(…)
O 25 de novembro, que o povo apoiou sem alguma vez festejar,
foi necessário para travar a caminhada para o abismo das “vanguardas”.
(…)
Hoje serve para os outros derrotados desse dia (os que Melo
Antunes travou quando queriam a revanche saudosista) tentarem criminalizar essa
explosão inicial, transformando a Revolução num mero golpe de Estado.
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Do 25 de Abril fazem parte o 28 de setembro, o 11 de março, o
25 de novembro. Mas só Abril libertou.
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Resumir essa libertação ao fim da censura e da polícia
política ou à adoção da democracia parlamentar é ignorar o que há mais tempo
oprimia os portugueses: a miséria, a dependência, o favor, a herança.
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O que acabou com a indignidade foram os direitos dos
trabalhadores, o sistema de reformas universal, as férias, o 13º mês, a escola
pública para todos, o Serviço Nacional de Saúde.
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Na justiça, onde está intacto [o corporativismo], alimenta o
justicialismo antidemocrático de uma casta “moralmente superior”.
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Não há liberdade a sério para quem vive em necessidade. Quem
não tem direitos não pode deixar de tirar o chapéu ao patrão que passa. Não há
mulheres livres que não se sustentem a si mesmas.
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Um cidadão não vive em democracia se o medo impera na empresa
onde trabalha. O que libertou e democratizou o nosso país foi, antes de tudo,
uma profunda revolução social.
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Sem exagerar nos resultados, porque ainda somos dos países
mais desiguais da Europa.
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Se a extrema-direita ameaça a democracia política, outros têm
atacado estas conquistas, que veem como um perigo para a liberdade do
privilégio.
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Por estes dias, a (verdadeira) social-democracia chega e
sobra como radicalidade. Quero que alguém se recorde que o 25 de Abril não se
fez para estarmos de acordo.
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Abril deu-nos o direito a sermos do “contra”.
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Por isso o celebramos com uma manifestação de protesto, coisa
incompreensível para estrangeiros que vão espreitar a avenida.
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Conquistámos os instrumentos para decidir o nosso futuro.
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A extrema-direita cresce porque as pessoas precisam que
alguém diga que quer mudar alguma coisa.
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Tanto empenho em defender Abril que nos esquecemos que Abril
nos trouxe o direito à dissidência.
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Se queremos celebrar Abril, reinventemos a desobediência.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
A liberdade chegou como esperança no futuro e os portugueses
desataram a fazer bebés.
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Na última década, a natalidade exibiu níveis historicamente
baixos e em 2013 e 2014, amordaçado pela crise e pela troika, Portugal teve a menor taxa bruta de natalidade de toda a
Zona Euro
(…)
O que sabemos é que as famílias portuguesas adiam cada vez
mais a decisão de ter o primeiro filho.
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Em Portugal, homens e mulheres têm muito menos filhos do que
gostariam, por entenderem que não têm a estabilidade laboral ou a capacidade
financeira para o poder fazer.
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[A crise da natalidade] é um sintoma de uma crise mais
larvar e mais profunda que paira sobre o futuro da sociedade portuguesa no
momento em que a democracia celebra 50 anos.
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Há hoje um estreitamento das possibilidades de futuro dos
mais jovens por comparação com o passado.
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A rutura geracional de hoje não é cultural, é económica.
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Pais e filhos percebem que a possibilidade das gerações mais
jovens virem a ter uma vida decente no país é bem mais escassa do que no
passado.
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A parte da provisão de serviços públicos pelo Estado
melhorou. É no mercado de trabalho que acontece a queda.
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Os salários continuam entre os mais baixos da Europa, a
precarização do trabalho é ainda mais profunda e incapacitante, mas os preços
da habitação, pelo contrário, se aproximaram das grandes capitais europeias.
(…)
Quem avisou para o buraco geracional que se estava a escavar
estava certo - os custos da precarização do trabalho e da habitação estão hoje
à vista.
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Apesar de ter criado um Ministério da Juventude, as políticas
do novo Governo da AD resumem-se a um fingimento de solução.
(…)
A atual crise da democracia é uma crise de futuro.
[Com o 25 de abril de 1974] a igualdade e a justiça surgiam
implícitos ao próprio conceito de democracia.
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Nesta quinta-feira, tivemos as maiores manifestações de
evocação do 25 de Abril feitas na caminhada dos 50 anos da democracia.
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No dia 25 e nos últimos dias, se têm realizado inúmeras
iniciativas amplamente participadas por portugueses de todas as gerações, em
freguesias, vilas e cidades.
(…)
No dia 25, tivemos uma evocação imensa e bonita, com muita
juventude e mais abrangente e inclusiva que outras.
(…)
Para alguns milhões de portugueses, as prioridades enunciadas
pelo Sérgio continuam a estar na primeira linha das reivindicações dos
trabalhadores.
(…)
Temos de reclamar justiça e igualdade: na democracia que
temos vivido, os poderes instituídos e os fátuos têm-se esquecido de as
garantir.
(…)
Grande parte [dos jovens] é desconsiderada nos seus saberes e
capacidades, porque persiste uma economia de baixo perfil de especialização e
uma tolerância inaceitável face à pobreza, aos baixos salários e à precariedade.
(…)
Quanto ao trabalho, emprego e proteção social, o Governo parte
da visão obtida por uma lupa hiperliberal. Nem uma vez o substantivo
“sindicato” aparece no seu programa.
(..)
Neste 1.º de Maio, há que lutar pela liberdade a sério.
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