(…)
Como amigos como este, Montenegro não precisa de inimigos.
(…)
Montenegro afasta-se porque, ao contrário do que a direita
nos tentou vender nestes anos, nem ela alguma vez acreditou no valor político e
eleitoral de Passos Coelho.
(…)
[Em 2015, Passos obteve] o segundo pior resultado de sempre
da direita portuguesa, logo depois de Santana Lopes.
(…)
Passos sempre foi um péssimo candidato.
(…)
[É bom recordar] os efeitos profundos e traumáticos da crise
financeira e as coisas absurdas que ele disse aos portugueses enquanto sofriam.
(…)
A outra parte interessante da entrevista é a pequena vingança
de Passos Coelho contra Paulo Portas.
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Que Paulo Portas não é confiável, todos sabemos. Mas também é inteligente e tem experiência política.
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Percebia que não se é comparsa de quem está a intervencionar um país.
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O episódio contado por Passos, que a troika terá exigido que
as cartas com os compromissos do governo passassem a ser assinadas pelo ministro
Paulo Portas, exibe uma falha de caráter e é um elogio a Portas.
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Tiveram a cumplicidade do primeiro-ministro que o escondeu de
um parceiro partidário. À deslealdade de então, juntou a deselegância de agora.
(…)
A defesa quase acrítica que Passos faz da troika, nesta entrevista, não deve ter paralelo em políticos que lideraram países intervencionados.
(…)
[Passos] aproveitou este momento [de intervenção da troika]
para privatizações e reformas que não eram obrigatórias.
(…)
Fica claro, aliás, que devemos ao Tribunal Constitucional o
recuo nas medidas mais cruéis, com negociações e cedências.
(…)
Esse condicionamento institucional [do TC] poderia ter sido
usado como arma negocial [por ele se sentir um mero executante de
imposições externas].
(…)
Passos não é o herói que salvou o país – foi Draghi que pôs
fim à cegueira europeia que nos enfiara naquele buraco.
(…)
É um ativo tóxico. Sempre foi assim que a maioria do país o
viu.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
Uma
pessoa que enfrenta um processo judicial relacionado com a emissão de faturas
falsas para obtenção de fundos europeus, que já foi acusada pelo MP e que se
conformou com essa acusação reúne, afinal, as condições para ser deputada do
PSD.
(…)
Em
primeiro lugar, fica clarificado que Miranda Sarmento sabia do caso, o que é
extraordinário. Depois, não se percebe muito bem qual a ponderação que terá
sido feita.
(…)
É
difícil perceber que tenham ponderado – o Ministério das Finanças e, já agora,
Patrícia Dantas – a gravidade do processo judicial e que tenham concluído que
não era impeditivo de assumir o cargo.
(…)
Claro que todos sabiam que Patrícia Dantas não reúne as
condições para ser assessora no Ministério das Finanças.
(…)
Por alguma razão, as pessoas insistem em acreditar que irão
passar entre os pingos da chuva sem se molharem.
(…)
As
regras estabelecidas pela Comissão Política Nacional do PSD ficam aquém do que
seria exigível e constituem uma porta aberta para a entrada de pessoas na vida
pública sem um prévio escrutínio à altura.
(…)
O
mesmo Miranda Sarmento que, no ano passado, criticou a escolha de Carla Alves
para secretária de Estado da Agricultura precisamente por estar envolvida num
processo judicial.
(…)
Talvez o ministro das Finanças tenha um problema de
memória e talvez nos fizesse bem padecer do mesmo.
(…)
Luís
Montenegro tem revelado uma estratégia clara para gerir problemas: sorri e faz
de conta que não tem de responder ou de esclarecer nada.
(…)
O novo Governo acaba de revelar a mesma consciência que um
grupo de adolescentes numa festa de bar aberto.
Carmo Afonso, “Público” (sem link)
[Yanis Varoufakis economista, antigo ministro grego
foi proibido de visitar a Alemanha e de fazer qualquer tipo de atividade
política] porque se opõe ao genocídio que o governo
israelita está a cometer em Gaza e pretendia fazer este discurso, que assim foi censurado.
(…)
O mesmo aconteceu com o cirurgião britânico-palestiniano
Ghassan Abu Sittah, reitor da Universidade de Glasgow, impedido de entrar no
país pelas autoridades de fronteira alemãs.
(…)
Também
a filósofa Nancy Fraser, académica norte-americana de origem judia e renome
internacional, teve o seu convite para dar aulas na Universidade de Colónia, no
próximo mês de maio, cancelado
abruptamente pelo reitor daquela Universidade, por ter assinado uma
carta pública pela liberdade da Palestina.
(…)
É este o ar dos tempos na Alemanha: agressões em cascata à
liberdade política e académica.
(…)
Na imprensa alemã, não houve hesitações em atacar, nos
últimos meses, muitas outras intelectuais de esquerda.
(…)
Quem critica o governo de Israel é cúmplice do
“antisemitismo”.
(…)
É profundamente errado e contraditório que, sob o pretexto da
recordação do Holocausto, se tome o Estado de Israel como um substituto
monolítico de todos os judeus.
(…)
Essa deturpação é em si mesmo uma forma de preconceito, que
opera através do mesmo mecanismo de qualquer xenofobia.
(…)
Na realidade, a equiparação de todos os judeus ao governo
israelita constitui uma forma de antisemitismo.
(…)
A luta contra a colonização ilegal da Palestina ou contra o
genocídio em Gaza nada tem de antisemita.
(…)
A memória do Holocausto devia ser, por isso mesmo, um
antídoto contra qualquer genocídio.
(…)
Invocando a luta contra o antissemitismo, o Estado alemão
(incluindo as principais correntes políticas da direita à esquerda) abraçou o
nacionalismo israelita por procuração.
(…)
Onde estão então, neste contexto de censura e repressão, as
vozes que brandem com tanta exaltação o amor à liberdade de expressão e o
rancor contra o cancelamento?
(…)
Ou afinal a censura é boa quando trata de calar intelectuais
anti-sionistas, sejam judeus ou não?
José Soeiro, “Expresso” online
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