(…)
Um
coração em formol será transportado para gáudio imenso do governo de Bolsonaro
que aqui encontra a ocasião de um festim necrófago galvanizador da sua base de
apoio, fazendo, em plena pré-campanha eleitoral, como os ditadores romanos.
(…)
Com a ajudazinha do fervor monárquico e conservador de Rui
Moreira e da cumplicidade e covardia política do executivo camarário!
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Atente-se
que o órgão será transportado pela Força Área Brasileira e será recebido no
Palácio Planalto, em Brasília, no dia 22 de agosto, com “honras militares”
devidas a um chefe de Estado.
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A instrumentalização é total e descarada.
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O
governo Bolsonaro mata indígenas, tortura nas prisões, assassina com as
milícias (…), persegue homossexuais.
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É um inequívoco ato de apoio simbólico e político da
autarquia do Porto ao atual governo brasileiro.
João Teixeira Lopes, “Público” (sem link)
Embora
o Governo pudesse ter ido mais longe, não teve a mesma ousadia de há três anos,
quando foi aprovada a Lei de Bases da Saúde – BE e PCP estavam lá para puxar
pelo Governo.
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Há que
dizer que tanto a lei de bases como o estatuto [do SNS] são sempre instrumentos legislativos com uma
esperança de vida longa.
(…)
O que dificilmente poderá ser alterado é o espírito que
atravessa todo o decreto-lei.
(…)
O
conhecimento tanto técnico como científico está suficientemente consolidado
para não se praticarem omissões graves, estando a governante de posse de toda a
informação e ter sido alertado para o facto.
(…)
O
legislador sabe que a mais importante métrica para avaliar o desempenho do SNS,
e do sistema de saúde em geral, é a contribuição que dá para o aumento da
esperança de vida saudável.
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Atrevo-me
a dizer que, se não fosse terem ficado consignados na lei de bases, os Sistemas Locais de Saúde teriam sido
definitivamente eliminados da face da terra.
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Existe
evidência suficiente de que a saúde depende de vários factores de produção, da
genética ao grau de ensino, à dieta alimentar, ao exercício físico, à
convivência social.
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O mais
importante, porém, não está lá [nos Sistemas Locais de Saúde]: como vão dar a
sua contribuição. Sem essa especificação os SLS não passam de um adorno,
necessário para cumprir uma obrigação, a de
obedecer a uma exigência da lei de bases.
Cipriano Justo, “Público” (sem link)
[No Qatar] as violações dos direitos mais básicos dos
trabalhadores, enquanto trabalhadores e enquanto pessoas, são graves e são uma
constante.
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Salários
muito baixos (a maioria próxima do salário mínimo que não chega a 250 euros),
seis dias de trabalho semanais com sobrecarga horária e exposição a altas
temperaturas.
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Relatos há que atestam que o dia de descanso não chega a ser
concedido aos trabalhadores.
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Um quarto acolhe 12 trabalhadores e em condições degradantes.
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Se
usarem o telemóvel durante o período de trabalho, poderão ter como penalidade
um ou dois meses de perda de retribuição.
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Sabe-se que, na última década, morreram a trabalhar milhares
de migrantes, mas não existem números oficiais.
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Por
causa do Mundial, o governo aprovou nova legislação laboral. Sucede que não a
regulamentou e que não existem sanções para o seu incumprimento por parte das
empresas.
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A ver: na prática, os trabalhadores estão nas mãos dos
empregadores.
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A Amnistia Internacional (AI) denuncia ainda discriminação
racial por parte dos empregadores.
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Nesta lógica, um trabalhador tunisino recebe mais e será
protegido dos trabalhos mais árduos relativamente a um trabalhador filipino.
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Na
reportagem da SIC, Manuel Gomes Samuel, chefe da missão da embaixada portuguesa
em Doha, enquanto personificava o estilo “cidadão do mundo”, declarou não ver
que exista racismo no Qatar.
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Racismo, para este homem, deve meter chicotes e navios
negreiros. Aí sim, havia racismo.
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De um
modo geral, ninguém fica bem nesta fotografia: o Qatar, a FIFA, a Federação Portuguesa de Futebol, o
Estado Português e, tem de ser dito, cada um de nós.
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Às
organizações calha muito bem o dinheiro qatari e estão dispostas a meter um
tapa-olhos e a ver só futebol. É uma escolha lamentável.
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Este
Mundial assenta no princípio da nossa indiferença perante o atropelo dos
direitos fundamentais de milhares de trabalhadores e das suas próprias vidas.
Carmo Afonso, “Público” (sem link)
Com o
aumento da presença brasileira por aqui, tenho visto também cada vez mais
pessoas a dizer que estamos invadindo Portugal ou a falar em colonização
reversa, mas romantizar e diminuir o que foi a colonização não é uma novidade.
(…)
Aprendemos
na escola que foi Portugal que “descobriu” o Brasil, que a miscigenação
brasileira se deu de forma totalmente pacífica e não através de violações de
mulheres indígenas e africanas e que os portugueses são colonizadores enquanto os africanos são escravos.
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Quando
as pessoas falam em invasão, esquecem que para conseguir “invadir” Portugal, os
brasileiros precisam de um passaporte válido, de uma passagem aérea.
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Para
invadir o Brasil, os “descobridores” portugueses basicamente só precisaram de
desembarcar das caravelas e decidir que aquela terra, tudo que lá estava e
todos que lá viviam, dali em diante, seriam deles.
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E como
falar em colonização reversa quando o Brasil foi saqueado e sofreu genocídio
durante mais de 300 anos para manter a metrópole.
Mariana Braz, “Público” (sem link)
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