(…)
De tão habituados à farsa do investimento público estratégico, já
nem se duvida de que os Orçamentos convivem com a ilusão.
(…)
No entanto, há este ano uma particularidade, de que o Governo
cuida minuciosamente: a preparação das eleições europeias.
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É nesses três grupos sociais [jovens, classes médias e reformados]
que [o PS] quer recuperar perdas.
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Quer tranquilizar os pensionistas depois de os ter apavorado [nas
últimas legislativas] com a ameaça de corte futuro de pensões.
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Aos jovens oferece tudo o que veio à cabeça de algum guru de comunicação.
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A ideia é que, capturando a agenda do PSD e dos liberais, as
eleições ficam no papo.
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Remenda-se a pobreza: um milhão com salário mínimo melhorado, mas
há famílias trabalhadoras abaixo do limiar da pobreza, mais de 300 mil pessoas
precisam de RSI ou CSI.
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Imigrantes ficarão encafuados em contentores.
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Continua a cortar o salário real à maioria da Função Pública e às
empresas oferece mexidas salariais por ajustes fiscais.
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O segundo problema estrutural de que a teimosa realidade não
desiste é o complexo turismo-imobiliário.
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O Governo acordou estremunhado para a crise habitacional.
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Daqui a alguns dez e €15 mil milhões de benefícios fiscais a
residentes não habituais o regime vai acabar.
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Será mantido por incentivos generosos de IRS a 20%, só que não é
para si.
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Morreu a promessa da entrega de casas nos gloriosos 50 anos do 25
de Abril a todos os que dela necessitavam.
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O orçamento promete 6800 fogos para 2026, dos 86 mil que reconhece
necessários.
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O turismo foi descoberto como o petróleo no Beato e está a
destruir a vida nas cidades. Assim vai continuar.
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[O serviço público] acumula o efeito da habitação: uma médica ou
um professor não podem ir trabalhar noutra cidade sem o euromilhões.
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[Para cada profissional do SNS o Governo] recusará carreiras em
exclusividade e acordos salariais e continuará a recorrer a tarefeiros — uma
solução que já falhou.
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Finalmente, a transição ambiental são 4 cêntimos nos sacos de
plástico e uns euros no IUC dos automóveis com 15 anos, vende-se a TAP e venha
novo aeroporto.
Francisco Louçã, “Expresso” (sem link)
De facto, é também na surpresa [do ataque do Hamas] que
reside uma boa dose da incredulidade.
(…)
A guerra nunca se serviu fria, sempre foi era dolorosa e
acumulava vítimas.
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A comunidade internacional cedeu de forma permanente à
geoestratégia e meteu os direitos dos povos num bem particular conceito de saco
regional de guerras que não são as suas.
(…)
É permanente a ideia de que a comunidade internacional julga
o alinhamento das suas guerras pelos seus interesses.
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O Hamas não defende os direitos dos palestinianos.
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Perante a complacência, a incapacidade da comunidade
internacional para gerar consensos é uma máquina imparável de agitação do
paradigma da guerra.
Nunca a esquerda – na história da nossa
democracia – se deixou encurralar como agora.
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A
esquerda está sempre a defender-se e a justificar-se e não acusa a legitimidade
que é precisa para ser ela a exigir explicações.
(…)
A propósito
da escalada no Médio Oriente, a esquerda já teve de afirmar e reafirmar que
condena os ataques do Hamas.
(…)
Também lhe foi exigido que esclarecesse se o
apoio à causa palestiniana não representa um apoio ao próprio Hamas.
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Basicamente, por mais que a esquerda afirme uma
coisa, acusam-na de defender outra.
(…)
Antes
de mais, parte-se de uma posição de desigualdade democrática em que a esquerda
está num patamar inferior: o de quem precisa de dar explicações para ser
aprovado.
(…)
A
seguir, e depois de dadas as explicações, passa por um surreal processo em que,
na prática, é acusada de mentir.
(…)
O
processo é tão perverso que quando alguém, à esquerda, assume uma posição
divergente da posição maioritária, à esquerda, passa à categoria de “pessoa decente”.
(…)
Isto ganhou proporções tais que João Miguel
Tavares (J.M.T.) acabou de decretar que manifestações
pró-Palestina são agora obscenas. O desplante.
(…)
Participaste numa manifestação de apoio à causa
palestiniana? Então aceitas a violência do Hamas. Pumbas.
(…)
[A
esquerda devia tomar uma posição destemida e] exigir que todas estas pessoas e
forças partidárias que lhe exigem justificações viessem esclarecer, por
exemplo, se condenam a ocupação da Palestina.
(…)
Condenar a ocupação, desconfio de que muitos
não consigam.
(…)
Recordem
que a ocupação tem sido repetidamente condenada pela ONU, mas sobretudo
recordem que ela é absolutamente ilegal à luz do direito internacional e que é
a mãe de todos os problemas a que assistimos.
(…)
Nunca devemos pedir desculpa por sermos quem
somos, mas já vi esse dia mais longe.
(…)
Os eleitores apreciam e precisam de quem tem
uma voz destemida.
Carmo Afonso, “Público”
(sem link)
Muitos intelectuais, políticos, jornalistas e
activistas israelitas, que sabiam muito mais do que eu, advogavam a solução dos
dois Estados.
(…)
Israel foi virando à direita (pela chegada de
outros tempos e de quase um milhão de judeus da ex-União Soviética que
traziam o anticomunismo à flor da pele e a aversão à esquerda como prática
quotidiana).
(…)
A Fatah (a maior força política dentro da OLP)
perdia-se nas suas próprias contradições internas e ganhava força o Hamas
organização fundamentalista que Israel tanto incentivou e deu força.
(…)
Em
resultado disso, o poder político palestiniano fragmentou-se, as divisões
acentuaram-se e, com a vitória do Hamas nas eleições de 2006 e a subsequente
guerra com a Fatah.
(…)
Os dois territórios não contíguos que compõem a
Autoridade Palestiniana passaram a ter administrações diferentes.
(…)
Em vez da solução dos dois Estados, o problema
das duas Palestinas.
António Rodrigues, “Público”
(sem link)
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