A admiração pela economia chinesa e pelos seus métodos é um curioso traço do nosso tempo.
(…)
Há uma espécie de consenso
sussurrado que vangloria os sucessos chineses como o modelo ou, pelo menos, uma
inspiração.
(…)
[O modelo chinês] também
demonstra que, ao colocar este sistema ao serviço da acumulação de capital, se
geram contradições insanáveis. Não se pode ter sol na eira e chuva no nabal.
(…)
Por maiores que sejam as
reticências sobre as suas contas, é indiscutível que a economia da China será a
vencedora de 2020.
(…)
A razão mais importante para
este relançamento, depois de um confinamento drástico que congelou a produção,
foi um investimento massivo.
(…)
A razão do sucesso é por
isso fácil de identificar: é o investimento público que responde a uma
recessão, nem há outro recurso.
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O Banco Mundial indica que
em quatro décadas houve 800 milhões de pessoas que saíram da pobreza.
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No entanto, o autoritarismo
social que acompanha este sucesso económico é a razão mais apelativa para a
localização de empresas estrangeiras.
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[As
empresas estrangeiras] contam com o Partido Comunista
Chinês para impedir a liberdade sindical e a organização dos trabalhadores.
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Sabendo o valor que
produzem, os trabalhadores chineses não parecem dispostos a festejar que o país
tenha salários reprimidos e um nível de pobreza nos 60 euros por mês. E essa
exigência de democracia laboral é a outra face do modelo.
Francisco
Louçã, “Expresso” Economia (sem
link)
Quando os judeus portugueses
fugiam da Inquisição, Istambul era o porto seguro.
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Em 1858, o sultão otomano
descriminalizaria a homossexualidade, um século antes de o Reino Unido o fazer.
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Quando as Cruzadas
atravessavam o Mediterrâneo, o maior perigo para a tolerância religiosa e
cultural vinha nos barcos.
(…)
É por
isso uma imensa tragédia que muitos destes países tenham sido depois devastados
pelo empobrecimento, pela desigualdade, por teocracias ou pela ganância.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
O assalto ao Capitólio é o epílogo grotesco do mandato do pior Presidente
de sempre dos Estados Unidos da América.
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O assalto
que assistimos não foi a um edifício, foi ao coração da Democracia.
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É na
aceitação de uma derrota eleitoral que se medem os democratas, mas Trump nunca
respeitou a Democracia e sempre disse ao que vinha.
(…)
Quem não
quis ver o que Trump era, que imaginava um cordeiro onde nunca deixou de haver
um lobo, também tem culpas pelas quais deve responder.
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A onda de
demissões na Casa Branca significa o abandonar do navio, não o desassombro para
enfrentar Trump.
(…)
Os
aprendizes de Trump assistiram às imagens do assalto fiéis ao mestre.
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Se há
coisa que já devíamos saber é que a extrema direita não pode ser desvalorizada.
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Ventura é
admirador confesso de Trump, copia gestos e retórica, mas também tem o mesmo
desprezo pela democracia.
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Que
estranho silêncio o seu [Rui Rio] no momento em que os democratas são chamados
a condenar o golpismo.
(…)
E nas imagens que nos
chegaram do Capitólio, que julgávamos impossíveis
até ao momento em que nos interpelam, percebemos como a mentira pode
instrumentalizar as pessoas, dividir sociedades.
Pedro Filipe Soares, “Público” (sem link)
A boa notícia da derrota eleitoral de Trump e dos actos fúnebro-circenses que o próprio organizou à sua volta desde que pressentiu que poderia não ser reeleito (…), é que o seu projecto político pessoal morreu.
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O presidente dos EUA incitou ao ataque ao Congresso que já sabia estar a ser preparado há semanas.
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Trump apelava ao fim da rebelião, denominando os invasores de "sua gente", e essa sua gente agitava bandeiras nazis e sucedâneos.
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Quase em simultâneo, enquanto isto sucedia, um candidato presidencial falava de si na terceira pessoa, alimentando a sua extrema-direita onde há portugueses que não têm lugar em Portugal.
A que assistimos, no passado dia 6, nos EUA? Ao fim de um episódio grotesco, ou ao emergir de um monstro que ensaiou um assalto ao poder de que sai derrotado, mas que permanecerá vivo e ativo nos seus propósitos?
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Trump, figura humana e política escabrosa, ganhou notoriedade como "homem de negócios" (hoje comprovadamente um fiasco), associado a uma exposição pública promovida por grandes meios da Comunicação Social.
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Alcandorado a comandante em chefe de arruaceiros, Trump tomou essa força para vergar e instrumentalizar o Partido Republicano já muito conservador.
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Trump é a expressão mais especializada do ataque à verdade.
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Nos EUA como em muitos outros países, movimentos como o que suporta Trump, quando em maré-cheia, pegam fogo aos parlamentos, por fora e por dentro.
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Nestas eleições presidenciais aí está um candidato trampista e bolsonarista sem pingo de dignidade, saltitando entre a sabujice e a sobranceria, intrujão sem limites.
Aconteceu o que tinha de acontecer. Não me venham com surpresas, ou com “excessos” – era tão evidente que Trump iria tentar um golpe de Estado, primeiro através dos seus gnomos a pôr em causa os resultados eleitorais.
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Há muito tempo, Trump escreveu que tinha consigo os americanos com armas, os polícias e os militares.
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Entre os polícias tem alguns apoiantes, como se vê com o que se passou há dias, com polícias a pastorearem os invasores e a tirar selfies com eles.
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Entre os militares não tinha e não teve, e foi isso que fez toda a diferença.
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Num artigo no Sol, com as habituais mentiras, escrito já depois da insurreição dos trumpistas americanos, [João Lemos Esteves] repete uma descrição absurda do que se passou.
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Trump não só apelou à invasão do Capitólio, dizendo que se lhes ia juntar, e depois foi ver comodamente pela televisão, como atrasou quanto pôde o envio da Guarda Nacional e elogiou publicamente os manifestantes.
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Como acontece com os covardes, só quando as coisas começaram a correr muito mal, quando houve mortos, é que fez uma declaração de condenação, mesmo assim saída pela garganta com grande dificuldade.
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O mais importante trumpismo nacional não ousa nomear o nome de Trump, mas apoia a inflexão populista e elogia-a.
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Agora estão caladinhos. Em blogues de extrema-direita como o Blasfémias, ou da ala da direita radical nostálgica do PàF, ou em particular no Observador, não faltam artigos em defesa de Trump.
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Trumpinhos e trumpões vão continuar por cá. Sofreram uma derrota importante, mas a deslocação à direita e o populismo são a sua única esperança eleitoral e representam uma política que lhes agrada.
Pacheco Pereira, “Público” (sem link)
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