(…)
Contração dos rendimentos, desvalorização do Parlamento,
substituição do diálogo com os partidos de esquerda pelos “acordos de regime”
com o PSD, os patrões e a UGT.
(…)
No acordo de rendimentos para o setor privado, assinado no
início deste mês, o que coube aos trabalhadores? Uma promessa.
(…)
Uma promessa cujo cumprimento está dependente da negociação
coletiva e que, na melhor das hipóteses (…) equivalente a um salário por
ano (de entre os 14 que quem tem contrato recebe).
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No imediato, o acordo apenas traz a certeza do empobrecimento.
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Em troca da aceitação desta perda real em 2023, com a meta
dos 5,1%, a UGT renegou o essencial do seu programa, aprovado por unanimidade
há apenas um mês.
(…)
Aos patrões, pelo contrário, foi garantido um conjunto de
volumosas borlas fiscais.
(…)
O Governo não se atreve a estimar quanto perderá o Estado
nesta oferenda.
(…)
Na Administração Pública, o acordo, recusado pela Frente
Comum, da CGTP, aponta para atualizações de salário numa média de 3,9%. De
novo, perda de rendimento real face à inflação.
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Para a maioria dos salários da administração pública, 2023
será um ano de corte real, que se soma a uma perda acumulada de vários anos.
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De facto, para além de todas as limitações, ele [o acordo
para o setor público] tem um gigantesco buraco: ficam de fora as carreiras especiais.
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Tudo somado, para lá do fervor dos anúncios e das cerimónias
destinadas a mostrar que está tudo a “remar para o mesmo lado” (o do Governo,
claro), o que fica é muito pouco.
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[Sabe-se que] em Espanha, se acordou por exemplo um
aumento retroativo a janeiro deste ano para compensar a inflação de 2022, que
será pago aos funcionários públicos numa única prestação até dezembro.
(…)
[Mas em Espanha] o PSOE não tem maioria absoluta. E isso faz
muita diferença.
A ideia [do liberalismo] era maravilhosamente simples: os
mercados serão umas amibas translúcidas em que todos prosperam, desde que cada
pessoa prossiga implacavelmente a sua vantagem pessoal contra todas as outras.
(…)
Milton Friedman, que não tinha medo das
palavras, chamou-lhe o triunfo da “ganância”.
(...)
A ideia deu origem a
uns percalços políticos, como o apoio a ditaduras. (…) e nos Estados
Unidos os liberais mais destacados opuseram-se às leis dos direitos civis e ao
ensino não-discriminatório.
(…)
A ganância é a tua
vantagem e, ao mesmo tempo, é o que garante o progresso da sociedade, deve por
isso ser a lei da Terra.
(…)
É de ter pena do
coitado do liberal que se meteu nos assados da teoria e da sua prática que,
como sempre, é posta à prova quando a vida impõe escolhas.
(…)
Ao escolher-se a si
próprio, o nosso liberal trai o mercado em que tanto confiava nas suas palavras
e ações.
(…)
O dramalhão liberal é
que a teoria fracassa se a prática fizer a escolha racional.
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Enquanto era só
conversa e promessa de baixar os impostos para que toda a gente pensasse que
assim compraria um Tesla ou um cabaz de criptoativos, era fácil.
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E quando o mercado se
zangou com a baixa dos impostos por Liz Truss, a culpa foi obviamente do José
Sócrates de 2009.
(…)
Mas, senhor, quando lhe
bate à própria porta a conta da energia, vai o nosso liberal defender-se e
trair o mercado, ou vai-se sacrificar no altar da teoria protegendo o mercado
e, portanto, desmentindo a teoria que lhe assegurava que essa harmonia
celestial era inabalável?
Francisco
Louçã, “Expresso” (sem
link)
Com este orçamento, é indesmentível que:
os professores perderão poder de compra; os professores do continente
continuarão à espera de serem ressarcidos do tempo de serviço sonegado
(enquanto os colegas da Madeira e dos Açores já o recuperaram); os professores
dos quadros continuarão à espera da abolição das iníquas quotas para progressão
na carreira; os professores contratados continuarão vítimas da precariedade; o
país continuará a ver crescer o número de alunos sem todos os professores.
(…)
Este OE é vazio de incentivos à
colocação de docentes nas zonas críticas e à atracção dos jovens para a
profissão.
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A portaria n.º 723/2022 autoriza que se
torrem 408.906,80€ na contratação de 7496 juntas médicas, para fiscalizar os
professores que pediram mobilidade por doença.
(…)
Trata-se de uma tarefa impossível,
segundo o vice-presidente da Federação Nacional dos Médicos, que tem por único
objectivo lançar lama sobre médicos e professores.
(…)
Ainda a propósito deste processo
grotesco, relembro que João Costa disse haver, por semana, mil baixas por
doença, apresentadas por professores. Manhosamente, não as reduziu a termos percentuais.
(…)
Será que o ministro da
Educação vai sugerir à colega da Justiça que contrate juntas médicas para
fiscalizar os magistrados?
(…)
Igualmente exemplo duma gestão
desumanizada de pessoas é a situação dos técnicos superiores do Ministério da
Educação (psicólogos, assistentes sociais e terapeutas ocupacionais, entre
outros)
Santana
Castilho, “Público” (sem link)
O que todos esperam é que Sunak governe para os mais ricos e que
defenda políticas que servem os interesses do poder económico.
(…)
Sunak não servirá de exemplo como
defensor das comunidades [hindus] que integram as suas origens, mas há uma
lição muito importante que já conhecíamos e que confirmamos no seu percurso:
nada molda mais uma pessoa do que as suas condições socioeconómicas.
(…)
Qual a relevância de
estarmos perante um primeiro-ministro com uma cor de pele diferente da de todos
os anteriores? Nenhuma.
(…)
O destaque que poderia merecer a
ascendência de Sunak cai perante o facto de o mesmo representar o paradigma do
último nível do capitalismo, aquele onde está uma percentagem ínfima da
humanidade.
(…)
Cada avanço isolado na luta pelos direitos
das mulheres ou das minorias sem um correspondente avanço nas condições
socioeconómicas das mulheres mais pobres ou das minorias mais desprotegidas é
uma pausa nas próprias lutas.
(…)
A chegada ao
poder de uma mulher que não defenda e não represente as mulheres trabalhadoras
que ganham os salários mais baixos é puramente ilusória para o feminismo.
Carmo Afonso, “Público” (sem
link)
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