sábado, 27 de fevereiro de 2021

CITAÇÕES

 
A história de Marcelino da Mata é a de uma galeria de crimes de guerra, aliás exibidos pelo próprio em várias declarações públicas.

(…)

A dificuldade em olhar com verdade para o passado colonial não vem de hoje nem se revelou apenas neste caso.

(…)

Esse pacto [de silêncio sobre a guerra] manifesta-se nas “burocráticas omissões” como a que ficou patente no recente voto de pesar do Parlamento, validado pela direita e pelo PS.

(…)

Este “pacto de silêncio” tem-nos privado de uma abordagem madura do legado colonial e dos padrões que herdámos dele e que hoje se exprimem diversamente.

(…)

Quem ousa questionar essa narrativa [das teses lusotropicalistas] e esse revisionismo histórico, logo é apelidado de querer “politizar a história”.

(…)

Como se os processos de desmemória que abrem a porta à banalização do colonialismo e do racismo não fossem a mais política das escolhas.

(…)

À recriminação das tentativas de promover uma leitura crítica do passado no espaço público, tem-se somado ainda a fabricação histriónica de falsas polémicas.

(…)

Este silêncio e esta polarização tem vários efeitos de invisibilização.

(…)

E concorre, finalmente, para a banalização e a legitimação da extrema-direita atual. 

(…)

Está aí, no namoro explícito entre dirigentes do PSD e Ventura.

(…)

E está aí, também, no discurso de uma direita intelectual que tem vindo a relativizar de forma explícita o regime constitucional e a própria democracia.

(…)

Eis, no seu esplendor, a miséria de espírito, a abdicação democrática e a infantilidade política destas elites.

(…)

Felizmente, há um outro país que (…) está disposto a lutar por democratizar a democracia, em vez de abdicar dela.

José Soeiro, “Expresso” diário

 

Um apelo público veio propor a abertura das escolas, a começar pelas dos mais pequenos, a partir de março. 

(…)

O que mais qualifica [os signatários do apelo] não é a profissão ou a ciência, é simplesmente procurarem responder às dificuldades com o bom senso.

(…)

Ainda nem um quinto da população está protegida.

(…)

Andamos longe da imunidade de grupo e nem sabemos quanto tempo nos protegem estas barreiras. 

(…)

O problema desta nova estratégia [que passaria por aumentar massiva e rapidamente a testagem de todos os contactos de pessoas infetadas] é que foi anunciada antes de haver capacidade para a aplicar ou mesmo sem preparação técnica adequada.

(…)

Quanto ao recrutamento e treino de rastreadores, que devia ter sido multiplicado desde março passado, parece haver um atraso incompreensível. 

(…)

Espero que o Governo não ignore que estamos a perder tempo e que cada dia que passa é pior para a vida de centenas de milhares de crianças e jovens.

(…)

A escola só funciona presencialmente e não há ensino envolvente que não seja na sala de aula.

(…)

Quanto menor a idade, mais determinante é essa aprendizagem na comunidade escolar.

(…)

As sugestões daquele apelo para a abertura das escolas são certeiras: menor horário e mais diferenciado por anos letivos, vacinação de professores e funcionários, turmas mais pequenas. 

Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)

 

É ocioso perguntar (…) se o exército norte-americano condecora os torcionários de Abu Ghraib. 

(…)

Houve fanfarra na homenagem [a Marcelino da Mata], com partidos de direita a disputarem a primeira fila e todas as autoridades a curvarem-se cerimoniosamente.

(…)

[Houve quem explicasse que] em todo o caso, há mérito no paralelo entre essa coisa de matar em nome da raça e a contestação da ganância dos hospitais privados, que fecharam as portas a doentes no início da pandemia. Parece piada.

(…)

Além do medalhado, o episódio dos florões da Praça do Império é outro momento desta vertigem da saudade passadista.

(…)

E, se tudo parece uma caricatura, um número de Parque Mayer, o caso revela de que se ocupa esta direita.

(…)

Há a humilhação nacional com o elogio da ditadura, perdoemos-lhes, pois, de noite, todos os gatos são pardos.

Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)

 

Em janeiro estavam registadas no Instituto do Emprego e Formação Profissional cerca de 420 mil pessoas desempregadas. São mais 100 mil do que em janeiro do ano passado.

(…)

Foram apanhados por esta vaga de desemprego sobretudo trabalhadores em situações de precariedade.

(…)

[São] vítimas de uma dupla desproteção: não têm vínculo com as empresas para quem efetivamente trabalham e são excluídos, total ou parcialmente, da proteção social.

(…)

Todos os dias aparecem aos milhares, sem rendimentos ou com magríssimos apoios sociais criados durante a pandemia.

(…)

A pandemia realçou o lugar e o valor central do trabalho. 

(…)

Mas é uma fraude dizer-se que no futuro não haverá empresas e que os trabalhadores terão de passar a ser "colaboradores" sem contratos de trabalho, pendurados em plataformas comandadas por algoritmos.

(…)

Em muitas plataformas os trabalhadores já hoje são forçados a baixar o custo das tarefas a que podem concorrer até ao limite do suportável ou até ao prejuízo, na esperança de no futuro serem selecionados para outras tarefas.

(…)

A extensão da proteção social em caso algum compensa a perda de segurança resultante da inexistência de contratos de trabalho.

Carvalho da Silva, JN

 

Mesmo que criminosa, a História não tem direito à prescrição porque vive sob o jugo da memória. E essa não esquece.

Miguel Guedes, JN

 

O facto de se manter uma amnésia induzida sobre este acontecimento histórico [guerra colonial] faz com que ele regresse sucessivamente, e de formas nem sempre expectáveis.

(…)

O argumento formalista, [do voto de pesar pela morte de Marcelino da Mata] que consiste no elenco das condecorações, omite que foram dadas por um regime cujo derrube, justamente no quadro de uma derrota política na guerra, é a razão da democracia que temos.

(…)

Se é verdade que a guerra é a guerra, também não é certo considerar que todos aqueles que nela participaram se regiam pela mesma bitola ou tiveram os mesmos comportamentos [que Marcelino da Mata].

(…)

Com efeito, a guerra colonial foi o desfecho tardio de um império já anacrónico. 

(…)

O que é que Portugal pretende fazer para enfrentar, de forma cabal, os persistentes silêncios sobre este passado?

Miguel Cardina, “Público” (sem link)


Sem comentários:

Enviar um comentário