quarta-feira, 4 de setembro de 2019

PS SOZINHO NO GOVERNO É DE MÁ MEMÓRIA


Há dois ou três dias, António Costa, numa manifesta atitude de arrogância, veio dizer perante os portugueses que os resultados obtidos nesta legislatura se devem ao trabalho do PS. Nada mais falso e, para o demonstrar, está o programa “socialista” para as eleições de 2015. Em traços gerais, seria a continuidade da austeridade iniciada pelo governo PSD/CDS. Temos a certeza de que, até os mais acérrimos opositores da chamada “geringonça”, reconhecem intimamente o papel positivo que tiveram os acordos do PS com o Bloco, PCP e Verdes, traduzido em várias melhorias das condições de vida dos portugueses, em especial, no que diz respeito aos mais desfavorecidos. A esquerda à esquerda do PS trabalhou desalmadamente neste sentido apesar das amarras provenientes de Bruxelas que tornavam muito difícil qualquer iniciativa que pudesse contorná-las, a favor dos mais atingidos pelas medidas de austeridade impostas pela troika e acrescidas pelo Governo PSD/CDS.
Como dizia, também recentemente, Catarina Martins, não deve passar pela cabeça de ninguém que os resultados de um Governo PS, sem os acordos á esquerda, seriam aqueles que agora estão à vista.
Completamente de acordo com esta ideia está Domingos Lopes no artigo seguinte que transcrevemos do “Público” de hoje onde afirma com toda a clareza que “Não se sabe (pode imaginar-se) o que seria um governo apenas do PS, tanto mais que o lastro deste partido sozinho no governo é de má memória, até para muitos socialistas…”

Às vezes as coisas são mais simples que aquilo que parecem. Quando Costa destronou Seguro e se candidatou a secretário-geral para o PS ser o partido mais votado, tal não aconteceu. Quem teve mais votos foi a coligação do PSD com o CDS. A essas eleições o PS concorreu com um programa, o BE e o PCP cada qual com o seu.
Se o PS tinha um programa e negociou com o PCP e o BE, tal significou que teve de haver um ajustamento entre os vários programas, como sucede em qualquer acordo. Simples. Se ao cabo da legislatura as coisas correram bem a explicação reside no facto de PS, BE, PCP e Verdes terem adaptado em parte os seus programas e funcionarem com o objetivo de cumprirem o que acordaram. Dois e dois são quatro, é da tabuada.
Não se sabe (pode imaginar-se) o que seria um governo apenas do PS, tanto mais que o lastro deste partido sozinho no governo é de má memória, até para muitos socialistas…
Desde o Congresso do PS que uma série de dirigentes daquele partido têm vindo pedir à boca cheia a maioria absoluta. Se não fosse esse o desígnio do líder certamente que não seriam tantos a pedir o fim dos “constrangime00:00
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Por outro lado, o silêncio do líder poderá significar ficar a ver o que dá esta agitação das águas. Costa é muito hábil, gosta de treinar o campo de manobra, mas (há sempre um mas) a jogada é de tentar a maioria absoluta.
De repente passou a criticar os parceiros por causa dos programas de cada um, embora no debate com Jerónimo na SIC tenha deixado elogios ao PCP, o que se insere na sua bizarra manobra de obter o que quer, dando a entender que não é bem a maioria absoluta que quer, mas se lha derem…coitadinho, tem de aceitar.
Com base nos resultados dos acordos à esquerda dá ares de ter sido só o PS o obreiro do trabalho dos quatro partidos e empalma os louros.
Pedir, por vias subliminares, ao país uma maioria absoluta, dizendo que a não pretende, com a direita de gatas é o caminho para jogar à cabra cega com os eleitores.
A direita está derrotada. Fez tanto mal com o programa da troika que poucos portugueses a querem. Não tem quem seja capaz de apresentar alternativa aos acordos que deram sustento à legislatura que se mostrou bem mais estável que a de Passos/Portas/Cristas. Bem chamaram o Diabo e ele vai aparecer-lhes quatro anos depois com todo o esplendor no dia 6 de outubro por volta das 19h do tempo do meridiano de Greenwich.
Há na direita mais sábia quem queira impedir uma nova “geringonça” votando PS para este ter maioria absoluta e assim tentar evitar esse acordo com as esquerdas.
Nestas eleições o que vai ser decisivo são os votos no BE e no PCP. O PS já ganhou as eleições. Ninguém duvida dessa verdade. O que se não sabe é que votações vão ter os parceiros da “geringonça”. Se reforçarem as suas posições haverá de novo acordos. A chantagem à espanhola é manobra para encher o saco do PS e ameaçar com a instabilidade que ninguém consegue descortinar. Não houve em quatro anos.
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Costa será de novo primeiro-ministro. Só falta saber se terá votos suficientes para enviar o PCP e o BE para a oposição. Essa é a questão para Costa e o PS – ter ou não ter todo o poder.

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