(…)
O discurso de Lídia Jorge foi sobre o que
queremos ser.
(…)
A nossa identidade, moldada por décadas de
propaganda lusotropicalista, baseava-se numa ideia de miscigenação bondosa,
determinada por um colonialismo excecional.
(…)
Apesar de o tráfico negreiro transatlântico ser
um dos nossos maiores legados à humanidade, conseguimos fazer da preservação
deste mito.
(…)
Com a chegada a Portugal dos debates do mundo,
ajudada por uma nova geração de intelectuais afrodescendentes, fomos obrigados
a sair do confortável casulo das nossas fantasias.
(…)
O nacionalismo português tornou-se menos
idiossincrático.
(…)
A função deste nacionalismo (…) é uma
vontade de fechamento atávico às migrações.
(…)
O papel deste nacionalismo nativista (…)
é o de impedir uma força centrípeta migratória.
(…)
É o de saber como vamos lidar com o aumento
intenso de fluxos humanos.
(…)
Só abrandará se a Europa e os EUA perderem
relevância e atratividade.
(…)
A extrema-direita tem um plano e o centro
político segue-o aos tropeções: fechar portas e janelas.
(…)
A integração [cujo principal instrumento é o
reagrupamento familiar dos imigrantes] reduz o conflito de que os autoritários
dependem para reforçarem o seu poder.
(…)
Fechar fronteiras não serve apenas para deixar
os imigrantes de fora. Serve para prender os nacionais cá dentro.
(…)
A ilusão dos democratas irrefletidos é pensarem
que esta caminhada vai parar quando eles decidirem.
(…)
Somos, enfim, fruto das nossas glórias e crimes
que nos fazem, sem qualquer pureza, humanos.
(…)
O realismo não se resume à evidência de que
quase tudo se regula. É saber que se nos fecharmos ao mundo, em pânico, seremos
nós os prisioneiros.
Daniel Oliveira, “Expresso”
(sem link)
Esses personagens neonazis, agressores bem
reais [do ator Adérito Lopes], andam cá há muito tempo, há tempo de mais.
(…)
Dois dos suspeitos do ataque foram condenados
pelas mortes racistas de José Carvalho, dirigente do PSR, e de Alcindo
Monteiro, no final da década de 80 e nos anos 90.
(…)
[Podemos perguntar] aos tribunais que permitem
que o agressor que atacou Adérito Lopes saia com um termo de identidade e
residência, a mais leve das medidas de coação.
(…)
O Relatório Anual sobre a Segurança Interna
retirou a menção ao grupo neonazi que comandou esta acção.
(…)
Dois dias depois, sobre o ódio, Luís Montenegro
nada diz e a ministra da Administração Interna só ontem se pronunciou.
(…)
Carlos Moedas e Miguel Morgado têm a distinta
lata, a propósito destes crimes, de colocar no mesmo plano a extrema-esquerda e
a extrema-direita, como se houvesse alguma violência que se visse na “dita”
extrema-esquerda.
(…)
O grande perigo da violência está na
extrema-direita, ao arrepio dos apagões em relatórios.
(…)
[No Porto, a 10 de junho] dois homens que se
intitularam como nazis defensores do Chega, fazendo a saudação nazi, ameaçaram
e agrediram a directora da Associação CASA.
(…)
Ninguém pode normalizar estes comportamentos
xenófobos, racistas e violentos.
(…)
Os crimes de ódio, em qualquer lugar ou dia da
raça, não têm de nascer duas vezes para serem hediondos.
Miguel Guedes, JN
[Um barco e uma barraca] são arquiteturas
éticas, dependendo da intenção de quem os construiu ou do uso que se lhes dá
posteriormente.
(…)
O
barco Madleen serviu
para tentar levar ajuda humanitária a Gaza, para continuar a chamar a atenção
para o genocídio na Palestina, para demonstrar que existe um cerco ilegal a
Gaza.
(…)
A
companhia A Barraca, nome inspirado pela La Barraca, de Garcia Lorca, foi
criada em 1976, também com um espírito internacionalista.
(…)
O que move um barco e o que ergue uma
barraca-teatro são vontades humanas, escolhas, ideias.
(…)
As
arquiteturas éticas podem ter estruturas físicas mais ou menos leves, mais ou
menos precárias, mas comportam consigo uma densidade e profundidade de
convicções humanistas sólidas.
(…)
Há quem construa e há quem destrua.
(…)
A
diferença entre uns e outros é uma conceção oposta do mundo: uma que se enraíza
no desejo de igualdade e justiça, outra que se alimenta de supremacismo, ódio e
violência.
(..)
Sei, sabemos muito bem porque é que isto continua
a acontecer.
(…)
O perigo da extrema-direita foi apagado da
versão final do Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) de 2024. Porquê?
(…)
Passaram agora para o ataque físico criminoso.
Estamos à espera de quê? De mais feridos? Mortos?
(…)
como é
possível que, dentro da mesma espécie humana, existam pessoas como Greta
Thunberg ou outras ativistas, com mais ou menos privilégios, dispostas a
arriscar a vida por um futuro partilhado, e ao mesmo tempo indivíduos que se
alimentam do ódio, da ideia putrefacta de superioridade?
(…)
Como é possível não ver a diferença entre quem
constrói e quem destrói?
(…)
Não compreender a diferença entre a
neutralidade e a cumplicidade?
Luísa Semedo, “Público”
(sem link)
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