(…)
Estamos, em nome de uma ideia distorcida de justiça, a destruir a
justiça que demorámos séculos a erguer?
(…)
Olhando longe, há sempre inocentes entre as vítimas de revoluções
extraordinárias.
(…)
[O assédio] resulta da banalidade de relações de poder e de
submissão.
(…)
É um exercício quotidiano, generalizado e violento de poder que as
mulheres aprenderam a suportar.
(…)
E isto não muda sem um abalo que instale algum medo da censura
social.
(…)
O assédio continua a ser banal. Foram as vítimas que mudaram. Não
apenas individualmente, mas enquanto sujeito coletivo. As mulheres ganharam
autonomia profissional, económica, social, cultural.
(…)
[No passado os valores eram determinados por quem detinha o
poder], não eram os das vítimas desse poder.
(…)
É o poder de quem impunha esses valores que se perde.
(…)
A história está a ser reescrita por quem antes não tinha voz,
revelando o que se escondia.
(…)
Ouvimos histórias de quem tem acesso ao espaço público e armas
para se defender. É sempre uma questão de poder. O assédio quotidiano é o
sintoma. A doença é a desigualdade.
(…)
E a denúncia, com todos os seus perigos, resulta de uma mudança
nas relações de poder.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
O glifosato é um herbicida tóxico para humanos e animais e o seu
uso tem sido banido ou combatido em muitos lugares apesar dos enormes
interesses que movem a sua promoção.
(…)
Por toda a parte na Europa a questão dos efeitos danosos dos
herbicidas tanto na saúde humana como na saúde animal e nos ecossistemas levou
a um vasto movimento de recusa da sua utilização que culminará, mais tarde ou
mais cedo, no banimento destes produtos.
(…)
Estamos em ano de autárquicas e não são poucos os movimentos que
já promoveram abaixo-assinados contra a utilização de herbicidas nos seus
bairros.
Luísa Schmidt, “Expresso” (sem link)
[Em Odemira] a pandemia veio expor uma situação de enorme
fragilidade, na qual a dimensão sanitária está longe de ser a mais relevante.
(…)
O essencial do problema laboral está, por um lado, nos caminhos
recentes do trabalho na agricultura (para o qual não há mão de obra europeia
disponível) e, por outro, na forma como esses trabalhadores chegam à Europa.
(…)
Interesses contraditórios coexistem com um contexto que torna o
modelo de desenvolvimento de Odemira insustentável. E é aí que está
a singularidade do problema.
(…)
Mesmo que não existisse rigorosamente nenhuma questão laboral (…),
o caminho percorrido seria em qualquer caso insustentável.
(…)
Os serviços públicos do concelho não estão dimensionados para
acolher uma população migrante com esta dimensão.
(…)
Os recursos hídricos escasseiam e o avanço da agricultura esgotará
as reservas da barragem de Santa Clara.
(…)
Acima de tudo, as estufas não podem continuar a galgar terreno
como projetado, ameaçando a integridade ambiental e o potencial económico do
turismo.
Pedro Adão e Silva, “Expresso” (sem link)
A avidez com que a direita portuguesa olhou para a
vitória de Isabel Díaz Ayuso em Madrid é mais sinal de desespero do que de
esperança.
(…)
Quem não sabe o que é não se explica, e quem não sabe para onde
vai não dirige multidões.
(…)
Rio revela-se nas escolhas políticas uma caixa de plasticina
colorida que trai mais do que atrai.
(…)
A vitória de Díaz Ayuso em Madrid pouco pode inspirar Rui Rio, por
ela ser tudo o que ele não é. O PP de Madrid não é o PSD, é muito mais à
direita.
(…)
Rodrigues dos Santos devia aprender a lição básica: se não queres
ser visto como miúdo não te portes como miúdo.
Pedro Santos Guerreiro, “Expresso” (sem link)
O modelo agrícola industrial
hiper-intensivo tende à exploração máxima simultânea da mão-de-obra, do
território e dos recursos naturais.
(…)
O capitalismo procura incessantemente derrubar e ampliar as
fronteiras de exploração, e este caso [de Odemira] revela exactamente isso.
(…)
Podemos perguntar-nos como é possível uma Autoridade para as
Condições do Trabalho ou um Serviço Estrangeiros e Fronteiras que sabem do que
se está a passar ali há vários anos e permitem que a situação continue.
(…)
Há uma relação directa entre o que se passa ali e o modelo
agrícola hiper-intensivo.
(…)
Os modelos de produção agrícola que incluem mão-de-obra migrante
ilegal e até escravizada não são, de maneira alguma, exclusivo de Portugal.
(…)
O sistema é montado para uma exploração hiper-intensiva de
pessoas, químicos e água.
(…)
O bairro de lata ou os amontoados de contentores são o espelho
da miséria humana que se instalam ao lado das estufas que são em boa medida
espelhos de miséria ambiental.
(…)
[Muitos aspetos] são organizados por intermediários que
trabalham para empresas agrícolas nacionais e internacionais.
(…)
A responsabilidade não é só dos capatazes de circunstância e dos
oportunistas da miséria (…), mas também, e decisivamente, de quem montou o
negócio.
(…)
No Alqueva, os mega-olivais e os mega-amendoais padecem de
problemas similares.
(…)
A lógica da produção hiper-intensiva implica olhar para tudo
como factores de produção sem componente humana ou social.
(…)
Os sucessivos governos portugueses montaram o que está a
acontecer.
(…)
[Os Governos], por omissão, ao focarem toda a atenção em
habitação, condições de salubridade e intermediários mafiosos, ajudam a
garantir a manutenção [da escravatura].
(…)
Toda a gente sabe que o objectivo da maior parte destas
colheitas é a exportação.
(…)
Se [a agricultura moderna] é essencial, não pode estar exposta à
volatilidade dos mercados. Os custos com trabalho e ambiente não são opcionais.
(…)
O modelo de exploração de agricultura hiper-intensiva destrói o
meio rural, fragiliza o ambiente, baixa os salários de toda a gente e recorre
sem problemas à escravatura, para produzir maioritariamente colheitas para
exportação.
(…)
Ao depender de trabalhadores migrantes em regime de baixo custo,
a escravatura faz parte do modelo de produção agrícola hiper-intensivo em todo
o mundo.
João Camargo, “Expresso” Diário
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