(…)
[No caso do IVA da energia esquece-se] a explicação
fundamental de que pouca da energia está abrangida pelos 13% e que, quanto ao
resto, continuam os 23%.
(…)
[No caso das pensões] primeiro, oferecer em outubro um
adiantamento do aumento legal previsto para 2023 e depois, a partir do início
do próximo ano, reduzir o impacto do aumento que seria imposto por lei e, para
esse efeito, mudar mesmo a lei.
(…)
O efeito dessa dupla manobra, além do engodo do pagamento em
outubro, é manter no conjunto dos dois anos uma redução do valor real da pensão
e, a partir de janeiro de 2024, diminuir a base de incidência dos futuros
ajustamentos à inflação.
(…)
O valor efetivo da pensão vai cair em termos reais e ficará
abaixo do que a lei impunha.
(…)
É uma velha obsessão do PS.
(…)
O caso da pensão média de velhice na Segurança Social, que,
segundo os últimos dados oficiais, teria sido de 468 euros em 2020.
(…)
Se, em contrapartida, essas pensões tivessem sido atualizadas
este ano pelos 8%, mesmo considerando uma inflação abaixo da real, e se no
próximo ano se aplicasse a lei que imporia o aumento de 8%, o valor recebido
pelos pensionistas ao longo dos dois anos – para não perderem poder de compra e
na hipótese incerta de que a inflação em 2023 seja igual à deste – seria de
mais 831 euros do que o que lhes entrará nas contas.
(…)
A diferença é mais de um mês e meio de pensão.
(…)
A medida do governo para as pensões é uma intrujice.
Francisco Louçã, “Expresso” online
(sem link)
A “meia pensão” extra para os pensionistas, a pagar em
outubro, com a contrapartida da redução da atualização das pensões a partir de
janeiro, que terá repercussão perpétua no seu valor.
(…)
Costa fez do anúncio um exercício de habilidade.
(…)
O único objetivo é assegurar poupança no Orçamento de 2023, à
custa da diminuição dos rendimentos reais dos pensionistas.
(…)
A medida significa que o Governo incumprirá a lei e a
garantia dada no Parlamento em maio.
(…)
Como o valor cortado em 2023 nunca será reposto, a partir de
2024 ele passa a estar inscrito para sempre nas pensões.
(…)
Na energia, ficam a menos de meio, porque o IVA só baixa para
uma parte da fatura elétrica.
(…)
Nos salários, zero: mantém-se a falácia do perigo da “espiral
inflacionista” para impor uma perda real de rendimento a quem trabalha.
(…)
Nos dividendos, não se toca.
(…)
Não há fixação de preços de bens essenciais para impedir a
especulação que alimenta a inflação e nem sequer se taxam os lucros extraordinários
das petrolíferas ou da banca.
(…)
Tudo somado, o pacote do governo aposta na contração
estrutural de salários, pensões e outras prestações sociais, agravando as
dificuldades da maioria e aumentando a desigualdade entre capital e trabalho.
(…)
Não admira que Marcelo (…) aplauda o pacote e diga que
“o PSD ajudou imenso”.
José Soeiro, “Expresso” online
No ano em
que enfrentamos o maior surto inflacionista dos últimos 30 anos, o governo
mantém como objetivo descer o défice e descer a dívida pública.
(…)
As
medidas, avaliadas em 2400 milhões de euros, podem ser suportadas
pelo aumento extraordinário de receita fiscal, obtido graças à inflação.
(…)
É a chamada omeleta sem ovos. Só que todos sabemos que não se
fazem omeletas sem ovos.
(…)
Quem está então a fornecer os ovos? Estúpido, somos
nós.
(…)
Quem
vive dos rendimentos do seu trabalho, e não vê o seu salário atualizado em
função do aumento de preços, está a carregar o andor.
(…)
Está a ser-lhes [aos portugueses] exigido que façam um
sacrifício perante o altar das contas certas.
(…)
Até onde levaremos a nossa capacidade de sacrifício em prol
de nos protegermos do trauma [da consolidação das contas]?
(…)
A perda de poder de compra é permanente e definitiva, apesar de a inflação
poder ser excecional.
(…)
A escolha do próprio Governo [é privilegiar as contas
públicas em detrimento da qualidade de vida dos portugueses].
(…)
Ainda
há pouco tempo falávamos de aumentos salariais reais, mas agora já só estamos a
falar de aumentos que compensem a perda do valor do dinheiro.
(…)
O que
deve ser considerado - com a continuação da perda do poder de compra – é o
risco de se verificar uma diminuição da procura e, com ela, uma recessão.
(…)
A diminuição do PIB levaria ao aumento da dívida pública. Lá
se vão as contas certinhas.
(…)
Estamos a tempo de repor os salários da função pública e de
devolver qualidade de vida aos portugueses.
(…)
Não temos a corda ao pescoço, mas temos o cinto muito
apertado e estamos a pôr o pescoço a jeito.
Carmo Afonso, “Público” (sem link)
Foi Ieltsin, um fantoche incompetente apoiado e promovido
pelos EUA, que abriu as portas à liberalização selvagem que ainda hoje muitos
julgam ser a receita para construir democracias sólidas e economias robustas.
(…)
O fim da URSS não dava lugar a uma democracia. O fim do
comunismo não dava lugar a uma economia de bem-estar.
(…)
Mas contando que não se opusesse ao ocidente, a Rússia tinha
direito ao estatuto de democracia de borla.
(…)
Gorbatchov não conseguiu deixar as sementes para uma
sociedade livre e democrática.
(…)
O problema de Gorbatchov não foi pôr fim à URSS e muito menos
à ditadura de partido único. Foi não ter força política para que alguma coisa
de decente para o seu povo nascesse no seu lugar.
Daniel Oliveira, “Expresso” online
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