sábado, 21 de outubro de 2023

MAIS CITAÇÕES (254)

 
A Europa está refém da culpa do Holocausto desde a II Guerra Mundial. Mas honrar a memória do Holocausto será travar a mortandade em Gaza agora.

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Essa memória foi traída até chegarmos a isto: 2,3 milhões de pessoas trancadas num gueto, bombardeadas dia e noite, metade das quais deslocadas, sem água, comida, assistência.

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[Os 700 mil colinos que Israel implantou na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, de forma ilegal] impedem a “Solução Dois Estados”, como os líderes mundiais — todos eles — estão cansados de saber.

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Há quem fosse criança na Primeira ou na Segunda Intifada, ainda há pouco, agora.

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Depois de Auschwitz houve Hiroxima, e de cada vez nada vimos: nada vimos que nos faça melhores.

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É o Estado de Israel — (…) — ter erguido um muro em torno de cinco milhões de pessoas, e essas vidas desaparecerem do lado de lá.

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Valiam menos que as dos israelitas?

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Cinco milhões é metade de Portugal. E metade desses cinco milhões são crianças.

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Os que visitaram [a Terra santa] nos últimos anos já viram Belém atrás de um muro. O Santo Sepulcro cercado de soldados. A Via Dolorosa cheia de metralhadoras.

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Mas raríssimos puderam entrar em Gaza.

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Em 2006, o Hamas ganhou as eleições gerais palestinianas, uma vitória limpa — e não surpreendente, dado o falhanço da Fatah —, mas que a UE decidiu não reconhecer, colando-se aos EUA nisso, contribuindo para alienar e radicalizar o Hamas.
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Uma oportunidade perdida. Tudo mudou para pior.

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Há muito que os israelitas perderam o contacto civil com o horror do outro lado.

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Portanto, muito pouca gente no mundo entrou em Gaza. As novas gerações de Israel não conhecem a Palestina senão como soldados.

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E foi debaixo de fogo e ocupação, atrás de um muro, entre checkpoints humilhantes, que as novas gerações palestinianas nasceram.

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Alguém acha mesmo estranho que se “radicalizem” jovens assim, presos, sem perspectiva, rodeados de morte?

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Sempre senti que o milagre na Palestina, mas sobretudo em Gaza, era a vida apesar de tudo.

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Toda a gente não ter enlouquecido, apesar de tudo.

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E quem vai justificar isso para as novas gerações pelo mundo? Quem lhes explica porque é que a Europa não trava esta matança?

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A memória do que foi o Holocausto vai da concentração dos judeus em guetos até ao extermínio.

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Somos todos herdeiros dessa memória, de uma forma colectiva e contínua que se pode resumir assim: nunca mais.

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Nunca mais é o espelho que está diante de cada um agora, e esse espelho diz: ainda sou humano?

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Desde o ataque do Hamas a 7 de Outubro, os líderes da União Europeia (UE) não tiveram palavras novas para a escuridão inédita em que estamos.

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É Direito Internacional, resoluções da ONU assinadas pelos países da UE e boa parte do mundo. Mas essa palavra [ocupação] não estava lá.

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Ao longo de todas estas décadas, a Europa falhou em estar à altura do que ela mesma votou.

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Quando isso [direitos humanos, a paz e a civilização] é violado pelo Estado de Israel, os responsáveis da UE não questionam que Israel seja uma democracia, e não forçam a aplicação do que assinaram.

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A inacção da Europa é uma acção contra a sua própria palavra.

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Israel voltou-se para dentro, e o abismo só servirá a extrema-direita, e esse parasita da guerra que é Netanyahu.

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Esta é uma geração madura para uma mudança que não aconteceu na minha.

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Que a Europa ouça esta geração, porque eles sabem tudo sobre urgência. Era ontem, é já.

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Precisamos muito que os líderes da Europa ousem contrapor-se às armas que os EUA empunham já, aliando-se ao governo de Netanyahu.

Alexandra Lucas Coelho, “Público” (sem link)

 

Assinalou-se, na passada terça-feira, o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza.

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Em Portugal há uma enorme condescendência com a pobreza e uma tensão latente entre a cultura da esmola e a cidadania social. 

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Nenhum indivíduo é livre e cidadão pleno, se estiver dependente da vontade de outrem. 

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Alguma vez o Estado social teria avançado sem os estados fixarem aumento da despesa permanente?

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A redução da pobreza monetária tem como variável determinante o aumento dos salários, das pensões e das prestações sociais. 

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[Guterres] denunciou a indiferença dos poderosos perante a crise climática, a crescente falta de água e de condições básicas de saúde, o escorraçar de povos para o abismo.

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Considerou o sistema financeiro que domina o Mundo como “disfuncional” e “moralmente falido”.

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Como é possível, por exemplo, termos uma taxa de pobreza acima de 30% na Região Autónoma da Madeira e vermos governantes com longa responsabilidade a ufanarem-se pelo “desenvolvimento” conseguido com as suas políticas?

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As transferências sociais têm impacto positivo no combate à pobreza, mas têm de ser maiores e os seus focos ampliados para grupos que estão desprotegidos. 

Carvalho da Silva, JN

 

Tudo isto é absurdo. Não é possível tomar partido por Israel em nome de valores que o Exército israelita viola todos os dias. Não é possível tomar partido pelo Hamas que mata e tortura da maneira mais cruel.

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Não é possível tomar partido em nome de valores absolutos que são continuamente desmentidos pela realidade fluente e mutável que lhes escapa.

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Tudo o que se consegue é procurar encaixar os acontecimentos nos valores, avaliar a acção e os comportamentos em função de aproximações relativas ao ideal.

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Na verdade, tornámo-nos, objectivamente, uns grandes cínicos.

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Que fronteira clara separa a retaliação justa da punição inadmissível?

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Quando se trata de julgar o Hamas, só os palestinianos que aderem à doutrina dos dois Estados parecem dispostos a recorrer ao direito internacional e aos seus valores para rejeitar a guerra e promover a paz.

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As sociedades acolhem e convivem, hoje, com um grau de violência como jamais se viu.

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Nesse sentido [da aceitação mais ou menos resignada da barbárie], o conflito Israel-Hamas é a expressão condensada e exemplar dos dilemas e do caos com que se debatem as sociedades democráticas ocidentais.

José Gil, “Público” (sem link)


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