independentemente do
contexto despropositado de qualquer político em comitiva, é para serem ouvidos
que grevistas fazem greve.
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