(…)
[É] fácil perceber que uma multiplicidade de nomes falsos e
pseudónimos pertencem à mesma pessoa, para se criar a ilusão da quantidade.
(…)
Há gente que faz isto como quem respira, verdadeiros
militantes das caixas de
comentários.
(…)
Muitos dos mecanismos deste tipo não são exclusivos da
direita radical, existem também à esquerda, mas a maré tribal que está a subir
é a da direita radical, associada ao populismo antidemocrático.
(…)
[Na URSS] a dissidência era considerada uma doença mental.
(…)
A ideia apresentada de forma simplista era esta: como é
possível, sem padecer de uma qualquer doença mental, pôr em causa um regime
perfeito de sociabilidade política como o socialismo soviético.
(…)
Este argumento soviético é hoje muito usado no mundo do ataque
pessoal da direita radical.
(…)
Como não é possível ver a essência corrupta da democracia,
descrita como o “sistema”, como é possível não se aceitarem as teses
“científicas” sobre a realidade, como, em suma, se pode discordar sobre o mundo
do Mal que nos governa sem se ser ou servil ou doente ou as duas coisas?
(…)
É um estilo cada vez mais vulgar, que acompanha a crescente
incapacidade de aceitar posições numa conversação democrática, ou sequer
admitir que ela possa existir porque isso é aceitar o “sistema”.
(…)
Se retirarmos o psicologismo, e a sua forma superior no
argumento da dissidência ou da discordância como doença mental, não sobra quase
nada.
Pacheco Pereira, “Público” (sem link)
Países há que criminalizaram a solidariedade de ONGs que
procuram salvar vidas no Mediterrâneo, que demonizam os migrantes, que os
devolvem em massa sem sequer haver a oportunidade de apresentarem as suas
razões de viagem forçada e de entrada ilegal.
(…)
Continuam a faltar rotas legais e seguras e, por isso, tantas
famílias, mesmo com recém-nascidos, pagam a traficantes e arriscam viagens
perigosíssimas, deserto e mar fora, a fugir do desespero.
(…)
Continua a faltar a partilha das responsabilidades, como
exige a Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, no acolhimento a
refugiados.
(…)
Não aproveitamos a riqueza e a diversidade cultural,
espiritual e a força de trabalho que [os refugiados] nos vêm dar.
(…)
Podíamos ser nós, em Cabinda, na Venezuela, na Síria ou em
qualquer outro lugar a ter de deixar tudo para trás e fugir com a nossa
família. Como gostaríamos de ser tratados?
Pedro A. Neto (Amnistia
Internacional), “Público” (sem
link)
As
inovações legislativas horripilam muitos catedráticos de Direito e muitas vezes
por boas razões.
(…)
Mas
sem recurso a métodos heterodoxos será sempre difícil provar crimes de
colarinho branco com alguma sofisticação.
(…)
Vara
foi apanhado, mas muitos nunca o foram nem com estas leis o serão.
Pedro Santos Guerreiro, “Expresso” (sem link)
As teses “revisionistas” do Estado Novo,
veiculadas na convenção do MEL, deixaram um lastro muito para lá do encontro,
com trocas de mimos entre colunistas.
(…)
A
necessidade de retirar alguma carga negativa a uma ditadura de 48 anos, criando
a sensação de mera evolução para o desenvolvimento, lamentavelmente
interrompida pelo PREC, é política e presente.
(…)
[O PPD/PSD]
apesar de ter herdado boa parte dos quadros da Ação Nacional Popular, que lhe
deram implantação local, na sua cúpula estavam alguns dos que, na ala liberal,
combateram a ditadura por dentro.
(…)
A
extrema-direita, a que não dávamos esse nome, sempre existiu.
(…)
No
início deste século, a geração que nasceu depois do 25 de Abril chegava à
política e parecia estar em condições de superar o passado incómodo [da
direita]. Mas as teses revisionistas voltaram em força.
(…)
O
problema aritmético que se põe ao PSD põe-se a quase toda a direita europeia:
sem os extremistas não chega ao poder.
(…)
Isso
implica, para que a aliança estratégica se faça, uma reconstrução do passado.
(…)
A
mesma direita que usa “comunista” e “socialista” sem qualquer atenção a nuances
exige um rigor milimétrico quando fala de regimes autoritários de direita que partilharam
estética, valores e um tempo histórico.
(…)
E
assim, por milagre, o fascismo nunca existiu.
(…)
[O
Estado Novo terá sido] uma coisa morna, sem assassinos, torturadores e censores
que atrapalhem as alianças que hão de vir.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
Poucos
vírus são tão letais para a democracia como a doença infantil do radicalismo.
(…)
Todos
aqueles que, em algum momento optam pela prudência do silêncio ou escolhem a
moderação, ficam numa terra de ninguém, cada vez mais rarefeita.
(…)
Quando
não é letal, o vírus do radicalismo deixa sequelas profundas, difíceis de
superar.
(…)
O que
é motivo de reflexão é o exercício de tiro ao alvo, com adversários políticos
na mira, que a IL promoveu no seu arraial.
(…)
Mas há
um lado simbólico incontornável: a ideia de que, hoje, o adversário é um alvo a
abater.
(…)
Ora,
quem abate adversários políticos, mesmo que em sentido figurativo, rapidamente
os transforma de interlocutores em inimigos, promovendo uma incomunicabilidade.
Pedro Adão e Silva, “Expresso” (sem link)
Suprimir
a disseminação do vírus é essencial para reduzir o número de novas variantes,
porventura capazes de contornar a imunidade criada pelas vacinas existentes.
(…)
Absurdamente
treze países garantiram para si vacinas suficientes para imunizar todas as
pessoas com mais de 65 anos em todo o mundo.
(…)
Para
garantir o acesso às vacinas de uma forma global precisamos de líderes que
passem das fotografias de circunstância e dos discursos pseudoaltruístas para
ações concretas.
Maria Manuel Mota, “Expresso” (sem link)
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