quarta-feira, 19 de outubro de 2022

CITAÇÕES À QUARTA (24)

 
Se há pessoas e redes antipobreza, também há muitos inimigos do combate à pobreza. 

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Um deles é o fatalismo (…) Outro é o individualismo.

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[Há] um facto fundamental: a pobreza é, acima de tudo, um produto de escolhas económicas, da estrutura de distribuição primária do rendimento e um efeito das políticas públicas em várias áreas.

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Mas é na política económica, na regulação do trabalho e na provisão dos bens essenciais que se joga o combate a esta violação dos direitos humanos.

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Entre 2014 e 2019, houve uma redução da pobreza. Para isso contribuíram também, a partir de 2015, compromissos dos acordos à esquerda para o crescimento do emprego e para uma política de recuperação de rendimentos.

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A partir de 2019, essas políticas estagnaram. A pandemia e a inflação, às quais o Governo respondeu de forma tíbia, pioraram tudo.

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De 2019 para 2020, o número de pessoas em risco de pobreza aumentou 12,5%.

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Aumentou também a desigualdade na distribuição do rendimento.

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Na habitação, os preços não pararam de aumentar (80% entre 2010 e 2022!), o que constitui uma verdadeira tragédia para milhares de pessoas. 

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De entre os grupos mais afetados pela pobreza, destacam-se os desempregados. 

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Continuamos com regras nas prestações de desemprego que fazem com que cerca metade dos desempregados não tenha acesso ao subsídio.

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E há também as famílias com filhos, designadamente as monoparentais.

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Entre os idosos, a pobreza reduzia-se consistentemente há alguns anos, mas essa tendência mudou e a política de pensões, a confirmar-se, poderá acentuá-la.

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Em 2022, contraiu-se o rendimento real disponível para os trabalhadores e pensionistas e as desigualdades já se agravaram.

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Só com a inflação, desapareceu o valor de um salário ou de uma pensão mensal.

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Para o ano, com aumentos abaixo da inflação, a situação vai ser pior. 

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Em geral, a política económica, social e salarial do governo vai produzir mais pobres e mais super-ricos. Ou seja, mais desigualdade. 

José Soeiro, “Expresso” online

 

Ainda só com números de 2020, soube-se que já então havia 4,5 milhões de pessoas abaixo do limiar da pobreza (554 euros mensais), incluindo bastantes que têm emprego.

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Foram nesse ano mais 12,5% do que no anterior. 

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Ponderado o efeito das prestações sociais (o tal Estado maléfico que os liberais querem diminuir, o mercado resolve), ainda fica 18,4% da população, dado que a pobreza tem crescido.

Francisco Louçã, “Expresso” online (sem link)

 

Durante os últimos 50 anos, as petrolíferas fizeram em média 2,9 mil milhões de euros por dia. Por dia. 

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Construíram um sistema social e tecnológico e um regime político completamente viciados em petróleo e gás.

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A crise climática produziu este verão situações extremas de seca, incêndios florestais e cheias históricas.

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Em Portugal, avança a desertificação.

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Mas a máquina do capitalismo fóssil não para. Acelera. Lucra como nunca.

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Ainda antes da invasão da Ucrânia pela Rússia, (…), os preços do petróleo e do gás já estavam a subir. 

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Com a invasão da Ucrânia, o festim tornou-se obsceno. 

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O primeiro semestre de 2022 foi provavelmente o mais rentável de sempre na história da indústria petrolífera. 

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A Saudi Aramco, a maior petrolífera do mundo, fez 287 mil milhões de euros de lucro nos últimos doze meses, próximo do PIB da Finlândia.

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As petrolíferas triplicaram os seus lucros no primeiro semestre deste ano, mais de 103 mil milhões de euros.

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A inflação com que nos bombardeiam todos os dias tem uma fonte inequívoca: a energia fóssil.

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Perante a sabotagem dos NordStream 1 e 2 (…) a OPEP, a organização dos países produtores de petróleo e gás, decidiu cortar drasticamente a sua produção para aumentar os preços de novo.

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Estas manobras são a origem da crise de preços que vivemos hoje.

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A inflação ainda não parou de subir.

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Os produtos vão ficar mais caros e a comida ainda mais.

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E não vai parar com a austeridade encapotada de subir salários abaixo da inflação.

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Temos um problema existencial e conjuntural que se chama a indústria fóssil. 

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[Para além da aberração económica estamos perante a] aberração suicida que é continuar a mandar milhões de toneladas de metano e dióxido de carbono para a atmosfera.

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Somos, há muito, liderados por loucos que obedecem a sociopatas.

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As indústrias petrolíferas têm de cessar de existir. 

João Camargo, “Expresso” online

 

Por esse país fora, partidos com maioria absoluta oferecem vereações a quem foi eleito pela oposição.

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É vantajoso para os partidos que estão no poder, que neutralizam qualquer tipo de escrutínio. 

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Por mais que agrade a todos, a captura dos vereadores da oposição é perversa.

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Reduz a sua predisposição para cumprir a sua ação fiscalizadora, criando uma incompatibilidade política entre a pertença ao executivo e o dever de lhe fazer oposição. 

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E dá falta de coerência política aos executivos.

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O desenho institucional e eleitoral autárquico que tem promovido o caciquismo local (só um pouco atenuado pelo limite de mandatos) e a ausência de alternativas.

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Temos de democratizar as autarquias, clarificando o papel de quem governa e de quem faz oposição.

Daniel Oliveira, “Expresso” online (sem link)

 

Quem presta o seu trabalho a um empregador chama-se trabalhador.

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Chamar-lhe colaborador é uma operação de charme, uma aparente promoção do seu estatuto à igualdade ou horizontalidade relativamente aos empregadores.

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Sucede que aquela igualdade ou horizontalidade não existe numa relação de trabalho e não há operação de charme que mude a essência desta relação.

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Dispensar também não tem o mesmo significado que despedir.

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Por um lado [os trabalhadores] são tratados como se não fossem subordinados mas sim pares ou cooperantes e, por outro, já não passam pelo processo carregado do despedimento e são meramente dispensados.

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Mudam as palavras que se usam para chamar as coisas, mas as coisas continuam a ser exatamente o que são.

Carmo Afonso, “Público” (sem link)


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