sexta-feira, 2 de setembro de 2022

CITAÇÕES

 
Tavneet Suri e Nidhi Parekl, cientistas do MIT, uma das mais importantes universidades norte-americanas, publicaram recentemente um estudo sobre a experiência de pagamento de um “rendimento básico universal” (RBU) no Quénia. 

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O projeto inclui 21 mil pessoas por 12 anos e é o mais extenso realizado até hoje, estando ainda em processamento.

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Essas pessoas, que vivem em duas regiões empobrecidas, receberam o tal RBU.

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O pagamento, no entanto, não é universal nem naquelas regiões (só abrange maiores de 18 anos, num país em que metade da população tem menos de 20 anos).

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Houve menos interação humana durante a pandemia e, assim, estas pessoas teriam tido menos casos de contaminação covid.

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Não se comprovou que houvesse maior consumo de álcool ou outros.

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No entanto, apresentam uma conclusão problemática: quem recebeu este dinheiro ficou com menores rendimentos.

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Numa economia com pouco emprego formal, as verbas foram utilizadas para estratégias comerciais ou outras, e muitas dessas pessoas fracassaram.

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O empreendedorismo criou as suas vítimas e é surpreendente a condescendência com que este facto é tratado pelas autoras.

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As pessoas empobreceram, dizem-nos Suri e Parekl, por terem usado o dinheiro no que está ao seu alcance, comprar e vender mercadorias. 

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Nunca houve experiências suficientemente amplas para se poderem tirar conclusões sobre comportamentos sociais diferenciados.

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O que, em qualquer caso, fica aqui evidente é que a medida não procura criar emprego e, portanto, rendimentos garantidos, mas antes oferece um donativo.

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Que defensoras desta filosofia apresentem este empobrecimento como um sucesso só demonstra do que é capaz a ideologia que nega os factos.

Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)

 

O frenesim de viagens oficiais e oficiosas a Taiwan tem mais leitura pelas eleições intercalares norte-americanas do outono do que por uma putativa mudança de estratégia da Casa Branca em relação à China.

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[Trump] foi escalando o conflito com Pequim em termos comerciais e não é dele o início deste xadrez com Taipé.

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A novidade histórica é que esta disputa de hegemonia no Pacífico e global ocorre ao mesmo tempo que a integração entre as duas economias gera dependências mútuas irreparáveis.

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A China criou uma grande rede de alian­ças (concede mais créditos do que o FMI, emprestando a 100 países), realizando investimentos expressivos. 

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O domínio norte-americano é militar (um orçamento de 750 mil milhões de dólares, o triplo do da China), com 800 bases no mundo.

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Os EUA fracassaram em todas as guerras em que se envolveram diretamente nas últimas décadas.

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Se alguém pensa que uma guerra resolverá a atual disputa pela hegemonia, é melhor perceber que o seu resultado é incerto.

Francisco Louçã, “Expresso” (sem link)

 

O pedido de demissão de Marta Temido comprova que é mais difícil gerir o SNS do que lidar com uma pandemia.

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O Governo continua a lidar com a saúde pública recorrendo a paliativos.

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Por força dessa abordagem, o SNS já deu entrada nos cuidados intensivos.

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Nos momentos derradeiros, já não se percebia se as forças de bloqueio estavam dentro do governo ou se era a ministra que bloqueava o diálogo com o sector.

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Boa parte dos ataques que lhe são dirigidos [à ministra] vêm daqueles que sempre foram um obstáculo ao investimento no SNS.

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Quando se olha para o SNS, vemos o produto do sucessivo desinvestimento que se arrasta desde a "troika".

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Verificam-se agora boa parte das razões que levaram o BE e, depois, o PCP, a romper com a aprovação de sucessivos orçamentos do Estado.

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A saída de Marta Temido abre portas a um amplo ataque de sectores, interesses económicos e políticos, nada interessados numa visão pública e inclusiva do SNS.

Miguel Guedes, JN

 

O Governo de Jair Bolsonaro enviou para as Nações Unidas, esta semana, a sua versão sobre a situação dos direitos humanos no Brasil.

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O relatório enviado pelo Estado brasileiro apresenta, no entanto, uma série de supressões e distorções da realidade em que o país se encontra.

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[Há uma] falta de compromisso no combate à letalidade policial e ao encarceramento em massa que atingem maioritariamente a população negra, pobre e periférica do país.

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O Governo parece ignorar um dos marcadores mais graves da violação de direitos humanos no país: o racismo sistémico e estrutural.

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Quase 80% das pessoas mortas pela polícia em 2020 eram negras, ao passo que 66,3% da população privada de liberdade, no mesmo ano, também era composta por negros.

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Não constam quaisquer iniciativas do Executivo ou do Legislativo objectivando, por exemplo, a redução da taxa de encarceramento, como recomendado no último período da RPU.

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No combate à tortura no Brasil, é possível afirmar que houve um grande retrocesso.

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Sem o mínimo para se discutir a protecção e a promoção dos direitos humanos, é impossível garantir políticas públicas que, de facto, atendam a toda população brasileira.

Camila Asano e Gabriel Sampaio, “Público” (sem link)

 

Quem vive do seu trabalho, neste país, enfrenta sérias dificuldades no acesso a habitação condigna.

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Os salários portugueses são baixos, comparativamente aos salários europeus, e essa diferença reflete-se no salário mínimo e no salário médio.

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Já o mercado imobiliário português está ao rubro e com tendência para aquecer mais.

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Os senhorios usufruem da possibilidade de mercantilizar a sua propriedade, reproduzindo o capital.

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É legal e são rendimentos legítimos e tributados que, dessa forma, também contribuem para a redistribuição da riqueza.

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Não devemos é comparar o recebimento de rendas, que integram a categoria dos rendimentos de capital, aos rendimentos que provêm do trabalho.

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E claro que estes são também rendimentos tributados e que, muito mais do que as rendas, garantem a redistribuição da riqueza.

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Saber, de entre a riqueza gerada, qual fica nas mãos dos trabalhadores e qual vai remunerar o próprio capital.

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O desequilíbrio da balança tem vindo a acentuar-se e sobretudo no que tem a ver com salários e rendas.

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Ainda antes da recente subida da inflação, o aumento dos primeiros não acompanhou o aumento das segundas.

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Uma vez mais, parece estar a caminhar-se no sentido inverso ao da luta contra as desigualdades sociais.

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Não estamos a caminhar para uma sociedade mais justa, mas sim para uma sociedade liberal na qual a mais ínfima intervenção do Estado, na correção do mercado, é lida como esquerdismo radical.

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São eles [os inquilinos], e todos os que cá residem e que têm baixos rendimentos, que o Estado Português deve privilegiar quando legisla.

Carmo Afonso, “Público” (sem link)


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