(…)
São poucas as pessoas que falam publicamente
sobre o seu próprio caso.
(…)
Há vários fatores que contribuem para isto,
sendo um deles a privacidade.
(…)
Muitas vezes só sabemos que alguém que nos é
próximo passou por um aborto espontâneo de uma gravidez desejada quando também
nos acontece a nós.
(…)
Desta forma, a perda gestacional continua um
tabu, embora seja muito comum.
(…)
Não se está a dar a devida importância à
necessidade de fazer o luto de uma perda gestacional de uma gravidez desejada.
(…)
Só quem passa por algo assim sabe a dor
familiar que causa. Não desejaria tal coisa à pior pessoa do mundo.
(…)
Quem
está a fazer o luto sente-o por dentro, a correr nas veias.
(…)
[Aquela
mulher e aquela família] perderam os sonhos acordados de um futuro que já não é
possível da maravilhosa forma que tinham imaginado.
(…)
Neste panorama, o governo português teve o
desplante de propor acabar com os míseros três dias de faltas justificadas
previstas no Código de Trabalho.
(…)
O
luto de uma perda gestacional não se faz num fim-de-semana prolongado.
(…)
Neste contexto, como resposta à proposta
referida do governo, (…) a Ordem dos
Psicólogos propõe aumentar para até 20 dias o período de ausência justificada
no trabalho.
(…)
Mesmo olhando pela lente capitalista do Estado,
retirar o direito ao luto com faltas justificadas é contraproducente, já que a
rentabilidade de uma trabalhadora ou um trabalhador (…) será muito
menor, comparando com alguém que fez o devido luto.
(…)
[Devemos
olhar esta questão] como empatia humana, como o cuidado em relação ao outro. Um país não é feito de capital, é feito de pessoas.
(…)
O processo de luto deve ser feito devidamente,
com apoio psicológico e familiar.
(…)
Precisamos de apoio psicológico e empatia do
Estado.
(…)
Ninguém merece um governo que não apoie ao
máximo as pessoas que lhe deram o poder de governar.
A 80.ª Assembleia Geral das Nações Unidas será
uma das mais importantes de sempre.
(…)
Estamos num momento-chave. Um momento que exige
uma posição determinada e visionária.
(…)
Portugal tem de se empenhar com determinação na
promoção dos direitos humanos com ações tangíveis e eficazes durante as
sessões de trabalho da 80.ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas
(AGNU80).
(…)
Esse empenho tem de ter uma tradução prática no
compromisso total com o direito internacional humanitário.
(…)
A
Amnistia Internacional pede ao Governo português que deixe claro, no seu
discurso perante a Assembleia, que o genocídio
de Israel contra os palestinianos em Gaza deve terminar imediatamente.
(…)
Portugal
tem de assumir compromissos firmes no que diz respeito à urgência de todos os
Estados cumprirem as suas obrigações internacionais.
(…)
Tem de
se pôr fim a qualquer comércio ou transferências de bens que contribuam para ou
estejam ligados ao genocídio de Israel, à sua ocupação ilegal do território
palestiniano e ao seu sistema de apartheid.
(…)
Em Gaza, mas também noutras partes do mundo, as
instituições internacionais são cada vez mais desrespeitadas.
(…)
[É mais importante que nunca] um compromisso
genuíno dos Estados-membros da ONU em proteger os direitos de todos.
(…)
Na
Amnistia Internacional pedimos ao Governo português que defenda as vítimas e
sobreviventes de violações dos direitos humanos e aqueles que trabalham
incansavelmente para proteger esses direitos.
(…)
Encorajamos
Portugal a falar abertamente sobre a difícil situação enfrentada pelos
defensores dos direitos humanos e o papel essencial que desempenham.
(…)
Portugal
deve enviar uma mensagem clara sobre a importância do respeito, proteção e
promoção dos direitos das mulheres e raparigas, incluindo a saúde e os direitos
sexuais e reprodutivos.
(…)
A
AGNU80 também terá a importante responsabilidade, juntamente com o Conselho de
Segurança, de organizar o processo para selecionar e nomear o sucessor de
António Guterres quando o seu mandato terminar a 31 de dezembro de 2026.
João Godinho Martins, Diretor-Geral da Amnistia Internacional
– Portugal, “Público” (sem link)
No
domingo, 21 de Setembro, o Reino Unido, a Austrália, o Canadá e Portugal
anunciaram o reconhecimento
do Estado da Palestina, e Paris seguiu o
mesmo caminho.
(…)
Enquanto gabinetes diplomáticos redigem notas
de reconhecimento, Gaza continua submersa por bombardeamentos, cercos e
projectos furtivos.
(…)
[Os indícios consistentes de genocídio tornaram]
o adiamento do reconhecimento mais difícil de justificar, acentuando, também, o
abismo entre palavras e chão.
(…)
A história do processo israelo-palestiniano tem
sido, também ela, um rochedo empurrado encosta acima, apenas para voltar a rolar.
(…)
Décadas de negociações empurraram, vezes sem
conta, a rocha montanha acima, tentando fixar no cimo a promessa de paz.
(…)
Cada acordo parecia fixar um degrau; cada
colapso devolvia o processo ao fundo do vale.
(…)
Desprovido
de base segura, o labor diplomático oscilava entre a promessa e o cansaço,
sempre sob o peso da pedra pronta a resvalar de novo pela encosta.
(…)
Hoje, a promessa, tantas vezes empurrada
montanha acima, converteu-se num palco erodido onde (…) a população
civil procura salvar fragmentos de vida.
(…)
A 16 de Setembro, colunas de tanques voltaram a
rasgar a faixa.
(…)
Mais de um milhão de pessoas amontoam-se agora
em campos improvisados junto ao mar.
(…)
Mas, por entre as ruínas onde o direito tenta
firmar-se, insinuam-se planos traçados à distância.
(…)
Sem
decisões que fixem o direito no chão – suspender benefícios, controlar
exportações, assegurar que qualquer reconstrução respeite quem habita as ruínas
–, o reconhecimento não passará de um selo protocolar gravado em escombros.
(…)
A
suspensão parcial de benefícios prevista no Acordo de Associação entre a União
Europeia e Israel não exige unanimidade, bastando maioria qualificada.
(…)
Um embargo europeu a componentes militares
lembraria que o direito internacional não é adereço.
(…)
Sem
acção consequente, o reconhecimento do Estado palestiniano será apenas pedra
solta sobre pó, promessa quebrada antes de alcançar o cimo.
Patrícia Akester, “Público” (sem link)
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