(…)
[Paulo]
Freire merece ser homenageado no seu contributo para o conflito e a
emancipação.
(…)
Mostrou-nos
como os processos de alfabetização não são mera didática de letras e números,
mas aprendizagem em comunhão para nomear o mundo e a nossa condição nele, para
ler a sociedade e escrever a nossa própria história.
(…)
[Paulo]
Freire esteve na Guiné, encontrou Amílcar Cabral e identificou as formas
coloniais de “invasão das consciências” que perduraram mesmo depois do
colonialismo político e que fazem dos oprimidos hospedeiros dos seus próprios
opressores.
(…)
[Paulo]
Freire inspirou muitos processos de alfabetização integral e de animação
cultural, como aconteceu em Portugal no período pós-revolucionário.
(…)
Ele,
que foi nomeado Patrono da Educação Brasileira em 2012, é outra vez perseguido
e proibido pelo poder [bolsonarista].
José Soeiro, “Expresso” Diário
Não há
mistério no facto de a zona de Lisboa e Vale do Tejo ser onde se regista a
maior concentração de pessoas sem médico de família.
(…)
Não se
conseguem atrair médicos para virem trabalhar para Lisboa.
(…)
Acho
que se deve levar a sério o alerta que esta dificuldade revela. Explica uma das
razões, talvez a principal, para a surpreendente derrota do PS na capital.
(…)
[Lisboa
terá perdido mais de 1,4% da população] pois também recebeu estrangeiros que
vieram para comprar ou alugar casa e viver.
(…)
A
população estrangeira no concelho cresceu 305%, nesta década.
(…)
Um
décimo da população de Lisboa pode ter abandonado a cidade ao longo de uma
década, foi um terramoto populacional. O PS expulsou os seus eleitores da
cidade.
(…)
[Alguns]
terão sido vítimas da gentrificação através da sua mecânica implacável,
que vai da lei Cristas sobre os arrendamentos (…) até ao incentivo mais
poderoso, a multiplicação do Alojamento Local.
(…)
Lisboa
tem mais alojamentos locais que Barcelona, (…), ou mesmo que Madrid.
(…)
O
centro de Lisboa é hoje uma montra para turistas.
(…)
A
capital já não é uma cidade acessível à famosa classe média.
(…)
A
fronteira de Lisboa, que é o preço, tornou-se a questão política determinante
das eleições.
(…)
O
carrossel dos preços recomeçou, no segundo trimestre de 2021 a subida do índice
da habitação foi 6,6%.
(…)
Berlim
baniu o Airbnb e, no final de setembro, 56% dos berlinenses determinaram em
referendo a expropriação municipal dos grandes fundos imobiliários com mais de
3000 fogos, para colocar 240 mil habitações no mercado do arrendamento a preços
controlados.
Francisco Louçã, “Expresso” (sem link)
No quadro da discussão do Orçamento do Estado (OE) para 2022, a Direita,
numa pluralidade que vai do Chega ao PSD, apresenta-se sintonizada na defesa de
um caderno contraditório.
(…)
O país precisa de políticas articuladas
na resposta a uma crise que é económica e social. Estas duas componentes são um
todo.
(…)
A Direita faz tábua rasa daquele princípio.
(…)
Também não espanta a sintonia entre este
caderno, tão consensual entre as diversas forças de Direita, e o pronunciamento
de alguns representantes de organizações patronais.
(…)
Esta semana tivemos, mais uma vez, o
presidente da CIP a pôr travões a um aumento minimamente digno do salário
mínimo nacional e a uma melhoria geral dos salários, como se esse fosse o
grande problema das empresas.
(…)
[Numa semana] em que a revista
"Forbes" deu a conhecer que, em 2020, os mais ricos do Mundo
aumentaram os seus lucros como nunca tinha acontecido, como é possível
continuar a reclamar-se baixos salários e pensões, e diminuição de direitos
laborais e sociais?
O episcopado francês demonstrou "vergonha" e pediu
"perdão" às mais de 300 000 vítimas de pedofilia, menores abusados em
instituições da Igreja Católica francesa entre 1950 e 2020.
(…)
Qual a razão que levou cerca de 3000
pessoas ligadas à Igreja Católica a abusarem sexualmente de menores, à média de
4300 crianças/ano? Desde logo, o sentimento de protecção e de impunidade.
(…)
Tudo o que [o episcopado francês]
não fizer internamente para erradicar estes comportamentos, a partir de agora
que todos nós sabemos que sabe, fará caminho directo ao inferno.
(…)
Mais do que um acto de humildade e
reconhecimento do erro perante o outro, pedir desculpa ou perdão é um acerto
com a História.
Dezoito
meses de pandemia têm-lhe servido [ao Governo] para manter congelado um diploma
sem o qual a geometria do SNS vai variando ao sabor do que de momento é
avaliado como carenciado de resposta.
(…)
Tendo
passado mais de dois anos sobre os acontecimentos que levaram à aprovação da
LBS [Lei de Bases da Saúde], as lições desse processo ficaram por aprender.
(…)
Como
se substituir uma lei de 1990, que abriu a porta à promiscuidade entre o sector
público e o sector privado, fosse matéria que podia esperar mais trinta
anos.
(…)
É inquestionável
que cabe ao Governo produzir a legislação que regulamente muitas das
disposições da LBS, entre elas a elaboração do ESNS [Estatuto do Serviço
Nacional de saúde].
(…)
Será o
ESNS que estabelecerá, conjuntamente com a política de saúde decorrente do que
ficou consignado na LBS, o modelo de organização e funcionamento em que aqueles
recursos podem ser mais bem aproveitados e aplicados.
(…)
A política de saúde é muito mais do que cuidados primários,
cuidados hospitalares e cuidados continuados.
(…)
Começa
a tornar-se incompreensível e absurdo haver deputados que vão discutir o
orçamento do SNS para 2022 sem que estejam reunidos os pressupostos que tornem
essa discussão coerente.
(…)
Sabemos quem
anda a fazer esse investimento [se sucessivos adiamentos da entrada em vigor do
ESNS], só não se
percebe que quem devia estar alertado para isso não dê conta do que se está a
passar.
Cipriano Justo, “Público” (sem link)
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