(…)
Em 1950, entravam nos EUA, vindos do México,
450 mil trabalhadores temporários e 50 mil imigrantes permanentes.
(…)
[Com o fim da imigração regular] disparou a
entrada clandestina, indocumentada e precária.
(…)
O ultraliberal Ronald Reagan, presidente nos
anos 1980, falou de “ameaça à segurança nacional” e “invasores comunistas”.
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Quanto
mais mexicanos pobres eram presos ao dar o salto, mais definitiva era a prova
do crime. Mas continuaram a entrar.
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A
política de militarização de fronteiras convive harmoniosamente com a entrada
massiva de imigrantes sem documentos. A explicação é simples: a economia
precisa deles.
(…)
Milton
Friedman, papa ideológico do neoliberalismo, proclamou-o urbi et orbi: “Imigração só
é boa se for ilegal” – o Estado a embaratecer o trabalho.
(…)
A
ameaça da extradição e a cenoura do greencard
são, assim, os elementos disciplinares sobre um exército cuja única “liberdade”
é aceitar quaisquer condições.
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Este é o paradoxo das fronteiras fechadas: elas
travam a saída quando o trabalho escasseia.
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Se há
coisa que nós, portugueses, sabemos, é que ninguém atravessa duas ditaduras a
pé para depois voltar para trás.
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Mesmo que sejamos impedidos de alugar um
apartamento, humilhados pelo chauvinismo e perpetuamente destinados a serventes
e porteiras.
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“Imigração ilegal” é o que acontece quando o
Estado recusa acolher as pessoas que a economia convocou.
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Luís
Montenegro preferiu quebrar a regra de humanidade elementar que sustinha a lei
portuguesa: quem cá vive e trabalha deve ser incluído na comunidade.
Mariana Mortágua, “Público” (sem link)
Foi no Alentejo, à conversa com um amigo, que
ouvi o Fausto pela primeira vez.
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Fiquei instantaneamente devoto. Na cara do meu
amigo notava-se aquele esgaçar malandro que surge inocente quando acertamos na
muche.
(…)
Morreu o criador de todas estas músicas,
trilhas sonoras destas emoções e memórias que guardo com muitíssimo cuidado.
(…)
Ontem,
estas memórias fizeram questão em chegar todas de uma vez (sacanas), quando
como em gesto de homenagem, passei o dia a circular os álbuns do alquimista musical que foi Fausto Bordalo Dias.
Tomás Palmeiro, “Público” (sem link)
O Governo prepara-se para alterar as
regras do subsídio de desemprego.
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Entre
as razões de fundo para a mudança parece estar o temor de que as atuais regras
de proteção contra o risco de desemprego incentivam o desemprego voluntário.
(…)
Assenta numa distinção perigosa entre
"bons" e "maus" desempregados.
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Historicamente, o desemprego tem sido pensado e
construído enquanto categoria enraizada nas sociedades modernas, abrindo
caminho para direitos.
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Nem todos os desempregados – muito longe disso
– estão cobertos por qualquer subsídio de desemprego (…) como é o caso
de muitos trabalhadores temporários, precários ou informais.
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Ciclicamente,
alguns governos tendem a prestar maior atenção ao desincentivo ao trabalho,
supostamente em resultado da concessão de um rendimento de substituição a quem
está desempregado.
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Daí até a mudanças destinadas a reforçar as
sanções contra os desempregados vai um pequeno passo.
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Olhando
para as condições de elegibilidade, cobertura, duração e montantes (taxa de
substituição face ao salário perdido), a verdade é que o nosso sistema não é
excessivamente protetor.
(…)
Contratar
alguém cuja única ideia é sair o mais rapidamente possível para encontrar um
emprego melhor e mais bem remunerado não é uma situação que se possa desejar.
(…)
É
importante um justo equilíbrio que não empurre os desempregados, em particular
os de longa duração, para empregos sem qualidade, baixos salários, enfim, para
qualquer emprego.
(…)
Em
certo sentido a seletividade do mercado de trabalho entra em contradição com a
ideia de que todos os candidatos a emprego podem encontrar um emprego
rapidamente.
Jorge Caleiras, “Público” (sem link)
É difícil pensar no pensamento jurídico e
progressista nos EUA e não tropeçar no nome de Ruth Ginsburg.
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Ginsburg ajudou a moldar o quadro legal e a
visão cultural em matérias como igualdade de género, aborto, discriminação
positiva e todo um sem número de direitos civis.
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Mas o seu legado acabou manchado pela forma
como abriu caminho a uma esmagadora maioria de conservadores.
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Impediu a nomeação de um juiz mais liberal e
permitiu as três nomeações de Donald Trump.
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Se há lição que Ruth Ginsburg deixou evidente é
que há um tempo para sair.
(…)
A primeira república da era moderna passou a
ter, desde esta semana, um “rei acima da lei”.
(…)
Esta decisão é consequência da teimosia de
alguém a quem se deve muito, mas não soube que era tempo de dar lugar a outros.
(…)
O que assistimos na última quinta-feira, no
debate entre Biden e Trump, também.
(…)
Como é possível que (…) a maior
potência mundial tenha de escolher entre aqueles dois candidatos?
(…)
Na quinta-feira, assistimos a um debate entre
um idoso sério e frágil e uma criança maldosa e mentirosa.
(…)
Donald Trump rebentou com o polígrafo. A CNN detetou, só naquele debate, 30 alegações
falsas.
(…)
O debate teve o nível de sofisticação de uma
conversa dirigida a crianças de seis anos.
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Para quem viu o debate, por mais doloroso e
cruel, por mais que o confronto fosse entre um canalha e um Presidente, ficou
difícil acreditar que Joe Biden conseguirá fazer uma campanha inteira, quanto
mais um mandato.
(…)
De tal forma, a poucos meses das eleições, se
começou a perguntar se Biden devia desistir.
(…)
O problema já não é apenas a catástrofe que
leva à pergunta, mas a própria pergunta.
(…)
Trump nem teria de fazer campanha.
(…)
[A substituição de Biden] conseguiria um feito:
transformar Trump num símbolo de estabilidade.
(…)
A questão é como é que os democratas não
perceberam há mais tempo que a recandidatura de um homem de 81 anos muitíssimo
fragilizado era um risco brutal.
(…)
E bastava ter dito a Biden que o seu tempo
tinha passado.
Daniel Oliveira, “Expresso”
online (sem link)
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