(…)
O multilateralismo respeitador dos direitos dos
povos e dos países foi reclamado em muitos discursos, mas é evidente a sua
crise.
(…)
A realidade cognitiva do presidente dos EUA é
complexa e ele usa-a na produção de imprevisibilidades e "gafes". Num
curto espaço temporal diz tudo e o seu contrário sobre qualquer tema.
(…)
Muitos líderes reclamaram reformas na
estruturação e nas missões da ONU, mas o ator que mais beneficiou da sua
existência, os EUA (juntamente com alguns dos seus aliados), fez ataques
negacionistas à sua missão e ação.
(…)
Houve reclamação de soluções para as mudanças climáticas
e ambientais, para o combate à fome, para uma mais justa distribuição da
riqueza e para o trabalho digno, para o respeito pela igualdade entre os seres
humanos, para que a ciência e a tecnologia estejam ao serviço de todos, mas
Trump e seus seguidores esconjuraram tais objetivos.
(…)
Trump e seus seguidores tomaram a presunção da
impunidade.
(…)
Líderes de "países emergentes" (Lula
é um exemplo) rechaçaram a subserviência e afirmaram-se protagonistas para um
mundo novo.
(…)
[Lideres europeus] evidenciaram um enorme medo
em sair debaixo da asa protetora [dos EUA].
(…)
O neoliberalismo vai deixando claro que não é
portador de alternativa para a governação das sociedades e que para prosseguir
os seus objetivos precisa das forças ultraconservadoras e fascistas nos
governos.
A iminente entrada em vigor do Tratado do
Alto-Mar (…) marca uma transformação histórica na governação global dos
oceanos.
(…)
Durante
décadas, o alto-mar foi uma mancha cinzenta no direito internacional no qual o
princípio da "liberdade do alto-mar" frequentemente se traduzia em
exploração descontrolada.
(…)
O
futuro do oceano deixa de ser uma aspiração e torna-se um compromisso jurídico
vinculativo para todos os países que dele queiram fazer parte.
(…)
A capacidade de estabelecer AMP [áreas marinhas
protegidas] no alto-mar está no cerne desta nova era.
(…)
Estas áreas, interligadas por correntes que
conectam ecossistemas distantes, funcionam como santuários que impulsionam a
saúde dos ecossistemas.
(…)
Contribuem ainda para a recuperação de espécies
migratórias e populações sobrexploradas.
(…)
Isto é uma mudança radical para a
biodiversidade do nosso planeta.
(…)
[O
alto mar] é o coração do oceano global, com as suas correntes a atuarem como
autoestradas para a vida marinha, ligando ecossistemas distantes.
(…)
Contudo, o sucesso do tratado depende de ser
verdadeiramente global e equitativo.
(…)
As disposições sobre Capacitação e
Transferência de Tecnologia Marinha são cruciais.
(…)
Isto é
uma questão tanto de justiça como de eficácia deste regime; sem o seu [de todas
as nações] envolvimento pleno, não haverá proteção eficaz e global do oceano.
(…)
Alinhada com a sua missão, a Fundação Oceano
Azul está empenhada em transformar este tratado em ações concretas.
(…)
Em
paralelo, contribuirá para a criação da primeira geração de AMP no alto-mar,
procurando salvaguardar a sua implementação de acordo com os mais exigentes
critérios de governação.
(…)
Apesar das 60 ratificações serem uma conquista,
a universalização é essencial: quanto mais partes, maior a eficácia e
abrangência.
(…)
Quando o mundo se une, é possível forjar uma
nova era de ação coletiva pelo futuro do nosso planeta.
Sérgio Carvalho, “Público”
(sem link)
Hoje [26 de setembro] assinala-se a Noite Europeia
dos Investigadores (NEI).
(…)
Nos últimos anos, a efeméride tem sido pautada,
(…) por protestos da comunidade científica.
(…)
A
situação atual confere qualquer coisa próxima de uma verdadeira crise
institucional, em grande medida porque o Governo é o primeiro ator a
menosprezar a própria carreira científica.
(…)
[O ministro Fernando Alexandre] extinguiu
a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), aumentou o valor das propinas e
ainda se deu ao luxo de participar numa lamentável troca
de galhardetes com o reitor da Universidade do Porto.
(…)
[O
Governo trata] a comunidade académica não enquanto tal, mas como um mero
instrumento para responder a outros interesses que não os do bem comum.
(…)
O caso particular da extinção da FCT é uma boa
fotografia da crise institucional a que assistimos.
(…)
Aproveitando
o descontentamento generalizado da classe profissional de investigadores com o
funcionamento do sistema, toma-se uma medida que cria ainda mais alarme.
(…)
Após as
críticas, que tiveram origem nas mais diversas esferas políticas e sociais,
o Governo entendeu apresentar um número teatral onde se mostrava inteiramente
disponível para um debate aberto e inclusivo sobre o futuro da investigação
científica no país.
(…)
[Soubemos]
através dos órgãos de comunicação social que a futura agência será uma
sociedade anónima, à imagem da Agência Nacional de Inovação (ANI), também
envolvida no processo de criação desta nova entidade.
(…)
Não sei se o que o país precisa é de uma
sociedade anónima a gerir os dinheiros públicos da ciência.
(…)
Continuamos
na cauda da OCDE no que toca à percentagem de investimento do produto interno
bruto (PIB) em investigação científica, muito longe de alcançar o valor de 3%,
tantas vezes prometido pelos sucessivos governos.
(…)
Gerações
e gerações de investigadores que, desde o seu doutoramento, não conhecem outra
realidade laboral que não sejam bolsas precárias, contratos a prazo e
intervalos sem trabalhar sem sequer terem acesso a subsídio de desemprego.
(…)
Parece que no país da precariedade perde a aura
quem luta pelos seus direitos.
Luís Monteiro, “Público”
(sem link)
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