sábado, 3 de setembro de 2022

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Quando um falecimento no SNS determinar o futuro de um ministro da Saúde nenhum durará uma semana. A questão é se essa morte, além de evitável, se deveu a uma falha do sistema.

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E é pelo sistema, e não por cada caso, que a ministra responde. Então, porque se demitiu? 

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[A ministra demitiu-se] porque sabia que não tinha apoio político para aguentar mais uma polémica.

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Como ficou claro na edição do Expresso da semana passada, o primeiro-ministro isolou-a para a deixar cair.

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Não há nada mais fácil do que fritar um ministro da Saúde.

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São incontáveis os ministros que a Ordem dos Médicos já decapitou. 

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E, num país onde os investidores se refugiam em setores protegidos da concorrência externa e com procura inelástica, os grupos privados de saúde também concentram bastante poder. 

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Um político não precisa de lhes fazer frente, e Temido não fez, para se tornar indesejada.

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Basta que não esteja ao seu serviço, e Temido não estava.

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Como as corporações, o lóbi privado move-se nas redações, nas sedes partidárias e em Belém ou São Bento.

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Mas a sobrecarga [da pandemia] degradou a qualidade, deixou muitos por tratar e exauriu os profissionais. 

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Era preciso aumentar o financiamento, direcioná-lo para recuperar o SNS e não para tapar buracos fora do sistema e resolver problemas adiados.

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Era previsível que, não se tendo desgastado na resposta à pandemia, [o privado] aproveitasse o momento para desfazer a carcaça de um SNS exangue. 

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Fernando Medina deu o mote e foi acompanhado recentemente por Costa: se havia problemas, a culpa era dela [Temido]. Não teria dinheiro nem apoio político.

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O seu [de Temido] capital [político] foi usado na campanha e esvaziado quando chegou a fatura da pandemia.

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Com a maioria absoluta, Costa deixou de se preocupar com o flanco esquerdo.

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No Governo, todos percebem que se tiverem de enfrentar um poder capaz de os destruir devem ceder ou empurrar com a barriga. Porque sabem que não contam com o chefe. 

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As reformas da Saúde serão feitas ao sabor das pressões dos interesses.

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A forma como Temido foi abandonada é um sinal à navegação. 

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Os ministros que venham e os que já lá estão sabem quem manda. O primeiro-ministro, esse, está a tratar do seu futuro.

Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)

 

E aqui no Simplex [ambiental] também há uma verdade inegável: que a burocracia portuguesa é imensa, lenta e perversa, estimulando a arte da corrupção e beneficiando habilíssimos juristas.

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Mas por que razão traz este Simplex metida na sua bagagem a possibilidade matreira de arrombar mecanismos preciosos com que o Estado protege os bens comuns?

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No recheio de tão úteis disposições meteu-se um conjunto de venenos e alçapões que, a serem aprovados, irá pôr-nos a todos à mercê de iniciativas e interesses que se queiram impor à racionalidade da decisão pública e ao interesse comum.

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Porquê dispensar de Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) intervenções que podem ser altamente danosas para os recursos naturais e até de saúde pública?

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As AIA são instrumentos preventivos que servem para acautelar os bens públicos e o bem-estar das populações face aos impactos de atividades industriais e outras.

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E que dizer também da renovação automática das licenças ambientais ao fim de 10 anos sem exigência de reavaliação e de qualquer fiscalização?

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Depauperados como estão os serviços da Administração Pública (…), o resultado é previsivelmente grave.

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Ainda por cima este projeto de lei (…) esqueceu-se de convidar também (…) as ONGA, que neste caso teriam sido particularmente úteis.

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Se esta lei [Simplex ambiental] não é gato escondido com o rabo de fora, pelo menos parece.

Luísa Schmidt “Expresso” (sem link)

 

Muito do que consideramos ser adquiridos civilizacionais está, neste momento, em risco de se perder.

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Um deles é a privacidade, a capacidade de uma pessoa ser possuidora de um espaço de intimidade e privacidade (duas coisas complementares).

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A importância da privacidade é que ela está directamente associada à liberdade no seu sentido mais pessoal e íntimo.

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Andámos 200 anos para que uma pequena parte da humanidade, muito pequena, aliás, pudesse ter as condições económicas e sociais mínimas (…) direito a viver sem ser numa aldeia em que toda a gente sabe tudo.

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Esses 200 anos estão a ir por água abaixo diante dos nossos olhos e perante a nossa indiferença, quando não a nossa activa colaboração.

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É um rombo na nossa liberdade e, por essa via, na democracia.

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Os inimigos da privacidade são antigos, Governos e Estados, que, em nome de várias coisas benévolas, assumem o direito de nos vigiar cada vez mais.

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Convém não ter qualquer dúvida de que portugueses e estrangeiros, sem qualquer controlo e conhecimento, podem saber de tudo sobre nós, podem e sabem.

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É sempre em função de grandes valores que se restringe a privacidade, em nome da eficácia da segurança, do combate à corrupção, da “transparência”, uma palavra de uso sinistro nos nossos dias.

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No sistema político não há qualquer cultura de defesa da privacidade, por partidos cuja noção do poder do Estado tem poucos limites na liberdade das pessoas “quando é preciso”.

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[A] Iniciativa Liberal, que está muito mais interessada no abaixamento dos impostos do que nas desnecessárias violações da privacidade pelo fisco.

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O sistema judicial pode ter as melhores leis do mundo de defesa da privacidade, mas há muito que deixou de ser uma garantia de nos proteger de todos os que (…) interferem indevidamente na privacidade alheia.

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Não, não nos “habituarmos” é hoje um elemento fundamental para defender a nossa identidade.

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Mas o declínio da privacidade nos nossos dias tem novos riscos, em grande parte vindos de uma cultura de exibição nas redes sociais.

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A ecologia das redes sociais é nos dias de hoje uma das maiores ameaças contra a privacidade, a liberdade e a democracia.

Pacheco Pereira, “Público” (sem link)


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