sábado, 14 de junho de 2025

CITAÇÕES

 
Os discursos políticos sobre o passado nunca são bem sobre o passado. Por isso a história, eternamente reescrita, sempre foi disputada. 

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O discurso de Lídia Jorge foi sobre o que queremos ser.

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A nossa identidade, moldada por décadas de propaganda lusotropicalista, baseava-se numa ideia de miscigenação bondosa, determinada por um colonialismo excecional.

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Apesar de o tráfico negreiro transatlântico ser um dos nossos maiores legados à humanidade, conseguimos fazer da preservação deste mito.

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Com a chegada a Portugal dos debates do mundo, ajudada por uma nova geração de intelectuais afrodescendentes, fomos obrigados a sair do confortável casulo das nossas fantasias. 

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O nacionalismo português tornou-se menos idiossincrático.

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A função deste nacionalismo (…) é uma vontade de fechamento atávico às migrações.

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O papel deste nacionalismo nativista (…) é o de impedir uma força centrípeta migratória. 

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É o de saber como vamos lidar com o aumento intenso de fluxos humanos.

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Só abrandará se a Europa e os EUA perderem relevância e atratividade.

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A extrema-direita tem um plano e o centro político segue-o aos tropeções: fechar portas e janelas. 

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A integração [cujo principal instrumento é o rea­grupamento familiar dos imigrantes] reduz o conflito de que os autoritários dependem para reforçarem o seu poder.

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Fechar fronteiras não serve apenas para deixar os imigrantes de fora. Serve para prender os nacionais cá dentro.

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A ilusão dos democratas irrefletidos é pensarem que esta caminhada vai parar quando eles decidirem.

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Somos, enfim, fruto das nossas glórias e crimes que nos fazem, sem qualquer pureza, humanos. 

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O realismo não se resume à evidência de que quase tudo se regula. É saber que se nos fecharmos ao mundo, em pânico, seremos nós os prisioneiros.

Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)

 

Esses personagens neonazis, agressores bem reais [do ator Adérito Lopes], andam cá há muito tempo, há tempo de mais.

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Dois dos suspeitos do ataque foram condenados pelas mortes racistas de José Carvalho, dirigente do PSR, e de Alcindo Monteiro, no final da década de 80 e nos anos 90.

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[Podemos perguntar] aos tribunais que permitem que o agressor que atacou Adérito Lopes saia com um termo de identidade e residência, a mais leve das medidas de coação.

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O Relatório Anual sobre a Segurança Interna retirou a menção ao grupo neonazi que comandou esta acção. 

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Dois dias depois, sobre o ódio, Luís Montenegro nada diz e a ministra da Administração Interna só ontem se pronunciou. 

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Carlos Moedas e Miguel Morgado têm a distinta lata, a propósito destes crimes, de colocar no mesmo plano a extrema-esquerda e a extrema-direita, como se houvesse alguma violência que se visse na “dita” extrema-esquerda.

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O grande perigo da violência está na extrema-direita, ao arrepio dos apagões em relatórios.

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[No Porto, a 10 de junho] dois homens que se intitularam como nazis defensores do Chega, fazendo a saudação nazi, ameaçaram e agrediram a directora da Associação CASA.

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Ninguém pode normalizar estes comportamentos xenófobos, racistas e violentos.

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Os crimes de ódio, em qualquer lugar ou dia da raça, não têm de nascer duas vezes para serem hediondos. 

Miguel Guedes, JN

 

[Um barco e uma barraca] são arquiteturas éticas, dependendo da intenção de quem os construiu ou do uso que se lhes dá posteriormente.

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O barco Madleen serviu para tentar levar ajuda humanitária a Gaza, para continuar a chamar a atenção para o genocídio na Palestina, para demonstrar que existe um cerco ilegal a Gaza.

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A companhia A Barraca, nome inspirado pela La Barraca, de Garcia Lorca, foi criada em 1976, também com um espírito internacionalista.

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O que move um barco e o que ergue uma barraca-teatro são vontades humanas, escolhas, ideias.

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As arquiteturas éticas podem ter estruturas físicas mais ou menos leves, mais ou menos precárias, mas comportam consigo uma densidade e profundidade de convicções humanistas sólidas.

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Há quem construa e há quem destrua.

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A diferença entre uns e outros é uma conceção oposta do mundo: uma que se enraíza no desejo de igualdade e justiça, outra que se alimenta de supremacismo, ódio e violência.

(..)

Sei, sabemos muito bem porque é que isto continua a acontecer. 

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O perigo da extrema-direita foi apagado da versão final do Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) de 2024. Porquê?

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Passaram agora para o ataque físico criminoso. Estamos à espera de quê? De mais feridos? Mortos?

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como é possível que, dentro da mesma espécie humana, existam pessoas como Greta Thunberg ou outras ativistas, com mais ou menos privilégios, dispostas a arriscar a vida por um futuro partilhado, e ao mesmo tempo indivíduos que se alimentam do ódio, da ideia putrefacta de superioridade?

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Como é possível não ver a diferença entre quem constrói e quem destrói?

(…)

Não compreender a diferença entre a neutralidade e a cumplicidade?

Luísa Semedo, “Público” (sem link)


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