(…)
Um deles é o fatalismo (…) Outro é o individualismo.
(…)
[Há] um facto fundamental: a pobreza é, acima de tudo,
um produto de escolhas económicas, da estrutura de distribuição primária do
rendimento e um efeito das políticas públicas em várias áreas.
(…)
Mas é na política económica, na regulação do trabalho e na
provisão dos bens essenciais que se joga o combate a esta violação dos direitos
humanos.
(…)
Entre 2014 e 2019, houve uma redução da pobreza. Para isso
contribuíram também, a partir de 2015, compromissos dos acordos à esquerda para
o crescimento do emprego e para uma política de recuperação de rendimentos.
(…)
A partir de 2019, essas políticas estagnaram. A pandemia e a
inflação, às quais o Governo respondeu de forma tíbia, pioraram tudo.
(…)
De 2019 para 2020, o número de pessoas em risco de pobreza
aumentou 12,5%.
(…)
Aumentou também a desigualdade na distribuição do rendimento.
(…)
Na habitação, os preços não pararam de aumentar (80% entre
2010 e 2022!), o que constitui uma verdadeira tragédia para milhares de
pessoas.
(…)
De entre os grupos mais afetados pela pobreza, destacam-se os
desempregados.
(…)
Continuamos com regras nas prestações de desemprego que fazem
com que cerca metade dos desempregados não tenha acesso ao subsídio.
(…)
E há também as famílias com filhos, designadamente as
monoparentais.
(…)
Entre os idosos, a pobreza reduzia-se consistentemente há
alguns anos, mas essa tendência mudou e a política de pensões, a confirmar-se,
poderá acentuá-la.
(…)
Em 2022, contraiu-se o rendimento real disponível para os
trabalhadores e pensionistas e as desigualdades já se agravaram.
(…)
Só com a inflação, desapareceu o valor de um salário ou de
uma pensão mensal.
(…)
Para o ano, com aumentos abaixo da inflação, a situação vai
ser pior.
(…)
Em geral, a política económica, social e salarial do governo
vai produzir mais pobres e mais super-ricos. Ou seja, mais
desigualdade.
José Soeiro, “Expresso” online
Ainda só com números de 2020, soube-se que já então havia 4,5
milhões de pessoas abaixo do limiar da pobreza (554 euros mensais), incluindo
bastantes que têm emprego.
(…)
Foram nesse ano mais 12,5% do que no anterior.
(…)
Ponderado o efeito das prestações sociais (o tal Estado
maléfico que os liberais querem diminuir, o mercado resolve), ainda fica 18,4%
da população, dado que a pobreza tem crescido.
Francisco Louçã, “Expresso” online
(sem link)
Durante os últimos 50 anos, as petrolíferas fizeram em média
2,9 mil milhões de euros por dia. Por dia.
(…)
Construíram um sistema social e tecnológico e um regime
político completamente viciados em petróleo e gás.
(…)
A crise climática produziu este verão situações extremas de
seca, incêndios florestais e cheias históricas.
(…)
Em Portugal, avança a desertificação.
(…)
Mas a máquina do capitalismo fóssil não para. Acelera. Lucra
como nunca.
(…)
Ainda antes da invasão da Ucrânia pela Rússia, (…), os preços
do petróleo e do gás já estavam a subir.
(…)
Com a invasão da Ucrânia, o festim tornou-se obsceno.
(…)
O primeiro semestre de 2022 foi provavelmente o mais rentável
de sempre na história da indústria petrolífera.
(…)
A Saudi Aramco, a maior petrolífera do mundo, fez 287 mil
milhões de euros de lucro nos últimos doze meses, próximo do PIB da Finlândia.
(…)
As petrolíferas triplicaram os seus lucros no primeiro
semestre deste ano, mais de 103 mil milhões de euros.
(…)
A inflação com que nos bombardeiam todos os dias tem uma
fonte inequívoca: a energia fóssil.
(…)
Perante a sabotagem dos NordStream 1 e 2 (…) a OPEP, a
organização dos países produtores de petróleo e gás, decidiu cortar
drasticamente a sua produção para aumentar os preços de novo.
(…)
Estas manobras são a origem da crise de preços que vivemos
hoje.
(…)
A inflação ainda não parou de subir.
(…)
Os produtos vão ficar mais caros e a comida ainda mais.
(…)
E não vai parar com a austeridade encapotada de subir
salários abaixo da inflação.
(…)
Temos um problema existencial e conjuntural que se chama a
indústria fóssil.
(…)
[Para além da aberração económica estamos perante a] aberração
suicida que é continuar a mandar milhões de toneladas de metano e dióxido de
carbono para a atmosfera.
(…)
Somos, há muito, liderados por loucos que obedecem a
sociopatas.
(…)
As indústrias petrolíferas têm de cessar de existir.
João Camargo, “Expresso” online
Por esse país fora, partidos com maioria absoluta oferecem
vereações a quem foi eleito pela oposição.
(…)
É vantajoso para os partidos que estão no poder, que
neutralizam qualquer tipo de escrutínio.
(…)
Por mais que agrade a todos, a captura dos vereadores da
oposição é perversa.
(…)
Reduz a sua predisposição para cumprir a sua ação
fiscalizadora, criando uma incompatibilidade política entre a pertença ao
executivo e o dever de lhe fazer oposição.
(…)
E dá falta de coerência política aos executivos.
(…)
O desenho institucional e eleitoral autárquico que tem
promovido o caciquismo local (só um pouco atenuado pelo limite de mandatos) e a
ausência de alternativas.
(…)
Temos de democratizar as autarquias, clarificando o papel de
quem governa e de quem faz oposição.
Daniel Oliveira, “Expresso” online
(sem link)
Quem presta o seu trabalho a um empregador chama-se
trabalhador.
(…)
Chamar-lhe colaborador é uma operação de charme, uma aparente
promoção do seu estatuto à igualdade ou horizontalidade relativamente aos
empregadores.
(…)
Sucede que
aquela igualdade ou horizontalidade não existe numa relação de trabalho e não
há operação de charme que mude a essência desta relação.
(…)
Dispensar também não tem o mesmo significado que despedir.
(…)
Por um
lado [os trabalhadores] são tratados como se não fossem subordinados mas sim
pares ou cooperantes e, por outro, já não passam pelo processo carregado do
despedimento e são meramente dispensados.
(…)
Mudam as palavras que se usam para chamar as coisas, mas as
coisas continuam a ser exatamente o que são.
Carmo Afonso, “Público” (sem link)
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