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Logo dois meses depois do festejo do sucesso que foi a conceção de
vacinas em tempo fulgurante, os alertas sobem de tom: segundo a UNICEF, a este
ritmo de produção o mundo só estará vacinado dentro de sete anos.
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Os planos de produção das vacinas aprovadas nos EUA e na União
Europeia (UE), as da Pfizer, AstraZeneca e Moderna, só protegerão em 2021 um
terço do mundo.
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Este bloqueio à produção tem uma origem clara. Em primeiro lugar,
as empresas detentoras das patentes (por 20 anos) não querem envolver outras.
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O resultado é que só 43% da capacidade produtiva mundial estão a
ser usados.
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Das 108 milhões de pessoas já vacinadas, só 4% são de países em
desenvolvimento, quase todas da Índia.
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Dos países mais pobres do planeta, só a República da Guiné
encomendou vacinas, 55 doses.
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O mercado só reconhece quem tem dinheiro.
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[Na África Subsaariana há] mais 32 milhões de pessoas em pobreza
extrema.
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Um ano depois de declarada a pandemia, apesar do sucesso
científico sem precedentes, chegamos à realidade do mercado.
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[Ursula van der Leyen] foi colocada nesse lugar [de presidente da
Comissão] para seguir a luz de Merkel e de Macron, e não para lhes fazer sombra.
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O resultado é que a vacinação europeia é menor do que a do Reino
Unido ou dos EUA.
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Navegando entre subsídios e facilidades, as três farmacêuticas já
anunciaram aos seus acionistas que esperam ter 30 mil milhões de dólares de
lucro em 2021.
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Sim, o mercado funciona mesmo, só que não é para garantir a
vacinação universal.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
Passaram, em dezembro, cinco anos sobre a assinatura do Acordo de
Paris para o clima, que sofreu entretanto vicissitudes políticas várias.
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A ciência estava certa: depois dessa conferência, tivemos nos
cinco anos seguintes os máximos históricos de temperatura média do planeta.
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segundo a revista [Lancet], tivemos em 20 anos um aumento de 55,7%
da mortalidade das pessoas com mais de 65 anos em consequência do calor, para
além da frequência crescente dos fenómenos extremos.
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Em duas legislaturas portuguesas, ou num ápice, temos que dar o
nosso contributo para reestruturar o sistema de transportes, a vida nas
cidades, a alimentação, a produção industrial e a organização dos serviços.
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Uma mudança civilizacional desta ordem nunca foi feita em tão
pouco tempo e contra interesses tão poderosos.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
Os jornalistas foram das poucas classes a recusar uma Ordem, em
1992.
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Sabiam que ela permitiria que o poder político definisse o
funcionamento interno de uma profissão que se quer livre.
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Com a crise do sindicalismo, as Ordens estão a ocupar um espaço
que não pode ser seu.
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A lei proíbe-as de qualquer atividade sindical.
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Quando as Ordens se transformam em Sindicatos, estão a impor a
unicidade sindical, com inscrição obrigatória e poderes disciplinares.
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Se querem ter atividade sindical e política, a inscrição tem de
ser facultativa, e devem prescindir dos poderes delegados pelo Estado.
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Passaram pelas lideranças das duas Ordens [enfermeiros e médicos]
dois antigos sindicalistas que, percebendo os riscos da promiscuidade, souberam
separar as águas.
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Não sou favorável à delegação de poderes do Estado, que depende
democraticamente de todos nós, em associações corporativas, que apenas
respondem aos seus associados.
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Em alguns países europeus, nem a inscrição nas Ordens é
obrigatória.
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Aquilo a que estamos a assistir é a uma substituição do Estado
democrático, sujeito ao escrutínio de todos, pelo Estado corporativo, em que
grupos profissionais capturam as funções públicas.
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[O reforço do poder das Ordens] é o confisco do interesse
público por interesses corporativos.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
Se num ano de recessão brutal os salários médios subiram, hoje é
tarde de São Nunca e haverá galinhas com dentes ao colo de porcos de bicicleta
amarrados a vacas a voar enquanto tossem.
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É extraordinário que o desemprego tenha fechado o ano danado de
2020 abaixo dos 7%. Sem os apoios do Estado, estaríamos provavelmente no dobro.
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Dois em cada três os mais de cem mil que desapareceram eram de
empregados com baixas qualificações e baixos salários.
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Ao desaparecerem empregos menos bem pagos, a média dos que restam
sobe.
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Depois, claro, há grande rendimento disponível que foi pago
diretamente pelo Estado, através do lay-off, ou melhorado por medidas como as
moratórias.
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Além disso, o salário mínimo subiu 5,8% em 2020, (…), há quase 800
mil pessoas a recebê-lo.
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Finalmente, houve aumentos da função pública, sobretudo por via
das progressões nas carreiras.
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[A questão] é não cairmos no engano de pensarmos que estamos melhor
e que “os portugueses” até ganharam mais dinheiro com a crise.
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Esta subida dos salários médios é [portanto] um efeito em grande
parte ilusório.
Pedro Santos Guerreiro, “Expresso” (sem link)
Governar pelos números pode funcionar por agora. Mas não tenhamos
ilusões, o prazo de validade desta opção revelar-se-á, também, limitado.
Pedro Adão e Silva, “Expresso” (sem link)
As bases ecológicas de suporte ao sistema
alimentar estão em degradação acelerada e a situação tende a agravar-se com a
crise climática.
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A crise climática exige a descarbonização de todas as atividades
económicas, mas alguns dos seus efeitos já são impossíveis de evitar, o que
obriga a medidas de adaptação ao novo clima que aí vem.
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Ao nível da produção agrícola, além da melhoria
da eficiência do uso de fatores de produção (pesticidas, adubos, etc.), é
fundamental a redução de consumos e a sua substituição por processos ecológicos.
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É essencial garantir que uma grande parte da
área [do país] não acaba abandonada por insustentabilidade social e económica,
o que só agravaria as já grandes assimetrias territoriais.
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Muitas explorações agrícolas e florestais estão
hoje a atravessar dificuldades imensas, devido à total ausência de
regulamentação do mercado de bens alimentares e agroflorestais.
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As grandes cadeias de distribuição montaram um
cartel onde estabelecem os preços que entendem e colocam os produtores a vender
frequentemente abaixo dos custos de produção.
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Este é um problema transversal a toda a
agricultura portuguesa e que os consecutivos Governos nunca tiveram a coragem
de resolver.
Ricardo Vicente, “Público” (sem link)
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