(…)
[A contrarrevolução pretendia] derrubar o curso
revolucionário pela violência subversiva e pelo golpe armado, visando
instaurar um novo regime autoritário e neocolonial.
(…)
O general Spínola foi a figura de proa da
movimentação contrarrevolucionária.
(…)
A extrema-direita organizou-se clandestinamente
em grupos terroristas com sede na Espanha franquista, responsáveis por inúmeros
atentados bombistas e assaltos violentos contra as sedes e pessoas de partidos
de esquerda e contra a embaixada de Cuba.
(…)
Uma dessas organizações foi o MDLP (Movimento
Democrático para a Libertação de Portugal.
(…)
Alguns operacionais das redes bombistas
organicamente ligadas ao MDLP, foram julgados posteriormente em processos que
condenaram “peixe miúdo”, mas pouparam os mandantes.
(…)
O MDLP era chefiado pelo general Spínola e da
sua direção política (“gabinete político”) fazia parte, entre outros, o atual
deputado e dirigente do Chega, Diogo Pacheco de Amorim.
(…)
Os chefes e quadros do MDLP ficaram impunes e
nunca tiveram de responder pelo bombismo terrorista da responsabilidade desse
movimento.
(…)
Puderam assim, alguns deles, regressar
discretamente à política, refugiados na área do MIRN ou do CDS. Foi o caso de
Diogo Pacheco de Amorim, que naturalmente veio desaguar no Chega de que é
deputado e alto dirigente.
(…)
No que me toca prefiro estar prevenido e atento
contra a armadilha da normalização e do branqueamento da extrema-direita
fascizante e do seu passado terrorista.
Fernando Rosas, “Expresso” online
Uma das grandes transformações desde o 25 de
abril, particularmente intensa na última década [é o aumento
significativo do número de imigrantes em situação regular].
(…)
Temos mais contacto com o mundo, somos mais
livres em tudo, a começar pelas relações que estabelecemos com os outros.
(…)
A presença de tantos trabalhadores migrantes,
essenciais para largos setores da economia, era inimaginável há meio século.
Mudámos e ainda bem.
(…)
O tema das migrações, como se sabe, é um
elemento unificador das extremas-direitas a nível europeu.
(…)
Narrativas nacionalistas, discursos de
estigmatização e criminalização dos imigrantes, defesa da “nossa cultura”
contra a “cultura deles”, tudo isso faz parte de um “núcleo ideológico comum”
das extremas-direitas.
(…)
Quotas para imigrantes, com limites por área
profissional, política inaplicável que existia há vinte anos e que a
experiência condenou porque apenas burocratiza as autorizações de residência de
quem entra (e continuará a entrar se houver emprego).
(…)
A procura de imigrantes é aqui maioritariamente
para setores indiferenciados e que faltam postos de trabalho qualificado para
absorver mão-de-obra, o que explica a emigração de jovens diplomados.
(…)
A imigração é um bem e uma necessidade.
(…)
Tem de ser acompanhada por políticas que
garantam mais habitação acessível para todas as pessoas, fiscalização rigorosa
contra a exploração laboral, integração de trabalhadores de todas as
proveniências na lei do trabalho e na contratação coletiva (…).
(…)
Eis um desafio central para quem quer, 50 anos
depois, defender a democracia contra a mentira.
José Soeiro, “Expresso” online
O povo que ontem saiu às ruas do Porto, Lisboa,
Coimbra, um pouco por toda a parte, não saiu à rua “num dia assim” por uma
razão “sem nome para qualquer fim”. Pelo contrário, repleto de motivações e
causas.
(…)
Para lá do subjectivo, há um sentimento
gregário que pode ter acordado perante o elenco e a objectivação de um inimigo
comum.
(…)
Que estas emocionantes manifestações, à
semelhança de muitas iniciativas que se ergueram por ocasião das comemorações
dos 50 do 25 sirvam para alguns perceberem que só pela multiplicação das
convergências e equilíbrios é possível ser, na força do voto que opera
transformação, o que transparece na força da rua.
(…)
Há uma relevância em ser muito mais quando
unidos, sendo que às vezes parece que é algo que não se sabe.
(…)
Que se cumpra Abril, para sempre e como nunca.
(…)
Seria dogmático pensar que o 25 de Abril só se
comemora à Esquerda, quando a direita democrática também sai à rua e deve
reivindicar o seu património de liberdade.
Estou
convencida de que a maioria dos políticos de direita não sabe bem o que fazer
com o 25 de Abril.
(…)
Não puderam ignorá-lo (…) mas também não
conseguiram celebrá-lo sem uma reserva ou sem uma tentativa de o desvalorizar.
(…)
Parte da bancada do PSD, e o próprio Luís
Montenegro, não usou um cravo na lapela. É um pequeno sinal. Uma maneira de
afirmar que não celebram o 25 de Abril inteiro.
(…)
Celebrámos
os 50 anos do 25 de Abril representados por um
Governo, uma maioria parlamentar e um Presidente da República de direita.
(…)
[Carlos Moedas] não apoiou o Arraial dos
Cravos, no Largo do Carmo, e, com isso, transformou um pequeno evento numa
manifestação imensa.
(…)
Nunca o Carmo esteve tão cheio na véspera do 25
de Abril. Devemos isso a Carlos Moedas.
(…)
[Marcelo] quis ser o foco das atenções e fê-lo
com a subtileza que costumamos atribuir aos elefantes em lojas de louça.
(…)
Suponho que quis mostrar aos portugueses que
fez uma justiça qualquer, [informando-nos que cortou relações com o
filho].
(…)
Esta parte foi só um aquecimento. Num jantar
com jornalistas estrangeiros, fez o pleno.
(…)
Caracterizou o primeiro-ministro como sendo de
um país profundo, urbano-rural, com comportamentos rurais.
(…)
Este
golpe de génio foi apenas ultrapassado pelo momento em que se referiu a António
Costa, um homem lento por ser
oriental.
(…)
A
sensação que temos a ouvir Marcelo é igual à de estar ao telefone com alguém
que julga ter desligado a chamada e desata a dizer coisas inconvenientes.
Preferíamos não ter ouvido.
(…)
O Nuno Melo, que só não risca o 25 de Abril do
calendário porque não pode.
(…)
Mas houve coisas boas. A Avenida da Liberdade
nunca esteve tão cheia, e se já tinha estado no ano passado.
(…)
A
esquerda tem um sítio onde cresce quando encolhe no Parlamento. É a rua. É essa
pertença à rua que não se inventa.
(…)
O 25 de Abril não tem donos, mas tem inquilinos
daqueles à antiga.
Carmo Afonso, “Público”
(sem link)
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