(…)
Não é o pequeno episódio protagonizado por um jovem
perturbado que muda a História [ao atingir a orelha de Trump]. A mudança segue
o seu caminho há muito tempo.
(…)
A imagem apenas a fixa no tempo.
(…)
É tão perfeito [o que tem vindo a acontecer nos EUA tendo
Trump como protagonista] que alguns se recusaram a acreditar que foi capricho
do acaso.
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Como sempre, não há um momento para o começo de uma nova era.
(…)
A extrema-direita cresce e vence em muitos países há muito
tempo.
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E, enquanto Trump vai anunciando que, se perder, haverá
sangue, instala-se o discurso de que “ambos os lados” escalam a violência.
(…)
Assumindo que Trump ganha, não devemos assumir que o segundo
mandato será do Trump que conhecemos. Será, permitam-me mais adivinhações, uma
nova coisa. Arrisco-me a dizer: uma coisa completamente diferente.
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Trump anunciou o seu novo programa em forma de pessoa: J. D.
Vance, candidato a vice-presidente.
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Vance conhece a linguagem, os anseios e as frustrações da
classe trabalhadora branca abandonada pela desindustrialização.
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Vance fala para os eleitores do rust belt. Os que decidiram a
vitória de Trump em 2016 e de Biden em 2020.
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Mas não são estas contas que entrarão na História.
(…)
É ele que diz que muitos dos seus aliados defendem uma
resposta que até pode ser “extraconstitucional”.
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É um novo Orbán, émulo de Putin, que Trump, com 78 anos,
apresenta como seu vice.
(…)
Parece impossível travar a caminhada imparável da História,
de que a imagem ensanguentada de Trump, com a inevitável bandeira atrás, surge
como símbolo inaugural.
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É possível que vivamos o ocaso da curta experiência
democrática da Humanidade.
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Resta a esperança que nasce de se saber que a História nunca
está escrita.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem
link)
É muito difícil encontrar alguém que tenha ido tão longe no
sectarismo e divisionismo, ou na exploração do ódio e da demagogia como Donald
Trump.
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O novo herói apaziguador americano vestiu a pele de cordeiro
depois de ser lobo e condenado convicto.
(…)
O discernimento dos adeptos de Biden que apelam à desistência
da corrida presidencial é já um lugar de senso comum habitado, entre outros,
por Barack Obama e Nancy Pelosi.
(…)
A um Partido Republicano que morreu definitivamente, seco e
enterrado, às mãos do racismo e misoginia, do negacionismo e do putinismo
oportunista, o Partido Democrata contrapõe um conjunto de barões assinalados
mas sem armas.
(…)
À morte do Partido Republicano, os democratas nem um
candidato com prazo de vida política conseguem contrapor.
(…)
É impossível encontrar um racional que explique como se
transforma em herói alguém que esteve prestes a morrer às mãos das armas e do
veneno que sempre semeou.
(…)
Só Michelle Obama ou Kamala Harris poderão ter uma palavra e
mesmo essa, improvável, chegará tarde.
Os
africanos, que em 2022 geraram em média por pessoa 0,44kg de resíduos
electrónicos, recebem parte substancial dos 3,25kg que cada um de nós, nos
países mais avançados, produz.
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“Os países em desenvolvimento suportam a maior parte dos
custos ambientais da digitalização, ao mesmo tempo que colhem menos benefícios.”
[lê-se no último relatório da ONU Comércio & Desenvolvimento
(UNCTAD).
(…)
[Num
bairro de Douala, a capital económica dos
Camarões] dezenas de técnicos informais reparam e revendem uma
grande variedade de dispositivos electrónicos em segunda mão que chegam da
Europa como resíduos.
(…)
O crescimento da procura transformou o bairro numa lixeira de
produtos electrónicos a céu aberto.
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Sem qualquer tipo de recolha ou de reciclagem destes resíduos
no país, 99,8% vai-se acumulando pelas ruas.
António Rodrigues, “Público” (sem link)
Em
Janeiro de 2023, a polícia espanhola desmantelou uma rede criminosa que
exportou mais de cinco mil toneladas de resíduos electrónicos da Europa para a
África Ocidental através das Canárias.
(…)
A
Comissão Europeia calcula que, dos dois mil milhões de toneladas de resíduos
produzidos anualmente pelos países da União Europeia (95 milhões considerados
perigosos), entre 15% e 30% são exportados ilegalmente.
(…)
“Geralmente, são proprietários ou empregados
de empresas de transporte, gestão e eliminação de resíduos” que recorrem a
intermediários para exportar “volumes importantes de resíduos para países menos
desenvolvidos”.
(…)
Considerados
uma das grandes fontes de rendimento das organizações criminosas, juntamente
com a droga, as armas e o tráfico de seres humanos, os crimes ambientais
transnacionais têm a particularidade de raramente chegarem às salas dos
tribunais.
António Rodrigues, “Público” (sem link)
Não existe praticamente nenhum trabalho de reflorestação [no
Parque Nacional da Serra da Estrela] desde que os Serviços Florestais e o Fundo
de Fomento Florestal foram extintos.
(…)
Impera a lei neoliberal de menos Estado para melhor Estado, e
o resultado está à vista.
(…)
Entenderam
os "iluminados” que não competia a um organismo oficial essa tarefa,
esquecendo clamorosamente que as matas e os matagais são um recurso nacional.
(…)
Permanece
de pé muito do arvoredo que ardeu e, como se isso não fosse trágico, os
madeireiros abrem acessos com máquinas para retirar o material que vão cortando,
deixando as encostas com rasgos de alto a baixo [por onde escorrem toneladas de
pedras e de lama, no tempo da chuva].
(…)
Agora não há ninguém a vigiar essas operações e as encostas
apresentam ravinas que se aprofundam de ano para ano.
(…)
Como não existe um director do Parque Nacional (…) diluem-se
as culpas pelo indefinido de uma organização acéfala.
(…)
Falta
desesperadamente que se pratique em Portugal um verdadeiro e sério ordenamento
do território, mas, em vez disso, a legislação fundamental, como as da Reserva
Ecológica Nacional e da Reserva Agrícola Nacional, continua sob fogo cerrado
dos seus opositores.
Fernando Santos Pessoa, “Público” (sem link)
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