(…)
Acresce, para tornar tudo mais difícil, que a imposição deste
absurdo jurídico foi uma rasteira contra a esquerda, com quem o Governo
negociara alterações ao Código, para depois se descobrir que estava a acordar
em paralelo com o patronato outras mudanças na lei, incluindo a duplicação do
período experimental.
(…)
Tanto que esta divergência foi um dos fatores que levou o Governo,
após as últimas eleições, a recusar o acordo com a esquerda para a legislatura.
(…)
Os jovens com ensino superior perderam 17% de salário na última
década e vivem agora com um desemprego de 19,4%, o triplo da média nacional,
com 15% desses licenciados a trabalhar abaixo das suas qualificações.
(…)
Para as mulheres, o fosso salarial agravou-se com a sua formação:
o desnível salarial para os homens será de 21%, mas de 32% no caso das mulheres
com mestrado.
(…)
Só pode haver uma corrida para o fundo da tabela salarial e para a
desvalorização do trabalho qualificado.
(…)
[Insistir no abuso do período experimental] mostra que nem a
feijões o Governo abdica da regra da precarização.
(…)
Não está mal, para quem anunciava que tinha chegado o momento de
começar a negociar com a esquerda uma revisão do Código Laboral.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
Começando como novela e concluindo-se como farsa, a convenção das
direitas continua a alimentar uns tuítes inflamados.
(…)
O favor que fazem à democracia é inestimável.
(…)
É certo que aquilo não teve povo, nem o cheiro do dinheiro.
(…)
O putativo chefe foi lá só para dizer que não contem com ele, mas
ficou o enxoframento.
(…)
No caso vertente, à míngua de ideias mobilizadoras ou sequer de algum
factoide coligacionista, o refrão da reunião das direitas passou a ser a defesa
do direito de expressão das tristes vítimas da censura.
(…)
Se um centro conspirador das esquerdas inventasse um sketch destes
para caricaturar os adversários, não conseguiria brilhar tanto.
(…)
[Há uma direita que] vive montada numa mesa de pé-de-galo para
evocar a fantasmagoria da ditadura, que conduzia a economia com rendas
coloniais e controlo ministerial sobre as indústrias, com partido único e
campos de concentração, com PIDE nas fábricas, miséria generalizada e os jovens
a passar a fronteira a salto.
(…)
Passados 50 anos, não conseguem pensar em mais nada senão no homem
de Santa Comba?
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
[A denúncia
de três ativistas anti-Putin à embaixada da Rússia] não
pode ser tratado como um lapso ou um erro lamentável, pedimos desculpa.
(…)
Façam buscas, apreendam servidores, façam o que for preciso porque
não bastam desculpas para contornar culpas.
(…)
Porque ou houve dolo ou houve negligência, mas em ambas as circunstâncias
há vítimas.
(…)
A insegurança e o medo são formas de terrorismo dos regimes não
democratas.
(…)
E isto não foi o Governo russo a violar liberdades de ativistas,
foi uma instituição do Estado português.
(…)
[Aqui] não houve violação de sistemas [de segurança], houve violação
voluntária pelo Estado dos direitos e liberdades de ativistas.
Pedro Santos Guerreiro, “Expresso” (sem link)
Sem funcionários, a subsidiária irlandesa da Microsoft com
“residência” nas Bermudas tem um lucro de 315 mil milhões de dólares, que
corresponde a três quartos do PIB da Irlanda. Paga zero de impostos.
(…)
Esta competição fiscal para atrair empresas é uma escolha
política, não é uma consequência da globalização.
(…)
É um salto para um poço que inviabiliza o Estado Social, põe o
fardo fiscal sobre o trabalho e obriga os países pobres a adiarem investimentos
e a eternizarem o seu subdesenvolvimento.
(…)
A sua proposta [de Biden] começou com o limite mínimo de 21% de
impostos sobre as multinacionais.
(…)
O acordo ficou-se nos 15%. Mas o diabo está nos detalhes — a que
empresas e lucros se aplica, o que é taxado e com que critérios, quem fica a
ganhar e a perder, a diferença entre taxa nominal e efetiva, o que acontece aos
offshores.
(…)
Extraordinário é que a União Europeia, incapaz de impor estas
regras no seu mercado aberto, tenha de esperar pelos EUA para dar um primeiro
passo.
(…)
As suas reformas resumem-se a privatizar, impedir apoios públicos
a empresas e desregular o mercado de trabalho, tendo como consequência um
miserável desempenho económico.
(…)
Estamos a chegar ao fim do ciclo que se iniciou nos anos 70, fez
os EUA regressarem a níveis de desigualdade dos anos 30 e está a pôr em perigo
as democracias ocidentais.
(…)
Não é IRC, mas, entre 2006 e 2018, os impostos pagos por Jeff
Bezos mantiveram-se estáveis enquanto a sua fortuna se multiplicava por muito.
(…)
Já o americano médio pagou sempre acima do seu enriquecimento.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
A forma como olhamos hoje para o período fundador do nosso regime
é relevante para enfrentarmos os desafios contemporâneos.
(…)
Num momento (…) em que a maior parte dos portugueses já nasceu
depois de 1974, julgo ser um desafio coletivo refletir sobre a consolidação do
regime.
(…)
[Celebrar 50 anos de democracia] implica olhar conjuntamente para
a epopeia coletiva que se iniciou com um golpe militar promovido por jovens
capitães.
(…)
Às imperfeições estruturais — de que a marca mais persistente são
as desigualdades —juntam-se novos riscos, associados à falência das
instituições de intermediação e a um ressentimento social que tem causas
profundas, que merecem discussão.
(…)
Olhar para os 50 anos de democracia não como a celebração
memorialística de um momento, mas enquanto projeção do futuro coletivo.
(…)
A mais importante lição da História continua a ser que os homens
não aprendem muito com a História.
Pedro Adão e Silva, “Expresso” (sem link)
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