(…)
E
exigem a solidariedade de todos para lidar com o momento em que a Rússia
cortará a torneira do gás.
(…)
Esta é
uma boa altura para recordar os termos das relações europeias.
(…)
Na
última crise financeira, alguns países foram castigados por estarem mais
expostos ao aumento das taxas de juro.
(…)
Mas a
nossa alta dívida externa, a que uma moeda desadequada à nossa economia não é
estranha, deixou-nos vulneráveis.
(…)
Temendo
o incumprimento, que deixaria a banca alemã exposta a uma renegociação das
dívidas grega e portuguesa, Comissão Europeia, BCE e FMI foram os cobradores de
fraque.
(…)
[Tudo
isto] resultou da natureza de uma moeda estruturalmente contrária ao processo
de coesão e convergência que existia antes do euro.
(…)
Uma
moeda que permite a alemães e holandeses manterem excedentes comerciais
inéditos até terem aderido ao euro.
(…)
Tínhamos
vivido acima das nossas possibilidades, foi o mantra de uma UE incompetente
para responder à crise bancária internacional.
(…)
Nas
últimas décadas, Alemanha e vários países europeus basearam parte do seu
crescimento económico em energia barata russa.
(…)
Era
tão compensador que nem valia a pena investir em renováveis.
(…)
Ao
contrário do que aconteceu em 2011, todos somos chamados a pagar a fatura.
(…)
Todos
têm de cortar no gás para que ele não falte a quem se colocou nas mãos da
Rússia [a Alemanha].
(…)
Porque
a Alemanha é o motor económico da Europa, demasiado grande para cair.
(…)
Andámos
a pagar para ser energeticamente autónomos e quem não o quis fazer, tendo mais
recursos para isso, exige que paguemos a fatura da sua ganância.
(…)
Aceitamos
uma subalternidade que nos transforma em pedintes perante a Alemanha, em 2011,
e em passivos contribuintes da Alemanha, em 2022.
(…)
O que
faz do projeto europeu o oposto de uma união entre pares e o aproxima de uma
relação colonial.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
O modo
brutal como este verão as alterações climáticas atingiram quase todos os países
europeus promete tornar-se um ponto de viragem histórica e moral.
(…)
Há
perto de 30 anos que avisos sistemáticos alertaram, com fundamentos científicos
cada vez mais seguros e consensuais, para as alterações climáticas.
(…)
Não
quiseram declarar a emergência climática? Pois agora ela autodeclara-se, e aqui
está.
(…)
E
fazemos o quê, quando durante anos deixámos as nossas cidades crescer às mãos
do imobiliário e da finança especulativa, perante a complacência e até
cumplicidade dos governantes?
(…)
[Em
Lisboa] o imobiliário continua a construir massas excessivas com materiais
climaticamente inadequados, exigindo enorme esforço de climatização interior,
agravando reflexamente a situação exterior.
(…)
Não
admira, assim, que Lisboa, apesar do Tejo e do mar, seja considerada uma das
cidades europeias mais expostas às ondas de calor.
(…)
Se a
situação era má desde o boom imobiliário dos anos 90, atualmente é muito mais
grave.
(…)
A
diferença entre saúde e sobrevivência vai passar entre aqueles que se refrescam
nos seus apartamentos e os que torram nas suas casas.
Luísa Schmidt, “Expresso” (sem link)
55% do total dos trabalhadores que estão
nas administrações públicas têm, no mínimo, licenciatura. No setor privado são
apenas cerca de 20%.
(…)
É preciso fixar e aumentar o número de
trabalhadores altamente qualificados.
(…)
E a produtividade do emprego público
devia medir-se pelos benefícios assegurados aos cidadãos, pois a sua atividade
não é sobre produtos mercantilizáveis, com o objetivo do lucro.
(…)
No conjunto das administrações públicas
há muitas funções de alto risco, como é o caso dos profissionais da Polícia ou
dos militares, que devem ser compensados, o mesmo acontecendo com os que têm
forte responsabilidade social.
(…)
Alguns críticos dos trabalhadores da AP
alcunham-nos de privilegiados por terem emprego certo.
(…)
A precariedade é velha, sendo retrógrada
a ideia do emprego precário como modelo do futuro.
(…)
A valorização do emprego público puxou
pela melhoria dos direitos de todos os trabalhadores e contribuiu para uma
sociedade mais inclusiva.
(…)
As políticas de fundamentalismo
orçamental impedem a sua [da Administração Pública] modernização e o reforço
das capacidades humanas.
(…)
A necessidade de rejuvenescimento [da AP]
até baixará a média salarial nos próximos anos, dado que os jovens são mais mal
pagos.
(…)
Uma das áreas em que Portugal mais
divergiu da União Europeia foi na política salarial para a AP.
A condescendência com que vejo brancos a tratar negros por
“tu” é diária.
(…)
[A expressão “na tua terra”] não é dita a estrangeiros
brancos, mas sim a pessoas que, curiosamente, têm em comum serem negras.
(…)
Em
regra, quando se diz que mandar um negro “para a tua terra” é racismo, o autor
do insulto faz um ar espantado, diz que não disse ou, se há um vídeo a provar,
diz que foi um ímpeto no calor do jogo.
(…)
Sabemos como é. Os jogadores estrangeiros brancos estão a
jogar e ninguém grita “vai para a tua terra”.
(…)
Se o jogador é negro, a sua “terra” não é aqui, deve ser
algures em África.
(…)
A
reacção aos casos de Marega e de
Ivan Almeida é reveladora deste triste padrão. Ficámos a saber várias coisas.
Que foram eles os insultados, mas que a culpa é deles.
(…)
Mais
curioso ainda é o castigo dado esta semana a Ivan
Almeida. Um amigo chamou-me a atenção: a Federação Portuguesa de
Basquetebol suspendeu-o por duas partidas. Não sei a razão formal.
(…)
A
mensagem parece clara: aos que lhe gritaram “macaco, volta para a tua terra”,
Ivan Almeida respondeu mostrando a sua origem africana com orgulho.
(…)
Anormal
é a federação não ter dito nada sobre os insultos ao jogador e agora ter
encontrado tempo para o castigar.
Bárbara Reis, “Público” (sem link)
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