domingo, 20 de junho de 2021

“O MILAGRE DA ECONOMIA SEM POLÍTICA”

 
De um artigo de grande qualidade, com o título acima, assinado por Fernando Rosas, retirámos as seguintes citações do Historiador e Professor emérito da Universidade Nova de Lisboa, que deixamos à consideração dos frequentadores deste blog.

Considero ser um exercício com utilidade pedagógica discutir a substância da intervenção do economista Nuno Palma na reunião do Movimento Europa Liberdade (MEL) ocorrida há dias. 

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Ficamos a perceber que para uma certa direita lusitana o sagrado valor da liberdade de expressão só se aplica a ela mesma.

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E não perceberem que o ridículo mata é o sintoma mais evidente do impasse em que se encontram.

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Política à parte, a ditadura teve um desempenho económico e até social positivo e superior ao da democracia que se esforça por ocultar esta realidade.

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O subtexto essencial deste discurso é separar e com isso marginalizar a “execranda política” do regime do seu modelo económico para poder apresentar este último como de exemplar atualidade.

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A ideia de que a “barrela” económica e social de que o país precisa é incompatível com a subsistência da democracia está aí bem presente no debate público.

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É sabido que entre o final dos anos 20 (Salazar torna-se o “ditador das finanças” em 1928) e o termo da II Guerra Mundial a economia portuguesa conhece um desenvolvimento económico medíocre.

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[O PIB per capita varia] entre o 1% e os 2%, com queda dos salários reais, pobreza extrema, desemprego, taxa de analfabetismo acima dos 40% em 1950, cavados contrastes sociais. 

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É a política, o “saber durar” salazarista que comanda a economia e arbitra os interesses quer quanto aos efeitos estagnantes, quer nos surtos modernizantes.

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A natureza política da ditadura é inseparável das estratégias económicas e sociais que a sustentam.

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Será, na história recente do país [desde a segunda metade dos anos 50 até ao início dos anos 70], como vários autores têm salientado, o período em que se verificou uma aproximação real em relação às outras economias do Ocidente europeu.

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[Trata-se de] um típico modelo de modernização conservadora, isto é, de crescimento económico sem democracia política, sem justiça social e sem sustentabilidade a prazo.

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Ao contrário do que sugere o economista Nuno Palma, a violência política antidemocrática e anti-social está no centro do modelo de modernização económica tardia do regime.

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Por isso mesmo, os efeitos do modelo não são só os que os números agregados das estatísticas revelam.

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A verdade é que a economia continuou a depender principalmente das indústrias tradicionais.

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Mesmo nas novas “indústrias de base”, protegidas pela supressão da concorrência, o seu arranque é marcado por pesadas ineficiências.

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Precisamente uma das características marcantes desta modernização conservadora é que o crescimento global do produto e do rendimento não impediu a manutenção de profundas desigualdades sociais a todos os níveis, só explicáveis pela natureza económica e política do regime.

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Ao chegar a 1973, o salário médio nacional era 25% do alemão, 29% do francês e menos de metade do espanhol.

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As famílias mais ricas (4,9 % do total) concentravam um quarto do rendimento familiar global.

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36% dos alojamentos familiares não tinham luz elétrica e 41% não dispunham de saneamento básico.

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 A taxa de mortalidade infantil rondava os 50%0 (permilagem) e era a mais alta da Europa.

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Com cerca de 29% de analfabetos em 1970, Portugal só era ultrapassado pela Turquia.

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Entre 1960 e 1973 emigram mais de um milhão e meio de portugueses, fugindo à pobreza ou à guerra.

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Como se fosse possível, por estranha magia, separar a economia do regime salazarista da ditadura que pesou sobre o país durante quase meio século do século XX.


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