sexta-feira, 9 de setembro de 2022

CITAÇÕES

 
[Liz Truss] é uma liberal a sério. A sua política agrava a desigualdade e tem orgulho nisso. 

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Ela não quer justiça, mesmo que use a palavra, o que quer é dinheiro para os seus. 

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Há nesta candura uma arrogância social que é todo um programa, mas que é raro encontrar em políticos que vivem emaranhados em subtilezas de meninice de coro.

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Os antepassados políticos de Truss, em contraste com estas modernas vacilações retóricas, não hesitavam.

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Há toda uma genealogia de empresá­rios que dispuseram dos seus países a bel-prazer.

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A solução liberal para as crises é ainda esta, liquidar partes da economia. Nada se cria nem perde, tudo se transforma.

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Os liberais de antigamente eram assim, desabridos, snobes e violentos, pelo que o seu ressurgimento tem vindo a clarificar a política.

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Há uma diferença, vai ter que convir, com os liberais de hoje, que têm vergonha do seu programa e até já aplaudem a possibilidade de saída do mercado liberalizado de gás.

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Ou que se acotovelam para pedir subsídios ao Estado, temendo anunciar a “liquidação” de empresas e de trabalho.

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Ora, as medidas que o Governo português anuncia, se bem que temperadas por donativos, como noutros países e por mais pequeninos que sejam, comungam desta filosofia liberal.

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Toda a filosofia se baseia no pressuposto de que não se pode aumentar os salários (ou as pensões) de modo a compensar a inflação, dado que isso “alimentaria a espiral inflacionista”.

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O argumento é que para minorar a subida dos preços, que realmente existe, se deve impor uma redução do valor real dos rendimentos salariais, aproveitando assim para impor um imposto camuflado.

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O contador vai a zeros em 1 de janeiro, prometendo-se que no próximo ano só se perderá o diferencial de inflação de 2022 para 2023.

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Reduzir o aumento estrutural do valor das pensões para impor poupança futura através do malabarismo da antecipação do pagamento de meio mês de pensão neste outubro e mudando a lei das pensões. 

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Chamar a isto “as famílias primeiro” é uma homenagem do vício à virtude.

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[Os funcionários públicos] receberão alguns 2% no próximo ano, depois de perderem cerca de 5% este ano, ficando então submetidos, como toda a gente, às vagas dos preços que se levantarem. 

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Assim, se se perguntar ao primeiro-ministro se esta queda dos rendimentos, ou “liquidação”, é a boa política, ele poderá responder como Truss: “Sim, é justa.”

Francisco Louçã, “Expresso” (sem link)

 

Se uma das grandes preocupações do Governo é não prejudicar o défice e a dívida deste e do próximo ano, combinando medidas que respondam à urgência mas não alimentem a espiral de inflação, é difícil entender como não tributa os lucros excessivos de algumas empresas que continuam a lucrar com a crise.

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A posição portuguesa de ambiguidade sobre algo que é elementar [tributação dos lucros excessivos de algumas empresas] arrecadaria receitas públicas levanta sérias dúvidas sobre se o pacote "Famílias, primeiro" é um mero calmante social para conter a contestação.

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Já o "falso aumento" de pensões que poderá acabar por comprometer o valor a receber pelos pensionistas para sempre é uma demonstração de falta de clareza inaceitável.

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Uma habilidade impensável e sub-reptícia do Governo.

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Para aqueles que já perderam cerca de um salário à custa da inflação, [o debate sobre o valor de 125 euros] dispensa adjectivos maiores [ara além de escusado].

Miguel Guedes, JN

 

O “bom pai de família” é uma figura abstrata, um tipo ideal de cidadão cujos atos se adequam a uma norma extremamente subjetiva, tal como “o bom pobre de família”.

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O bom pobre de família também tem de ser razoável, tem de administrar com precaução os bens de que dispõem.

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Como ser um bom pobre de família com tal quantia [ o muito comentado cheque de 125 euros? Questão espinhosa.

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[Para Isabel Jonet, um bom pobre de família] deve ser uma pessoa responsável, evidentemente sem dinheiro, mas que poupa naquilo que não tem e sobretudo não o gasta de uma só vez.

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E para isso precisa de ser formada ao que Isabel Jonet chama de racionalidade económica ou, em linguagem de pobre de família, de magia económica.

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O exemplo da presidente do Banco Alimentar é perfeito para se poder compreender a diferença entre a teoria e a prática, entre o imaginário e a realidade.

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O pobre de família é sempre um suspeito, um culpado, vai sempre gastar o dinheiro mal gasto, mais vale dar-lhe um cabaz de compras, assim assegura-se que não vai esbanjar em telemóveis e em televisões 4K.

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O pobre de família precisa de ser contido, controlado, fiscalizado, supervisionado.

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O pobre de família é uma criança, muito diferente do rico que é responsável e adulto desde que nasceu.

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O pobre de família precisa de muitos documentos e de contar mil vezes a sua história à assistência social do momento.

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Talvez estas pessoas também precisem de pedagogia para compreenderem que a sua fome não é igual à dos outros se não animarem a malta.

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O bom pobre de família não pode ter prazeres, precisa de sofrer senão não entrará no céu.

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Já recebi cabazes alimentares, mas também já dei no âmbito de um dos meus trabalhos. A perceção da caridade não é a mesma quando se dá e quando se recebe.

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A extrema vergonha de quem recebe, de pessoas que quase não ousam olhar-nos nos olhos.

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A consciência aguda de que a pobreza é um problema estrutural e que aquele momento num dos países mais ricos do mundo não deveria existir.

Luísa Semedo, “Público” (sem link)

 

Tudo somado, o pacote do governo aposta na contração estrutural de salários, pensões e outras prestações sociais, agravando as dificuldades da maioria e aumentando a desigualdade entre capital e trabalho.

José Soeiro, “Expresso” online


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