(…)
Certo é que as histórias que vêm de um tempo em
que Montenegro juntava a sua rede política aos seus negócios não vão
desaparecer. Mesmo se vencer as eleições.
(…)
Mas virá uma CPI, marcada pelo PS ou por outro
partido.
(…)
Como primeiro-ministro, Montenegro
será, como já escrevi, uma bomba-relógio.
(…)
[Se o PSD vencer em minoria] a vitória vai
revigorar o governo durante uns meses. O suficiente para passar o tempo em que
o parlamento não pode ser dissolvido.
(…)
Será um governo vulnerável e frágil, que cairá ao mínimo sopro económico externo ou face a novas
revelações sobre Montenegro.
(…)
[Se] o PS vence em minoria e Pedro Nuno Santos fica
na exata situação em que estava Luís Montenegro.
(…)
Pedro Nuno Santos tem um ano, até porque não
pode haver dissolução, e o PSD, ferido com estes acontecimentos, deixa passar o
primeiro OE enquanto trata da sucessão de Montenegro.
(…)
[Pode
acontecer uma] geringonça ao
contrário: o PS vence, mas Montenegro
alia-se ao Chega. Só que, desta vez, o “não é não” poderia vir do
Chega.
(…)
[O Chega pode] perceber que seria um
suicídio a curto prazo, perante um primeiro-ministro triplamente fragilizado:
pelos casos, pela derrota e
pela aliança que disse que nunca faria.
(…)
Os dois cenários prováveis resultarão num novo miniciclo.
(…)
Aqui como no resto da Europa, essa espiral de
instabilidade política só se ultrapassa anulando o motivo do bloqueio:
a extrema-direita.
(…)
Esta ainda não deve ser a eleição que retoma os
ciclos longos.
No Carnaval saímos à rua para ridicularizar
políticos e denunciar injustiças.
(…)
Basta
olhar para os carros alegóricos de certos países (Alemanha, estou a olhar para
ti): os alvos são sempre os mesmos – Trump, Putin e Xi Jinping.
(…)
Não sou contra que a denúncia de regimes
opressivos estrangeiros. O que me surpreende é a falta de crítica interna.
E na Europa, está tudo bem? São só os outros que não respeitam os direitos
humanos? Parece que sim.
(…)
Afinal, a Europa é o berço da democracia
(…) um modelo a seguir, pensamos nós.
(…)
Na Europa, os direitos humanos tornaram-se
descartáveis – usados quando convém e ignorados quando atrapalham.
(…)
Se servem os interesses do meu país, defendo os
direitos humanos. Caso contrário, olho para o lado e finjo demência.
(…)
Os Estados negociam benefícios em vez de
seguirem princípios ideológicos.
(…)
Só me
importo com violações de direitos humanos quando são cometidas por países que
não me dão nada em troca.
(…)
A
autoridade moral dos direitos humanos está à beira da morte, pois só sobrevive
se for aplicada sem dois pesos e duas medidas.
(…)
Como
se não bastasse, em toda a Europa crescem os movimentos de extrema-direita que
desafiam o status quo
e prometem uma "limpeza" do sistema, afectando a confiança nas
instituições e polarizando a política.
(…)
[Na
Alemanha] as autoridades restringiram o direito a protestos pacíficos, e o uso
desproporcional da força policial contra quem se recusa a calar-se torna-se
cada vez mais evidente.
(…)
Por toda a Europa, o direito ao protesto pacífico está sob
ataque.
(…)
Os Estados estigmatizam, criminalizam e reprimem
manifestantes com uma intensidade crescente.
(…)
Outra táctica recorrente é rotular os manifestantes como
“terroristas”, “criminosos”, “extremistas”, e outras palavras mágicas.
(…)
É importante entender que não se posicionar [optando pela
neutralidade] é o mesmo que escolher o lado do opressor.
(…)
A neutralidade beneficia sempre quem está no poder e é aliada
do fascismo.
(…)
Os
europeus não entendem que o fascismo já não está só a bater à porta, mas já
entrou e já se sentou no sofá?
(…)
Se queremos que ela vá embora, está na altura de parar de lhe
servir café e bolo.
Ana Rita Póvoas, “Público” (sem link)
A dor está dentro de nós, nas sinopses de um povo que que
passou décadas a ser treinado para obedecer, calar e aceitar.
(…)
A verdadeira transformação (…) acontece dentro do cérebro de
cada um que, num instante, tem de reaprender a viver sem medo.
(…)
E, se há coisas que os regimes, os sistemas e as dinâmicas de
poder fazem com mestria é controlar as palavras para dominar as consciências.
(…)
Quando se cala uma sociedade, não são só as palavras que se
perdem. É o próprio pensamento que se atrofia.
(…)
Quando a liberdade se instala, não nos devolve apenas a
capacidade de falar. Devolve-nos a capacidade de pensar.
(…)
Mas o que acontece quando os ventos da história começam a
soprar na direção contrária?
(…)
Quando o progresso se torna uma miragem e o presente parece
repetir os erros do passado?
(…)
A crescente radicalização política, uma Europa militarizada,
e em convulsão económica são sintomas de algo mais profundo.
(…)
O medo está de volta, infiltrando-se nos circuitos
emocionais, condicionando as nossas decisões e reconfigurando a nossa perceção do
mundo.
(…)
Olhamos para a Europa e não reconhecemos a paisagem.
(…)
Assistimos à erosão do pensamento crítico, substituído ppor
um imediatismo emocional que vive da indignação fácil e da manipulação mediática.
(…)
O cérebro humano sempre teve dificuldade em distinguir ameaça
real e ameaça fabricada.
(…)
Quando essa vulnerabilidade é explorada para concentrar
poder, a história raramente acaba bem.
Alexandre Bogalho, “Diário de
Coimbra” (sem link)
Sem comentários:
Enviar um comentário