(…)
Este
salto económico [da Coreia do Sul] teve esse preço de submissão e destruição
social.
(…)
Desde
2015, generalizou-se entre os jovens sul-coreanos uma designação para tal êxito
económico: isto é o “inferno Jaseon”, dizem.
(…)
Este
“inferno Jaseon” é também o capitalismo e a sua fantasia meritocrática, que
promete que se pode subir condenando os adversários, toda a gente joga contra
todos e o egoísmo é a virtude.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
De tão habituados que estamos, em resultado de anos e anos de garrote nos
salários e quase estagnação económica, temos dificuldade em conceber uma outra
economia em que seja difícil comprar.
(…)
Em linguagem da economia [até há bem
pouco tempo] foram tempos de escassez da procura.
(…)
Muitas empresas sentem dificuldade em
comprar matérias-primas e outros materiais e em contratar trabalhadores
dispostos a aceitar o salário e as condições de trabalho por elas oferecidos.
(…)
trabalhadores portugueses, em particular
jovens, procuram salários decentes no estrangeiro, logo escasseiam em Portugal
em diversos setores.
(…)
[Há empresas que] deslocam os seus
trabalhadores para o estrangeiro em vaivém semanal, semelhante ao anteriormente
praticado em território nacional.
(…)
Os trabalhadores que se deslocam contam
estatisticamente para o emprego em Portugal. Todavia, não é em Portugal que
trabalham e não é aqui que criam riqueza.
(…)
Só à luz destas novas tendências é
possível compreender que, numa economia que se mantém abaixo do nível de 2019,
exista menos desemprego.
(…)
A desvalorização salarial praticada ao
longo de décadas é uma grande causa do bloqueio da economia portuguesa.
(…)
Empresários que se queixam da falta de
trabalhadores persistem nos baixos salários e na defesa de um perfil da
economia condenado.
(…)
Uma economia de pernas para o ar
custa-lhe a produzir e a crescer, mesmo quando existe procura e recursos
disponíveis para o investimento e para o consumo.
Fugir ao confronto pode não ser uma
especialidade, mas é, neste momento, a forma mais hábil de passar entre os
pingos da chuva, aquela que se abaterá sobre tudo aquilo em que Costa mexa até
31 de Janeiro.
(…)
Recentes estudos de opinião revelam que
boa parte dos portugueses distribuem a responsabilidade do chumbo orçamental
pelo espectro político, apontando o papel do Governo e do PS como principal
motor da crise.
(…)
Percebe-se que será o voto útil à
Esquerda do PS o único que poderá destruir este namoro político [de Costa] pelo
Bloco Central.
(…)
Uma guinada à Direita de um futuro
Governo do PS é o fantasma ou diabo político que a Esquerda terá de saber
agitar.
(…)
Desde 2015, tivemos um conjunto
extraordinário de "cinco primeiras vezes" que fizeram migrar a
política portuguesa para longe do marasmo das soluções de sempre.
(…)
A maturidade e compreensão da democracia
parlamentar permitiu um Governo resultado de maiorias sem o partido mais votado.
(…)
Os entendimentos à Esquerda foram e
poderão ser, uma vez mais, a solução popular para mais um período de governabilidade.
Nos
últimos dias, Portugal foi notícia na imprensa internacional. Por boas razões:
a lei que proíbe os patrões de contactarem os trabalhadores durante o tempo de
descanso.
(…)
Em
junho desse ano (2017), o Bloco apresentou, pela primeira vez, um projeto para consagrar no Código do Trabalho o dever
de desconexão por parte das empresas.
(…)
Além
de significar uma invasão do tempo de descanso e uma colonização do tempo
livre, esta hiperconetividade profissional agrava os fenómenos de esgotamento e
perturba a vida privada e familiar.
(…)
A [proposta]
do Bloco também foi chumbada com os votos contra do PS, PSD e CDS-PP.
(…)
[Em
2017] ficou tudo na mesma. Mas a ideia do “dever de desconexão” foi fazendo o
seu caminho.
(…)
O
simples facto de os trabalhadores receberem reiteradamente, fora do seu
horário, contactos por parte da empresa é já um gesto de constrangimento e uma
pressão.
(…)
Foi
isso que aconteceu agora [o dever de não conexão por parte dos empregadores], à
boleia da legislação sobre o teletrabalho.
(…)
A nova
norma sobre desconexão, que será inscrita no Código do Trabalho, consagra o
dever dos patrões se absterem de contactar os trabalhadores.
(…)
Há
muito a fazer para garantir mais respeito pelos tempos de trabalho e para
ganharmos mais tempo para nós.
(…)
[A
nova lei com forte intervenção do Bloco] faz com que os trabalhadores tenham do
seu lado uma arma mais para esgrimirem na luta pelo direito a viver para além do
trabalho.
José Soeiro, “Expresso” Diário
O que
está em causa no PSD não é apenas uma questão de liderança, nem sequer de
táctica política, mas uma questão de identidade do partido e de fidelidade à
intenção dos seus fundadores.
(…)
Os fundadores do PPD criaram um partido sui generis que combinava
três tradições: a tradição do liberalismo político, a da doutrina social da
Igreja e do personalismo cristão e a da social-democracia.
(…)
[A doutrina social da igreja] sabe,
claramente, que entre patrões e operários não há igualdade – é uma relação cuja
desigualdade é devastadora para a liberdade e que só diminui com direitos.
(…)
O PSD tem alguma responsabilidade no acentuar dessa
desigualdade, em particular nos anos do
Governo Passos-Portas-troika.
(…)
[O personalismo cristão] pode
ser resumido a uma afirmação simples: o homem e a mulher são “pessoas” e não
podem ser reduzidos à qualidade de cidadão.
(…)
Ser liberal significava amar e defender a
liberdade, mas os fundadores do PSD sabiam a diferença entre a liberdade política
e a liberdade económica no sentido restrito, ou, na sua versão moderna e mais
perversa, a redução da “liberdade” ao estado mínimo e ao que hoje se classifica
de “neo-liberalismo”.
Pacheco Pereira, “Público” (sem link)
Sem comentários:
Enviar um comentário