Na Região de Lisboa e Vale do Tejo, onde já se ultrapassou há vários dias os 300 casos por 100 mil habitantes, havia há poucos dias mais de 1000 inquéritos por realizar.
(…)
Portugal
está com a menor capacidade de rastrear e isolar contactos de pessoas infetadas
com a covid-19 desde que estas contas começaram a ser divulgadas, em abril.
(…)
A
explicação dos especialistas é esta: cansaço e, sobretudo, falta de pessoal.
(…)
Contrata-se
temporariamente, como se fez no início do ano, dispensa-se quando a pandemia
decresce.
(…)
Mais
eficaz do que, por exemplo, a panóplia de controversas medidas anunciadas para
restaurantes e cafés, seria investir a sério, e de imediato, na identificação e
no isolamento das cadeias de contágio.
(…)
É
fundamental e faz toda a diferença ter um dispositivo de saúde pública
reforçado, com equipas em número suficiente para responder a esta nova vaga.
(…)
É
preciso muito mais capacidade na testagem, no rastreamento, no investimento na
saúde pública.
José Soeiro, “Expresso” Diário
Em
conversa com o PÚBLICO e a Renascença, ia explicando que não estava ressentido
com o voto contra do Bloco de Esquerda no
último Orçamento do Estado (OE 2021).
(…)
É
sabido que, em diversas questões, o Governo se recusa até hoje a aproximar-se
das propostas do Bloco. É esse o caso nas carreiras do SNS, bem como no combate
à precariedade e na proteção legal dos trabalhadores.
(…)
Duarte Cordeiro acaba por reconhecer que o Governo rejeitou
algumas propostas do Bloco de Esquerda para depois as aplicar.
(…)
[Duarte Cordeiro] foi o
primeiro governante a assumir que a manta do OE 2021 era muitíssimo curta para
as necessidades do país face à crise e que deixava sem resposta dezenas de
milhares de pessoas, particularmente trabalhadores independentes.
(…)
Aliás, a realidade já tinha desconstruído outro argumento:
afinal, não faltava o dinheiro!
(…)
O dinheiro existia, a vida demonstrou-o e Duarte Cordeiro
também o reconheceu na entrevista.
(…)
Parte da intransigência do Governo com o Bloco, percebe-se
agora, foi porque não quis abdicar de uma enorme
almofada financeira para gastar como bem entender, um gigante cheque em
branco ao executivo.
(…)
Dito de outra forma, permite uma execução orçamental
completamente opaca e marginaliza o Parlamento.
(…)
O Governo faz o que quer com este dinheiro, sem qualquer
controle democrático.
(…)
O
Governo continua a fazer uma gestão orçamental que corre atrás dos problemas,
só age no limite e, com isso, deixa a crise crescer e bater à porta de milhares
de pessoas.
(…)
Pela minha parte, julgo que nenhuma negociação séria pode
assentar no princípio do cheque em branco.
Pedro Filipe Soares, “Público” (sem link)
O setor a que pertence a Altice é um dos
que beneficiaram com o novo contexto [criado pela pandemia]. O seu êxito tem
pouco a ver com as altas competências de que os seus gestores se gabam.
(…)
No final do mês passado [a Altice]
anunciou o primeiro despedimento coletivo na história da "PT".
(…)
Na passada semana, o secretário de Estado
da Segurança Social afirmou que a Autoridade para as Condições do Trabalho
(ACT) fez, nos últimos seis anos, 269 visitas inspetivas à empresa, das quais
resultaram 101 contraordenações e coimas de mais de 422 mil euros.
(…)
A Altice está, sem dúvida, no pelotão da
frente do assédio moral.
(…)
A Altice é herdeira da PT, empresa que,
desde os anos noventa até ao início da segunda década deste século (com o
processo de privatização pelo meio), esteve no centro de um lamaçal de
compadrios e promiscuidades.
(…)
O país não pode condescender com
despedimentos decididos por unilateralismo patronal.
(…)
O caminho seguido tem sido o de reduzir o
emprego com vínculo à empresa, substituir os trabalhadores mais velhos por
jovens com salários baixos e sem direitos, externalizar atividades.
(…)
Os que têm vínculo direto à empresa são
menos de um terço dos que existiam com esse vínculo, nessa altura [da
PT].
(…)
Merecem solidariedade as lutas dos
trabalhadores da Altice, designadamente a sua greve do próximo dia 21.
[A direita radical achar] que existe em Portugal, em 2021, uma ditadura da “extrema-esquerda” conduzida
pelo PS, em conluio com o PCP e o BE, e ocultada por uma manipulação brutal da
comunicação social, comprada com “almoços
grátis”, devia ser considerado do domínio da paranóia política.
(…)
Não há meio-termo, ou se é militante contra a “ditadura” ou idiota útil.
(…)
O
ataque ao “politicamente
correcto”, que realmente existe, passa para uma amálgama e uma
demonização de tudo o que não seja a direita radical que defende.
(…)
As
ciências sociais, como a sociologia, eram proibidas antes do 25 de Abril como
disciplinas académicas de pleno direito.
(…)
[Atualmente],
por exemplo, no direito e na economia há um peso significativo da direita, o
que não lhes suscita preocupação.
(…)
A composição das redacções e os produtos finais têm hoje uma presença
considerável desta direita radical.
(…)
[Na direita radical] são ultra-sensíveis àquilo que chamam “liberdade
económica” e bastante indiferentes à liberdade política.
(…)
Vai-se
normalizando o cerco. O que é que significa quererem perseguir um deputado por
“ofensa aos símbolos nacionais”?
O que é que significa haver um “problema”
com os professores “esquerdistas”,
identificados nome a nome, por um participante na Academia do Chega? (…) Ou
quererem fazer um expurgo ideológico dos programas escolares à moda da Polónia
ou da Hungria?
(…)
A grande diferença actual é que discursos que estavam
acantonados na extrema-direita passaram para o mainstream da direita.
(…)
Há um
efeito de permeabilidade crescente a posições, teorias e falsidades que estavam
até agora circunscritas a certos sectores da extrema-direita, mas estão a
migrar para a direita radical.
(…)
Houve sempre quem tivesse saudades da Mocidade Portuguesa e
dos seus “valores” (…) ou quem louvasse a ditadura e as suas virtudes
económicas em contraste com a democracia, quem (…)
(…)
A
questão hoje é que alguém anda a educar muitos ouvidos para esta canção. E não
são inocentes úteis. É gente que sabe muito bem o que quer.
(…)
O problema deles é que também há gente que sabe muito bem o
que não quer.
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