(…)
Nenhum outro estado norte-americano tinha até
agora eliminado mandatos de vacinação de forma tão ampla e abrupta.
(…)
Pode parecer uma questão distante em Portugal.
Contudo, num mundo globalizado, decisões locais têm consequências globais.
(…)
A
Florida é um destino turístico, com milhões de visitantes anuais. Ao reduzir a
cobertura vacinal, aumenta-se o risco de reintrodução de doenças controladas ou
erradicadas, como o sarampo e a poliomielite.
(…)
Do
ponto de vista político, esta decisão insere-se numa estratégia do governador
Ron DeSantis e do cirurgião-geral Joseph Ladapo de suposta “liberdade médica”.
(…)
A retórica é clara: menos intervenção do Estado
e mais escolha individual.
(…)
Esta visão
ignora um princípio básico da saúde pública: as vacinas não protegem apenas
quem as recebe, mas toda a comunidade.
(…)
Nos Estados Unidos, a vacinação tem sido uma
área consensual, com divergências pontuais por motivos religiosos ou culturais.
(…)
A Florida rompe com esse equilíbrio, podendo
abrir caminho para um mosaico de políticas estaduais drasticamente diferentes
entre si.
(…)
A ala moderada [do Partido Republicano] alerta
para os riscos de saúde pública e para a perda de confiança nas vacinas.
(…)
Este debate mostra como a saúde pública se
tornou um campo de batalha ideológico, com implicações eleitorais.
(…)
Estimativas
da autoridade de saúde norte-americana indicam que as vacinas em crianças
nascidas entre 1994 e 2023 pouparam 2,7 biliões de dólares (…) prevenindo milhões de hospitalizações e
mortes.
(…)
A
Florida não só expõe a população a riscos evitáveis como cria custos acrescidos
para o sistema de saúde, para as famílias e para a economia.
(…)
[Esta decisão] demonstra como questões
científicas são instrumentalizadas, transformando uma medida técnica num campo
de batalha ideológico.
(…)
Robert F. Kennedy Jr.,atual secretário de Saúde dos EUA, têm
repetidamente difundido números incorretos sobre vacinas, alimentando a
desconfiança.
(…)
A importância do Programa Nacional de Vacinação
português, que é uma referência internacional.
(…)
O caso da Florida não é apenas uma curiosidade
distante.
(…)
O que está em jogo não é a liberdade
individual, mas a responsabilidade política de salvar vidas.
Tiago Correia, “Público”
(sem link)
A 27
de agosto, o secretário da Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos (HHS, na
sigla em inglês), Robert F. Kennedy (R.F.K.) Jr. despediu sumariamente Susan
Monarez, diretora dos Centros de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC), a
principal autoridade de saúde pública dos EUA.
(…)
A importância dos CDC estende-se para além das
fronteiras dos EUA.
(…)
É,
pois, fulcral, que as suas decisões e recomendações estejam ancoradas na mais
sólida evidência científica disponível e sejam totalmente imunes a preconceitos
ideológicos ou políticos.
(…)
Pouco
antes da nomeação de Susan
Monarez, Kennedy tinha despedido todos os membros do Comité Consultivo
sobre Práticas de Imunização (ACIP), um grupo independente de aconselhamento
sobre vacinas.
(…)
Ao mesmo tempo, nomeou um conhecido antivaxxer para liderar um estudo sobre segurança vacinal.
(…)
Susan Monarez pagou com o seu emprego o preço
de defender a ciência e proteger a integridade dos CDC.
(…)
O despedimento de Monarez teve como
consequência imediata o pedido de demissão de diversos altos responsáveis
veteranos da agência.
(…)
No fundo, algo que provavelmente agrada a
R.F.K. Jr. e que encaixa na sua atitude de desprezo pela ciência.
(…)
R.F.K.
Jr. prometeu reformar o sistema de saúde. No entanto, concluiu Monarez, o que
está a acontecer “não é reforma, é sabotagem.”
(…)
O que [R.F.K.
Jr.] está a fazer é a delapidar o HHS, eliminando múltiplas divisões desta
agência, promovendo alterações radicais nas suas prioridades, e despedindo
10.000 funcionários de uma assentada.
(…)
As
suas posições sobre a vacinação contra o sarampo ajudaram a confundir a
comunicação sobre um surto desta doença que já matou duas crianças.
(…)
A
instrumentalização e politização da saúde pública por parte do secretário de
Saúde Kennedy coloca não só em risco as vidas de muitos cidadãos americanos,
mas enfraquece também todo o edifício médico-científico global.
(…)
A
partilha de conhecimentos, cada vez mais um elemento vital dos avanços da
ciência e da medicina, requer uma comunicação fluida entre instituições
robustas
Miguel Prudêncio, “Público” (sem link)
O problema do Chega é, à partida, o problema de
qualquer partido de perfil autoritário: o culto do líder.
(…)
É uma pescadinha de rabo na boca, em que a dependência do líder alimenta a dependência do líder.
(…)
Agora,
mesmo com 23% e 60 deputados, Ventura só tem Ventura.
(…)
O que não deixa de ser espantoso é que a esquerda (…) não seja capaz de arranjar um candidato abrangente e
mobilizador para chegar à segunda volta.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
[No mesmo dia em que tanques de Israel
avançam sobre a cidade de Gaza, para] Navi Pillay, ex-Alta
Comissária da ONU para Direitos Humanos, trata-se de uma "campanha
genocida" orquestrada pelo mais alto escalão do governo israelense.
(…)
A gravidade do momento se estende ao campo
diplomático.
(…)
Mesmo abrigando lideranças do Hamas, o Catar se
consolidou como mediador indispensável.
(…)
O Conselho de Cooperação do Golfo (GCC) pediu
que os Estados Unidos usem sua influência para conter Israel.
(…)
Assinados
em setembro de 2020 na Casa Branca, os Acordos de Abraão romperam com décadas
de consenso árabe, que condicionava a normalização com Israel à criação de um
Estado palestino.
(…)
Hoje, porém, o custo de aderir ou manter esses
acordos aumentou exponencialmente.
(…)
O otimismo em torno das negociações mediadas
pelo Catar, compartilhado por Trump e outros líderes, está se esgotando
rapidamente.
(…)
A incapacidade de atores multilaterais de frear
a escalada revela uma crise maior.
(…)
O desespero [de milhares de palestinos e,
possivelmente, reféns israelenses] é compartilhado, mas as respostas
internacionais continuam paralisadas entre condenações retóricas e interesses
estratégicos.
(…)
[O que está em jogo é] a própria credibilidade
da ideia de que existe uma ordem global capaz de conter a violência de Estados
armados.
Mariana Pereira
Guimarães, “Público” (sem link)
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