(…)
Nenhum primeiro-ministro pode receber uma
avença, diretamente ou através de uma empresa de fachada, ou pode achar que as
suas relações empresariais estão defendidas por qualquer tipo de sigilo.
(…)
E a certeza que o primeiro-ministro iria ser
“torrado” é sinal de pouca confiança nos factos e nas provas.
(…)
Os programas dos partidos serão semelhantes aos
do ano passado, os líderes são todos os mesmos.
(…)
As crises do SNS e da habitação continuam a
agravar-se, com a ajuda de uma desastrosa ministra da Saúde e de políticas que
inflacionaram ainda mais os preços das casas.
(…)
O dinheiro do excedente herdado foi distribuído,
como se esperava, a pensar num ciclo curto. É o trunfo deste Governo, depois de
Costa nos ter andado a dizer que era insustentável responder às exigências de
professores, polícias e oficiais de justiça.
(…)
O PS viabilizou-lhe o programa e o Orçamento.
(…)
E há poucas semanas inviabilizou duas moções de
censura.
(…)
Nunca um Governo com uma base parlamentar tão
curta teve tanto espaço de manobra.
(…)
[A falta de ética de Montenegro] é a única
razão para termos sido obrigados pelo próprio a voltar às urnas.
(…)
Mas que o PSD não se iluda: mesmo desfocado, o
perfil de Luís Montenegro mudou para sempre e com toda a justiça. As pessoas
nunca mais o verão da mesma forma.
(…)
O estrago já foi feito por Montenegro e pairará
na campanha.
(…)
Não faltam indecisos numas eleições que ninguém
queria.
(…)
A maioria dos portugueses já percebeu que as
relações de Montenegro com algumas empresas são, sendo delicado, muito pouco
saudáveis.
(…)
O que nos será perguntado é se, havendo uma
situação económica estável e tendo distribuído dinheiro, nos importamos com a
vulnerabilidade de quem nos governa.
(…)
Veremos se o líder do PS, que ao fim do ano já
não é visto como “irresponsável”, consegue conquistar mais do que a deceção
ética com Montenegro.
Daniel Oliveira, “Expresso”
(sem link)
Em Loures, o presidente da câmara municipal
ameaça continuamente a destruição de estruturas abarracadas e casas
autoconstruídas.
(…)
Ricardo Leão compra conflitos públicos com
comunidades e bairros vulnerabilizados, colocando vidas em situações precárias
impossíveis.
(…)
Os danos que causa às vidas de pessoas não
podem ser perdoados.
(…)
São pessoas que trabalham, que têm filhos e
famílias. Que crime cometeram?
(…)
Recebem o salário mínimo e não conseguem pagar
uma habitação.
(…)
Foram empurradas para casas autoconstruídas,
solução que as salva de dormirem ao relento.
(…)
E recebem do município uma resposta
completamente desprovida de empatia e compreensão.
(…)
Com o
mesmo sentido de oportunidade política, a Iniciativa Liberal (IL) aproveita o
caso da ocupação de uma casa para propor o agravamento de penas de prisão para a ocupação e a
agilização dos processos de despejo.
(…)
Porquê? Porque pretende criminalizar o sintoma
de uma emergência social.
(…)
Tanto
a Câmara Municipal de Loures como a IL escolhem definir como problema os
sintomas da crise de habitação que o país vive.
(…)
Fazem-no sem qualquer vestígio de preocupação
para com as pessoas arrastadas para as margens da sociedade.
(…)
Os preços das rendas e das casas estão
completamente descolados da realidade.
(…)
Se
a crise se torna aguda nas classes médias, significa que a maioria do país está
a sofrer ainda mais.
(…)
Ou adotamos políticas habitacionais que impeçam
os despejos, regulem o mercado.
(…)
Ou mantemos o rumo e escolhemos medidas para
atacar sintomas, cavalgar o populismo e atirar pessoas para situações indignas.
(…)
Um é o caminho do Estado Social e das boas
políticas públicas. O outro é o da desumanidade.
Daniel Borges, “Público”
(sem link)
Qualquer semelhança com a ficção não é pura coincidência.
(…)
Todo o contexto de incêndio tem mão humana, um fogo que começou a arder com
Luís Montenegro mas que agora contamina qualquer posição política autárquica ou
presidencial.
(…)
A confusão é uma entropia eleitoral que poderá fazer crescer a abstenção no
eleitorado do bloco central para níveis superiores.
(…)
[A abstenção à esquerda do Chega] pode encarregar-se de deixar quase tudo
como está na correlação de forças, ainda que se inverta a liderança do país.
(…)
Mesmo no sopro das notícias, parece haver um outro PSD à espreita.
(…)
Há um PSD que não lhe perdoa a [Montenegro] cerca sanitária que ergueu à
extrema-direita e a fragilidade que assumiu para governar em imensa minoria.
(…)
[Para Ventura], só eliminando Montenegro de jogo, comparando-o a José
Sócrates, consegue reter demagogicamente o seu eleitorado e contribuir para o
regresso de Passos Coelho que não hesitará em dar-lhe a mão da governação.
(…)
O PSD que está à espreita sabe esperar, finge a união à volta do líder
porque sabe que perder agora, não sendo ideal, não deixa de ser uma boa opção
para uma maioria futura e próxima.
(…)
O encontro de meia hora entre Carlos Moedas e
André Ventura, após a reunião do Conselho de Estado, diz muito sobre o estado a
que a luta política chegou.
Cada mudança histórica é um despertar neurológico
coletivo.
(…)
Mas nem todas as mudanças históricas são libertadoras.
(…)
Algumas são regressivas e são essas que exigem
mais da nossa memória.
(…)
Diz-nos a psicologia social que que as gerações
que nunca conheceram a falta de liberdade tendem a desvalorizá-la.
(…)
Os miúdos que hoje crescem sem saber o que é um
censor ou um telefonema escutado podem achar que a democracia é um dado
adquirido.
(…)
Esquecemos porque (…) ninguém quer andar a
remoer o medo do passado.
(…)
Mas esquecemos também porque, no fundo, nunca
nos ensinaram a lembrar.
(…)
Se Damásio está certo, e as emoções são a essência
do que somos, então a liberdade tem de ser sentida para ser real.
(…)
[A liberdade] precisa de ser alimentada,
precisa de ser treinada, precisa de ser exercitada. Como a memória.
Alexandre Bogalho, “Diário
de Coimbra” (sem
link)
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