(…)
A ética pode
transcender a lei. Numa sociedade decente (democrática) há obrigações para além
do que a lei estabelece.
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A análise ao
comportamento do PM tem de ser feita com recurso a um amplo conjunto de normas
jurídicas, mas igualmente de princípios éticos.
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A lacuna
ética ir-se-á confirmando, independentemente dos resultados eleitorais que se
registarão no dia 18 de maio.
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Desengane-se
quem raciocina no pressuposto de que o voto popular pode lavar mais branco. O
lastro da vida política corre o risco de acabar negro.
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O recurso a
princípios éticos é indispensável: vivemos num tempo em que a apropriação
indevida da riqueza, em dimensão nunca antes vista, é imoral, mas é legal.
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Como se
teria chegado, por exemplo, ao fim do trabalho escravo ou do trabalho infantil,
se em tempos passados ficássemos prisioneiros do “cumprimento escrupuloso da
lei”?
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Em Portugal,
temos determinações constitucionais e legais que apontam a construção de um
país bem melhor do que o que temos.
Há uma
cultura da boçalidade e da ignorância agressiva, que invade a sociedade à
medida que os mecanismos de comunicação menorizam a racionalidade e valorizam o
pathos.
Pacheco Pereira, “Público” (sem link)
Como correrão os rios neste dia da água?
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Estes
fenómenos de precipitação intensa são cada vez mais frequentes e mais extremos,
uma realidade que já reconhecemos no dia a dia.
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Muitos,
em alturas como esta, têm dificuldade em acreditar que Portugal enfrenta, cada
vez mais, os graves episódios de seca e de escassez de água de que tendemos a
falar só no Verão.
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Alterações
climáticas: há tanta urgência em travá-las, mas também em fazê-las ser
compreendidas e aceites.
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[Os rios] são uma fonte de água para as
pessoas e para a biodiversidade, albergam
inúmeras espécies, são fonte económica e de atividades de lazer.
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Os
rios em estado natural, que funcionam “como deviam”, compõem ecossistemas
capazes de absorver enormes quantidades de água (como as decorrentes da
precipitação intensa) e atrasar os processos de escorrência.
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Mas,
ao longo do tempo, temos reduzido ou feito desaparecer estas defesas naturais
drenando, impermeabilizando, canalizando e construindo estruturas, desde barragens
a edifícios.
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Dominar e conter os rios e as suas margens
dificilmente será a solução mais segura e eficaz a longo prazo.
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Felizmente,
o engenho da natureza fez com que os próprios ecossistemas ribeirinhos tivessem
grande capacidade de absorver e conter a água em excesso.
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A água que antes corria livre é, cada vez mais,
refreada por milhares de barreiras.
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Restaurar
os ecossistemas ribeirinhos é, segundo vários exemplos, uma solução com
menos impactos no risco de inundação, mas também na qualidade da água e na
retenção de nutrientes.
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Em Portugal, estimam-se mais de 13 mil
barreiras à conectividade fluvial, desde pequenos açudes a grandes barragens.
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Muitas
destas barreiras servem-nos diariamente, fornecendo água, produzindo energia,
ou permitindo a manutenção de espécies em algumas zonas já muito degradadas e
afetadas pela escassez de água.
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Mas a construção de barreiras acarreta também
grandes impactos negativos.
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E há que ter em conta que muitas se
encontram obsoletas e poderiam ser removidas.
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Para combater as alterações climáticas, há que
seguir os objetivos de instrumentos como a Estratégia Europeia para a
Biodiversidade
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Para
combater as alterações climáticas, há que seguir os objetivos de instrumentos
como a Estratégia Europeia para a Biodiversidade, que incluem libertar
pelo menos 25 mil quilómetros de rios de barreiras até 2030.
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Para
que os rios corram melhor, é particularmente importante o restauro da
conectividade fluvial através da remoção de barreiras obsoletas com impacto
ecológico negativo, assim como a promoção de alternativas à construção de novas
barragens.
Ana Catarina Miranda, “Público” (sem link)
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