(…)
A “justiça” que pobres e miseráveis podiam
almejar exigia subserviência perante ricos e poderosos, associada ao
reconhecimento da sua condição como algo que emanava da vontade de Deus.
(…)
[O mau funcionamento da justiça] não cumpre uma
das suas missões em democracia: propiciar reequilíbrio de poderes e direitos, e
assegurar reparação para cidadãos ou entidades lesadas.
(…)
Temos 50 anos de vida democrática e o direito à
justiça, em pleno e em tempo útil, continua a não existir para a maioria dos
portugueses.
(…)
A justiça funciona mal e não parece ter
tendência para melhorar. Os portugueses consideram que pior só está a saúde -
que seria hoje um drama se não existisse o SNS.
(…)
Os magistrados, juízes e procuradores, são
seres humanos como todos os outros: têm relações sociais e estão sujeitos ao
erro, como o comum dos mortais.
(…)
Como salientou o juiz conselheiro atrás
mencionado [Noronha do Nascimento], um poder discricionário corre o
risco de se tornar arbitrário.
A liberdade política original dos EUA respira
um espírito de independência, das comunidades e indivíduos, contra qualquer
tutela externa.
(…)
[A liberdade económica] é não só mais indomável
e irrestrita do que a liberdade política, como, tem capacidade para a controlar
e, eventualmente, destruir.
(…)
A liberdade económica norte-americana é
iliberal. Não tem limites constitucionais, e ainda menos éticos.
(…)
A concentração de riqueza é hoje pornográfica.
A desigualdade campeia. Cada cidade norte-americana fecha os olhos aos seus
milhões de sem-abrigo (losers), pobres e doentes.
(…)
O Estado federal (haverá exceções nos planos
municipal e estadual) é hoje uma instituição plutocrática, uma “democracia
bilionária” .
Há
momentos na história em que se entra numa era negra quase sem se dar por ela.
No caso actual, damos de tal maneira por ela que o céu já está todo negro.
(…)
Trump
e toda a convenção republicana apresentam-se como os ungidos de Deus, que,
pelos vistos, entrou nas eleições americanas para apoiar um narcisista
patológico.
(…)
Cumprida a obrigação de Deus [de salvar Trump
da bala assassina], entrou em cena o Diabo disfarçado de Deus, de boné MAGA na cabeça.
(…)
Se
Trump ganhar as eleições, o mundo vai conhecer uma crise que pode ser daquelas
que marcam o fim de uma era.
(…)
As
democracias não se esgotam no voto, podendo os eleitos fazer o que quiserem,
sem lei nem limites ao seu poder. Isso não é democracia, mas demagogia.
(…)
Trump
poderá ter a legitimidade para governar, mas não tem legitimidade para fazer o
que quiser, para se substituir à lei e à Constituição, actuar como um ditador
pessoal, que está acima da lei
(…)
Quando
se apresenta um homem como sendo a mão terrestre de Deus, a pressão sobre a
democracia é global, porque a vontade do ungido é que é a lei.
(…)
Trump
tem os seus fiéis, OK. Mas a força de Trump não vem só daí, ela estende-se por
toda uma mancha de minimizadores, que fazem a expressão wishful thinking ganhar um
pleno sentido.
(…)
Será
que se esquecem de um homem que não aceita os resultados eleitorais quando
perde, tentou de
forma ilegal mudá-los, que impulsionou uma tentativa
de golpe de Estado a 6 de Janeiro de 2021, que ameaça com uma guerra civil [mais
um sem número de tropelias, qual delas a pior] ?
(…)
[Mal
ganhe as eleições]. o célebre plano para acabar a guerra na Ucrânia, e de
passagem por Gaza, passa por dar a Putin e Netanyahu o que eles querem sem
restrições.
(…)
Há um homem que conhece bem Trump: Putin. Sob
todos os aspectos.
(…)
E há outro que conhece a vaidade de Trump, e
isso basta: Kim Jong-un
(…)
Ambos sabem como manipulá-lo, embora no caso de
Putin possa haver mais do que isso.
(…)
Ambos sabem que o seu melhor instrumento é um
homem, Trump, que acha ele próprio que manda em tudo.
Pacheco Pereira, “Público”
(sem link)
As bombas caem, explodem, matam; desde 7 de
Outubro que a vida é um augúrio de morte em Gaza.
(…)
[Ao pesadelo dos bombardeamentos] junta-se uma
contribuição involuntária – a do lixo não recolhido que junta ao ar metralhado
um forte odor de decomposição.
(…)
Depois de mais de nove meses de constantes
ataques de Israel, os serviços públicos palestinianos [como os da limpeza] de
Gaza estão em fanicos.
(…)
Os
serviços municipais da segunda maior cidade da Faixa de Gaza não têm capacidade
para manter o serviço de recolha a funcionar.
(…)
O acesso a água potável é uma miragem em grande
parte da Faixa de Gaza.
(…)
O alerta para esta fonte silenciosa de doença e
morte já foi dado várias vezes ao longo do conflito.
António Rodrigues, “Público”
(sem link)
Por onde passa, o ser humano deixa a sua marca.
Na terra, no mar, no ar e até no espaço a sua pegada vai ficando também em
formato de lixo.
(…)
Em
órbita da Terra circula a grande velocidade uma colecção de detritos que nos
lembra a todo o instante a conquista humana do espaço. E o seu perigo.
(…)
Mesmo
que muitos deles sejam do tamanho de um bago de uva, a orbitar a Terra a 45 mil
quilómetros por hora podem causar danos catastróficos.
António Rodrigues, “Público” (sem link)
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