(…)
A missão do Governo anterior foi a de preparar eleições.
(…)
A missão do atual será a aplicação da agenda da Direita, pelo
período mais longo possível, num contexto europeu de mobilização de recursos
para a economia de guerra, de ataque ao Estado social, de reconvocação dos
bodes expiatórios de sempre: os trabalhadores e o povo.
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No discurso do primeiro-ministro na posse do Governo, tudo
isto já lá está.
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Observemos o que virá de novo na Segurança Social.
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Na Saúde, a manutenção da ministra significará continuidade e
aprofundamento do ataque estrutural ao Serviço Nacional de Saúde e o reforço do
negócio privado.
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Para o comum dos cidadãos ficará a eliminação de serviços com
funcionários que apoiem os cidadãos, substituídos por serviços das “primas” que
distanciam e isolam as pessoas.
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O país precisava muito de ter, e não tem, política económica.
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Só a cabeça de loucos pode admitir que não há diferença entre
produzir bens e serviços para garantir vida e felicidade, ou produzir
instrumentos para causar sofrimento e morte.
A ruptura
pública entre Donald Trump e Elon Musk, transmitida em directo e em modo
“vale tudo” nas redes sociais, é o fim ruidoso de uma aliança tão funcional
quanto tóxica.
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Durou 136 dias. E, como em todas as histórias
movidas por egos e vaidade, terminou em espectáculo.
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Musk
ajudou a financiar a campanha de Trump, a amplificá-lo nas redes, a
conferir-lhe uma credibilidade tecnológica que a Presidência nunca teve.
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O que
os uniu não foi tanto uma visão partilhada para o país, mas sobretudo a crença
cínica de que o sistema é um obstáculo a contornar.
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Durante semanas, Musk foi o "czar da
eficiência" na Casa Branca.
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Só que
a história mostrou, uma vez mais, que alianças construídas sobre o narcisismo e
o desprezo pelas instituições acabam sempre em tragédia ou farsa.
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Musk
não suportou que a “grande e bela lei” orçamental de Trump não lhe servisse os
interesses corporativos; Trump não tolerou que alguém ousasse contestá-lo.
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[Musk] a deixar escapar um tímido “sim” à
hipótese de destituir o Presidente que o próprio ajudou a eleger.
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Quando
as alianças mais influentes da política mundial se desfazem em memes e vendetas nas redes
sociais, a questão deixa de ser “quem tem razão” e passa a ser “o que resta
para defender”.
Tiago Luz Pedro. “Público” (sem link)
Há mais de 40 anos que trabalho na área da
Educação Especial.
(…)
Tenho assistido a uma tendência persistente e
preocupante: o abandono progressivo dos alunos com necessidades educativas
especiais.
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Uma integração ilusória, que mascara o insucesso,
perpetua a exclusão e aprofunda as desigualdades.
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Continuamos
a assistir a uma má compreensão do conceito de inclusão, a uma formação
deficitária dos professores (do ensino regular e da educação especial), à
ausência de recursos humanos especializados e a uma escassa articulação com as
famílias.
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Parece
persistir uma cultura de imobilismo, sustentada por dirigentes que há décadas
ocupam cargos-chave sem trazerem inovação, experiência prática ou visão
estratégica.
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É
urgente uma renovação. Precisamos, no Ministério da Educação, de técnicos
verdadeiramente especializados, com formação sólida e experiência real em
contextos escolares.
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A inclusão não se faz com discursos, mas com
políticas estruturadas, investimento consistente e vontade política real.
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Até lá, os alunos com diferenças significativas
de aprendizagem continuarão a ser tratados [como] descartáveis,
esquecidos, culpados por um falhanço que não é — nem nunca foi — deles.
Luís de Miranda
Correia, “Público” (sem link)
Foi
recentemente publicado o primeiro relatório
temático sobre Portugal do Grevio (Grupo de Peritos do Conselho da Europa
que monitoriza a aplicação da Convenção de Istambul, centrada na prevenção e
combate à violência contra as mulheres e à violência doméstica.
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O relatório identifica vários problemas,
evidenciando a forma como o sistema judicial continua a não responder adequadamente
às vítimas.
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A lei existe; o que falha é aquilo que o
sistema tolera.
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Nenhum sistema judicial pode ser avaliado
apenas por casos extremos.
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É preciso perguntar porque continuam a existir
decisões que revitimizam, descreem e desvalorizam.
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A Ordem dos Advogados (OA) também tem
responsabilidades institucionais neste domínio.
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Tratar-se-ia do cumprimento efetivo de um
dever: proteger a função constitucional da advocacia e reforçar a confiança no
sistema judicial.
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É
arriscado falar sobre estes temas: o debate público sobre violência de género
está capturado por linguagem estereotipada e dogmática.
(…)
Defender as mulheres e exigir melhor justiça
requer reformas concretas, para além dos slogans.
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É mais um exemplo de como a justiça portuguesa
reage quando chamada a prestar contas: com retraimento e desconforto.
(…)
A
inação da OA e o reflexo defensivo do CSM pertencem à mesma lógica
institucional: a recusa em reconhecer que a justiça pode falhar, e que é
precisamente esse reconhecimento que a pode tornar mais justa.
(…)
A justiça não fica mais forte por se blindar à
crítica.
Eva Dias Costa, “Público”
(sem link)
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