Há certamente na longa sequência do ADN um qualquer gene da crueldade que
molda o cromossoma humano, mas ninguém faz o mal com tanto entusiasmo e tamanha
alegria como quem tem uma fé à prova da clemência e uma devoção que exonera a
compaixão.
Das instituições que levaram a perversão a maiores requintes, a tortura a
mais elevados níveis e o êxtase pelo sofrimento alheio a um grau de felicidade
tamanho, destaca-se a Inquisição, essa máquina sinistra para matar hereges,
bruxas, judeus, não deixando sem castigo a adivinhação, a feitiçaria ou a
bigamia.
Em Portugal, foram os santos frades dominicanos que entusiasticamente se
dedicaram à incineração dos vivos e à exaltação criativa para ampliar e
prolongar o sofrimento, para maior glória de Deus e purificação das almas dos
réprobos.
Na Península Ibérica assistiu-se a esta curiosidade sinistra, países onde a
Reforma nunca chegou, motivo do atraso dos seus povos, mas que exigiram a
Inquisição, o instrumento mais cruel da Contrarreforma. Era a piedade dos reis
que via nos padecimentos de quem não seguisse a religião verdadeira, ou quem
pecasse contra ela, a forma de assegurarem a viagem para o Paraíso.

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