quarta-feira, 10 de agosto de 2022

CITAÇÕES À QUARTA (15)

 
Em pleno século XXI, exibir um coração [de D. Pedro IV de Portugal] em formol num evento público festivo, convida às mais arcaicas apropriações.

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Um coração em formol será transportado para gáudio imenso do governo de Bolsonaro que aqui encontra a ocasião de um festim necrófago galvanizador da sua base de apoio, fazendo, em plena pré-campanha eleitoral, como os ditadores romanos.

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Com a ajudazinha do fervor monárquico e conservador de Rui Moreira e da cumplicidade e covardia política do executivo camarário!

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Atente-se que o órgão será transportado pela Força Área Brasileira e será recebido no Palácio Planalto, em Brasília, no dia 22 de agosto, com “honras militares” devidas a um chefe de Estado.

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instrumentalização é total e descarada.

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O governo Bolsonaro mata indígenas, tortura nas prisões, assassina com as milícias (…), persegue homossexuais.

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É um inequívoco ato de apoio simbólico e político da autarquia do Porto ao atual governo brasileiro.

João Teixeira Lopes, “Público” (sem link)

 

Embora o Governo pudesse ter ido mais longe, não teve a mesma ousadia de há três anos, quando foi aprovada a Lei de Bases da Saúde – BE e PCP estavam lá para puxar pelo Governo.

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Há que dizer que tanto a lei de bases como o estatuto [do SNS] são sempre instrumentos legislativos com uma esperança de vida longa.

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O que dificilmente poderá ser alterado é o espírito que atravessa todo o decreto-lei.

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O conhecimento tanto técnico como científico está suficientemente consolidado para não se praticarem omissões graves, estando a governante de posse de toda a informação e ter sido alertado para o facto.

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O legislador sabe que a mais importante métrica para avaliar o desempenho do SNS, e do sistema de saúde em geral, é a contribuição que dá para o aumento da esperança de vida saudável.

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Atrevo-me a dizer que, se não fosse terem ficado consignados na lei de bases, os Sistemas Locais de Saúde teriam sido definitivamente eliminados da face da terra.

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Existe evidência suficiente de que a saúde depende de vários factores de produção, da genética ao grau de ensino, à dieta alimentar, ao exercício físico, à convivência social.

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O mais importante, porém, não está lá [nos Sistemas Locais de Saúde]: como vão dar a sua contribuição. Sem essa especificação os SLS não passam de um adorno, necessário para cumprir uma obrigação, a de obedecer a uma exigência da lei de bases.

Cipriano Justo, “Público” (sem link)

 

[No Qatar] as violações dos direitos mais básicos dos trabalhadores, enquanto trabalhadores e enquanto pessoas, são graves e são uma constante.

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Salários muito baixos (a maioria próxima do salário mínimo que não chega a 250 euros), seis dias de trabalho semanais com sobrecarga horária e exposição a altas temperaturas.

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Relatos há que atestam que o dia de descanso não chega a ser concedido aos trabalhadores.

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Um quarto acolhe 12 trabalhadores e em condições degradantes.

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Se usarem o telemóvel durante o período de trabalho, poderão ter como penalidade um ou dois meses de perda de retribuição.

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Sabe-se que, na última década, morreram a trabalhar milhares de migrantes, mas não existem números oficiais. 

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Por causa do Mundial, o governo aprovou nova legislação laboral. Sucede que não a regulamentou e que não existem sanções para o seu incumprimento por parte das empresas.

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A ver: na prática, os trabalhadores estão nas mãos dos empregadores.

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A Amnistia Internacional (AI) denuncia ainda discriminação racial por parte dos empregadores.

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Nesta lógica, um trabalhador tunisino recebe mais e será protegido dos trabalhos mais árduos relativamente a um trabalhador filipino.

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Na reportagem da SIC, Manuel Gomes Samuel, chefe da missão da embaixada portuguesa em Doha, enquanto personificava o estilo “cidadão do mundo”, declarou não ver que exista racismo no Qatar.

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Racismo, para este homem, deve meter chicotes e navios negreiros. Aí sim, havia racismo.

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De um modo geral, ninguém fica bem nesta fotografia: o Qatar, a FIFA, a Federação Portuguesa de Futebol, o Estado Português e, tem de ser dito, cada um de nós.

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Às organizações calha muito bem o dinheiro qatari e estão dispostas a meter um tapa-olhos e a ver só futebol. É uma escolha lamentável.

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Este Mundial assenta no princípio da nossa indiferença perante o atropelo dos direitos fundamentais de milhares de trabalhadores e das suas próprias vidas.

Carmo Afonso, “Público” (sem link)

 

Com o aumento da presença brasileira por aqui, tenho visto também cada vez mais pessoas a dizer que estamos invadindo Portugal ou a falar em colonização reversa, mas romantizar e diminuir o que foi a colonização não é uma novidade.

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Aprendemos na escola que foi Portugal que “descobriu” o Brasil, que a miscigenação brasileira se deu de forma totalmente pacífica e não através de violações de mulheres indígenas e africanas e que os portugueses são colonizadores enquanto os africanos são escravos.

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Quando as pessoas falam em invasão, esquecem que para conseguir “invadir” Portugal, os brasileiros precisam de um passaporte válido, de uma passagem aérea.

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Para invadir o Brasil, os “descobridores” portugueses basicamente só precisaram de desembarcar das caravelas e decidir que aquela terra, tudo que lá estava e todos que lá viviam, dali em diante, seriam deles.

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E como falar em colonização reversa quando o Brasil foi saqueado e sofreu genocídio durante mais de 300 anos para manter a metrópole.

Mariana Braz, “Público” (sem link)


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