(…)
E
pode-se até perguntar como é possível que sejam os mesmíssimos protagonistas a
dizer uma coisa e outra, porventura no mesmo discurso.
(…)
Pois
olhe que esse hábito faz a lei e as últimas semanas deram-nos disto dois
exemplos grotescos.
(…)
O
primeiro exemplo é o da devolução de €1000 milhões que cerca de 300 empresas
receberam na zona franca da Madeira ao longo de 15 anos.
(…)
A
razão para esta decisão é que a legislação europeia, e foi aplaudida pelas
autoridades portuguesas.
(…)
estabelece
que, para beneficiar de generoso benefício em IRC (…), a empresa tinha de criar
emprego. Um posto de trabalho que fosse, não era pedir muito, mas nem isso
acontecia.
(…)
João
Pedro Martins mostrou que um pequeno apartamento no Funchal tinha 1000
empresas; trabalhadores, nem vê-los.
(…)
Passarem
lucros invisíveis e impostos nulos pelos registos tem efeito zero, ao passo que
um posto de trabalho é uma vida.
(…)
As
empresas protestaram, o privilégio é sempre um conforto.
(…)
Como
não devia acontecer, o governo regional defendeu-as, preferindo o benefício
estratosférico aos salários de quem vive na sua terra e, surpresa ou não, o
Terreiro do Paço concordou.
(…)
Falta
uma palavra [dos eurodeputados do PS] sobre o seu Governo, que até pressiona o
tribunal a falsificar as regras.
(…)
Dizem-nos
que precisamos deles [nómadas digitais] (…) para que o país aceite a
condição óbvia de que sejam protegidos por uma lei especial que lhes garanta
impostos acolhedores.
(…)
Entretanto,
a engenharia social do Governo criou duas vias verdes fiscais para estes
‘nómadas’. A primeira já está bem experimentada, é a taxa de 10% de IRS para os
“estrangeiros residentes não habituais”.
(…)
Quem
quer que tenha rendimento coletável mensal acima de €508 paga uma taxa de
14,5%, mas aquele “residente não-habitual” pagará menos, qualquer que seja a
sua pensão ou salário.
(…)
A
segunda invenção fiscal é para os criptoespeculadores.
(…)
Se for
criptolucro, não importa, qualquer que seja o valor, paga zero se esperar um
ano, uma ninharia se não o fizer.
(…)
Isto
não paga como sendo um rendimento — é um privilégio e paga como tal.
(…)
Foi
“um burburinho muito grande” [das Associações da Criptoeconomia] com
essa extravagância de terem de pagar imposto.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
O pior pesadelo para os conservadores
britânicos teve um rosto por 45 dias.
(…)
A demissão de Liz Truss, inevitabilidade
num Governo com a primeira-ministra mais irresponsável e impreparada de que há
memória, foi o último acto de um percurso meteórico de seis semanas.
(…)
Foi preciso mercado e mais Estado para
lidar com a hecatombe provocada por tanta fé do "think tank" liberal
na lírica mão invisível de Smith.
(…)
Não é só o Reino Unido que mergulha em
mais uma crise de sucessão, é o Partido Conservador que trata de tentar escapar
à morte.
(…)
Muitos são aqueles que defendem o
regresso do ex-primeiro ministro [Boris].
(…)
Um contra-senso, regresso ao passado
demasiadamente próximo e um tiro no pé que os conservadores certamente evitarão.
(…)
A aposta numa solução de rigor técnico e
de aventureirismo-zero é o único caminho que permitirá encurtar distâncias para
o Partido Trabalhista de Keir Starmer até às próximas legislativas.
(…)
Poderá ser o povo a declarar a
independência do Reino Unido em relação ao Partido Conservador.
Havia
alguma curiosidade em saber como reagiria publicamente a IL à catastrófica
saída de Liz Truss na sequência da sua ainda mais catastrófica desacreditação
política.
(…)
Os 45
dias de Liz Truss foram a melhor (no sentido de a mais aproximada)
concretização de uma visão política, e económica, neoliberal e das respectivas
consequências na economia e nos mercados.
(…)
O colapso de Liz Truss representaria sempre
um golpe na credibilidade da IL, mas, e como em política as pessoas se atrevem
pelas mais improváveis escapatórias, tínhamos de esperar pela defesa do
partido.
(…)
A IL
poderia ter dito várias coisas e, por muito que não tivesse razão nas suas
alegações, elas seriam sempre discutíveis.
(…)
A
análise de uma catástrofe é sempre complexa e nessa complexidade existe a
margem necessária para negar ciências exatas como a de estabelecer uma relação
causa/efeito entre as políticas em causa e os impactos a que todos assistimos.
(…)
Mas não. Os liberais, que já nos tinham habituado à extrema
criatividade através dos seus cartazes, não desiludiram.
(…)
Pode
até continuar a defender essas políticas depois de se terem revelado
desastrosas, mas, em princípio, não deveria poder descer a este nível de
desonestidade. Mas pode.
(…)
[Liz Truss] diminuiu a receita fiscal entre
os mais ricos, mas acabou por assustar os próprios mercados financeiros e
provocar uma queda acentuada no valor da moeda.
(…)
Mas vamos à análise da IL: Liz Truss aumentou a dívida
pública como os socialistas fazem.
(…)
Não é má análise política o que está aqui em causa. É apenas
sobrevivência e a mais descarada lata.
(…)
[A IL] encarregou-se em definitivo de
mostrar quem é: um grupo de irresponsáveis que acreditam que conseguem
confundir os portugueses sobre o que é socialismo e o que é liberalismo.
(…)
O neoliberalismo já tinha dado grandes provas de não
funcionar, mas nunca tinha sido tão rápido.
Carmo Afonso, “Público” (sem link)
É
conhecido que o sistema alimentar de hoje apresenta fragilidades, pois muito
embora a quantidade de alimentos que produzimos anualmente continue a aumentar
(mas com enorme impacto ambiental), o número de pessoas que vive sem acesso a
alimentos e em insegurança alimentar mantem tendência crescente.
Marta Correia, “Público” (sem link)
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