quarta-feira, 24 de setembro de 2025

CITAÇÕES À QUARTA (173)

 
Entre 10% a 15% das gravidezes de que se tem conhecimento acontece um aborto espontâneo.

(…)

São poucas as pessoas que falam publicamente sobre o seu próprio caso. 

(…)

Há vários fatores que contribuem para isto, sendo um deles a privacidade.

(…)

Muitas vezes só sabemos que alguém que nos é próximo passou por um aborto espontâneo de uma gravidez desejada quando também nos acontece a nós. 

(…)

Desta forma, a perda gestacional continua um tabu, embora seja muito comum.

(…)

Não se está a dar a devida importância à necessidade de fazer o luto de uma perda gestacional de uma gravidez desejada.

(…)

Só quem passa por algo assim sabe a dor familiar que causa. Não desejaria tal coisa à pior pessoa do mundo.

(…)

Quem está a fazer o luto sente-o por dentro, a correr nas veias.

(…)

[Aquela mulher e aquela família] perderam os sonhos acordados de um futuro que já não é possível da maravilhosa forma que tinham imaginado.

(…)

Neste panorama, o governo português teve o desplante de propor acabar com os míseros três dias de faltas justificadas previstas no Código de Trabalho.

(…)

O luto de uma perda gestacional não se faz num fim-de-semana prolongado.

(…)

Neste contexto, como resposta à proposta referida do governo, (…) a Ordem dos Psicólogos propõe aumentar para até 20 dias o período de ausência justificada no trabalho.

(…)

Mesmo olhando pela lente capitalista do Estado, retirar o direito ao luto com faltas justificadas é contraproducente, já que a rentabilidade de uma trabalhadora ou um trabalhador (…) será muito menor, comparando com alguém que fez o devido luto. 

(…)

[Devemos olhar esta questão] como empatia humana, como o cuidado em relação ao outro. Um país não é feito de capital, é feito de pessoas.

(…)

O processo de luto deve ser feito devidamente, com apoio psicológico e familiar.

(…)

Precisamos de apoio psicológico e empatia do Estado.

(…)

Ninguém merece um governo que não apoie ao máximo as pessoas que lhe deram o poder de governar. 

Clara Não, “Expresso” online

 

A 80.ª Assembleia Geral das Nações Unidas será uma das mais importantes de sempre.

(…)

Estamos num momento-chave. Um momento que exige uma posição determinada e visionária. 

(…)

Portugal tem de se empenhar com determinação na promoção dos direitos humanos com ações tangíveis e eficazes durante as sessões de trabalho da 80.ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU80).

(…)

Esse empenho tem de ter uma tradução prática no compromisso total com o direito internacional humanitário.

(…)

A Amnistia Internacional pede ao Governo português que deixe claro, no seu discurso perante a Assembleia, que o genocídio de Israel contra os palestinianos em Gaza deve terminar imediatamente.

(…)

Portugal tem de assumir compromissos firmes no que diz respeito à urgência de todos os Estados cumprirem as suas obrigações internacionais.

(…)

Tem de se pôr fim a qualquer comércio ou transferências de bens que contribuam para ou estejam ligados ao genocídio de Israel, à sua ocupação ilegal do território palestiniano e ao seu sistema de apartheid.

(…)

Em Gaza, mas também noutras partes do mundo, as instituições internacionais são cada vez mais desrespeitadas.

(…)

[É mais importante que nunca] um compromisso genuíno dos Estados-membros da ONU em proteger os direitos de todos.

(…)

Na Amnistia Internacional pedimos ao Governo português que defenda as vítimas e sobreviventes de violações dos direitos humanos e aqueles que trabalham incansavelmente para proteger esses direitos.

(…)

Encorajamos Portugal a falar abertamente sobre a difícil situação enfrentada pelos defensores dos direitos humanos e o papel essencial que desempenham.

(…)

Portugal deve enviar uma mensagem clara sobre a importância do respeito, proteção e promoção dos direitos das mulheres e raparigas, incluindo a saúde e os direitos sexuais e reprodutivos.

(…)

A AGNU80 também terá a importante responsabilidade, juntamente com o Conselho de Segurança, de organizar o processo para selecionar e nomear o sucessor de António Guterres quando o seu mandato terminar a 31 de dezembro de 2026.

João Godinho Martins, Diretor-Geral da Amnistia Internacional – Portugal, “Público” (sem link)

 

No domingo, 21 de Setembro, o Reino Unido, a Austrália, o Canadá e Portugal anunciaram o reconhecimento do Estado da Palestina, e Paris seguiu o mesmo caminho.

(…)

Enquanto gabinetes diplomáticos redigem notas de reconhecimento, Gaza continua submersa por bombardeamentos, cercos e projectos furtivos.

(…)

[Os indícios consistentes de genocídio tornaram] o adiamento do reconhecimento mais difícil de justificar, acentuando, também, o abismo entre palavras e chão.

(…)

A história do processo israelo-palestiniano tem sido, também ela, um rochedo empurrado encosta acima, apenas para voltar a rolar.

(…)

Décadas de negociações empurraram, vezes sem conta, a rocha montanha acima, tentando fixar no cimo a promessa de paz.

(…)

Cada acordo parecia fixar um degrau; cada colapso devolvia o processo ao fundo do vale.

(…)

Desprovido de base segura, o labor diplomático oscilava entre a promessa e o cansaço, sempre sob o peso da pedra pronta a resvalar de novo pela encosta.

(…)

Hoje, a promessa, tantas vezes empurrada montanha acima, converteu-se num palco erodido onde (…) a população civil procura salvar fragmentos de vida.

(…)

A 16 de Setembro, colunas de tanques voltaram a rasgar a faixa.

(…)

Mais de um milhão de pessoas amontoam-se agora em campos improvisados junto ao mar.

(…)

Mas, por entre as ruínas onde o direito tenta firmar-se, insinuam-se planos traçados à distância. 

(…)

Sem decisões que fixem o direito no chão – suspender benefícios, controlar exportações, assegurar que qualquer reconstrução respeite quem habita as ruínas –, o reconhecimento não passará de um selo protocolar gravado em escombros.

(…)

A suspensão parcial de benefícios prevista no Acordo de Associação entre a União Europeia e Israel não exige unanimidade, bastando maioria qualificada.

(…)

Um embargo europeu a componentes militares lembraria que o direito internacional não é adereço.

(…)

Sem acção consequente, o reconhecimento do Estado palestiniano será apenas pedra solta sobre pó, promessa quebrada antes de alcançar o cimo.

Patrícia Akester, “Público” (sem link)


Sem comentários:

Enviar um comentário