domingo, 25 de julho de 2021

MAIS CITAÇÕES

 
A Groundforce, que era da TAP, foi oferecida a Alfredo Casimiro, um empresário com boas relações com Miguel Relvas.

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Veio a pandemia e a Groundforce começou a ter dificuldades em pagar salários.

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Casimiro era mais um capitalista sem capital. Não arriscava dinheiro seu, nem vendia a quem o fizesse. 

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Enquanto ele arrastava os pés na informação a dar aos bancos, a TAP, com 49,9% da Groundforce e responsável por 70% da sua faturação, adiantou-lhe €12 milhões por serviços futuros.

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Perante um acionista pouco amigo de contas certas, a TAP quis as ações como garantia.

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A horas de se fechar o acordo, descobriu-se que as suas ações estavam penhoradas por outros bancos, facto que o acionista escondeu.

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A TAP comprou, por €7 milhões, o equipamento da Groundforce, com possibilidade de recompra. Casimiro aceitou, mas, com o dinheiro já na conta, ficou com o material e não paga pelo aluguer.

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É neste cenário que trabalhadores desesperados fizeram greve. 

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Apesar de já todos terem percebido que tipo de empresário é Alfredo Casimiro, incluindo os passistas que ali o meteram, o mantra foi o de que isto é uma guerra pessoal do ministro.

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O habilidoso Casimiro contava com um ministro que pagasse para não arranjar inimigos errados, deixando guerras por fazer.

Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)


As desigualdades são uma marca distintiva da sociedade portuguesa. A pandemia veio acentuar esta marca que é vital, existencial e de recursos. 

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Sem maioria, sem acordos parlamentares e sem coligação, este é um Governo de Assembleia, obrigado a uma negociação permanente e por definição incerta.

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Um Governo de Assembleia precisa de ter iniciativa permanente, sob pena de outros assumirem essa iniciativa. 

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Os partidos estão a transferir para o Parlamento reivindicações importantes e legítimas de natureza sindical.

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É objetivamente desvalorizada a negociação entre Governo e sindicatos, que neste momento parece não existir.

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As sociedades menos desiguais são aquelas onde o diálogo e a capacidade de negociação com os sindicatos é maior. 

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Somos desiguais também porque temos baixa densidade sindical e pouca tradição de negociação empresarial, sectorial e tripartida.

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Ao secundarizar o diálogo com os sindicatos [este Governo] está a dar um contributo grande para a reprodução das desigualdades em Portugal. 

Pedro Adão e Silva, “Expresso” (sem link)

 

O último debate no Parlamento antes de férias foi um bocejo, todos exaustos com isto da pandemia, todos, quase todos, todos menos um.

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O primeiro-ministro tomou as vitaminas e, triunfal, ali mudava de discurso político.

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António Costa falava com a desenvoltura súbita de um pós-falido que recebe uma herança e num átimo recupera a prosápia da opulência.

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Isto é dinheiro que nos cai do céu e é o único dinheiro para investimento, que é aquilo de que o país mais precisa para sair da cepa torta e deste PIB raquítico e destas dívidas monstras. 

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Com tanto dinheiro os valetes portam-se como se fossem reis.

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O próximo Orçamento será de novo negociado à esquerda e a legislação do trabalho será moeda de troca.

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[Costa] sabe que aquilo que BE e PCP querem é “proibir despedimentos”.

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Estão a ver o filme? Claro que estão, é o filme de outras vezes, das festanças com fundos de Bruxelas. 

Pedro Santos Guerreiro, “Expresso” (sem link)


As trombetas da guerra fria voltaram a soar. O Presidente dos EUA anuncia aos quatro ventos a nova cruzada.

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Trata-se da “guerra” entre democracias e autoritarismos (ditaduras ou governos de democracia truncada pelo domínio absoluto de um partido).

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A realidade de muitos países considerados democráticos mostra que a democracia atravessa uma profunda crise e que a distinção entre democracia e autoritarismo é cada vez mais complexa.

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Em vários países do mundo estão a ocorrer protestos nas ruas para defender a democracia e lutar por direitos violados direitos esses quase sempre consagrados na Constituição.

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Muitos destes protestos dirigem-se contra dirigentes políticos que foram eleitos democraticamente, mas que têm exercido o cargo de modo antidemocrático, contra os interesses das grandes maiorias.

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À primeira vista, há algo de estranho nestes protestos, porque a democracia liberal tem como característica fundamental a institucionalização dos conflitos políticos, a sua solução pacífica no marco de procedimentos inequívocos e transparentes.

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A perplexidade instala-se. Se, por um lado, é crucial manter a diferença entre democracia e autoritarismo, por outro lado, os traços autoritários das democracias realmente existentes agravam-se cada dia que passa.

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Nas democracias, a preciosa liberdade de expressão está cada vez mais ameaçada pelo controlo dos media por parte de grupos financeiros e outras oligarquias.

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Os regimes autoritários eliminam a independência judicial; as democracias promovem perseguições políticas por via do sistema judicial.

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É cada vez mais comum que quem tem poder económico e social tenha também o poder de manipular os procedimentos para garantir os resultados que pretende.

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Na Europa, Steve Bannon, um ex-consultor de Donald Trump, promove forças de extrema-direita, antieuropeístas e católicas conservadoras que se opõem ao Papa Francisco.

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De tudo isto resulta uma situação paradoxal: enquanto o discurso da guerra fria exalta a diferença entre democracia e autoritarismo, as práticas das potências hegemónicas não se cansam de reforçar os traços autoritários, tanto das democracias como dos regimes autoritários.

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A Europa faria bem se se convencesse de que a nova guerra fria tem pouco a ver com democracia versus autoritarismo.

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A Europa (…) teria todo o interesse em manter uma relativa distância em relação a ambos os antagonistas e prosseguir uma terceira via de relativa autonomia.

Boaventura Sousa Santos, Público (sem link)


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