Há dois ou três dias, António Costa, numa
manifesta atitude de arrogância, veio dizer perante os portugueses que os
resultados obtidos nesta legislatura se devem ao trabalho do PS. Nada mais falso
e, para o demonstrar, está o programa “socialista” para as eleições de 2015. Em
traços gerais, seria a continuidade da austeridade iniciada pelo governo
PSD/CDS. Temos a certeza de que, até os mais acérrimos opositores da chamada “geringonça”,
reconhecem intimamente o papel positivo que tiveram os acordos do PS com o Bloco,
PCP e Verdes, traduzido em várias melhorias das condições de vida dos
portugueses, em especial, no que diz respeito aos mais desfavorecidos. A
esquerda à esquerda do PS trabalhou desalmadamente neste sentido apesar das
amarras provenientes de Bruxelas que tornavam muito difícil qualquer iniciativa
que pudesse contorná-las, a favor dos mais atingidos pelas medidas de
austeridade impostas pela troika e acrescidas pelo Governo PSD/CDS.
Como dizia, também recentemente, Catarina Martins,
não deve passar pela cabeça de ninguém que os resultados de um Governo PS, sem
os acordos á esquerda, seriam aqueles que agora estão à vista.
Completamente de acordo com esta ideia está
Domingos Lopes no artigo seguinte que transcrevemos do “Público” de hoje onde
afirma com toda a clareza que “Não se sabe (pode imaginar-se) o que
seria um governo apenas do PS, tanto mais que o lastro deste partido sozinho no
governo é de má memória, até para muitos socialistas…”
Às vezes as coisas são mais simples que
aquilo que parecem. Quando Costa destronou Seguro e se candidatou a
secretário-geral para o PS ser o partido mais votado, tal não aconteceu. Quem
teve mais votos foi a coligação do PSD com o CDS. A essas eleições o PS
concorreu com um programa, o BE e o PCP cada qual com o seu.
Se o PS tinha um programa e negociou com o PCP e o BE, tal significou
que teve de haver um ajustamento entre os vários programas, como sucede em
qualquer acordo. Simples. Se ao cabo da legislatura as coisas correram bem a
explicação reside no facto de PS, BE, PCP e Verdes terem adaptado em parte os
seus programas e funcionarem com o objetivo de cumprirem o que acordaram. Dois
e dois são quatro, é da tabuada.
Não se sabe (pode imaginar-se) o que
seria um governo apenas do PS, tanto mais que o lastro deste partido sozinho no
governo é de má memória, até para muitos socialistas…
Desde o Congresso do PS que uma série de
dirigentes daquele partido têm vindo pedir à boca
cheia a maioria absoluta. Se não fosse esse o desígnio do líder
certamente que não seriam tantos a pedir o fim dos “constrangime
Por outro lado, o silêncio do líder
poderá significar ficar a ver o que dá esta agitação das águas. Costa é muito
hábil, gosta de treinar o campo de manobra, mas (há sempre um mas) a jogada é
de tentar a maioria absoluta.
De repente passou a criticar os parceiros
por causa dos programas de cada um, embora no debate com
Jerónimo na SIC tenha deixado elogios ao PCP, o que se insere na sua bizarra
manobra de obter o que quer, dando a entender que não é bem a maioria absoluta
que quer, mas se lha derem…coitadinho, tem de aceitar.
Com base nos resultados dos acordos à
esquerda dá ares de ter sido só o PS o obreiro do trabalho dos quatro partidos
e empalma os louros.
Pedir, por vias subliminares, ao país
uma maioria absoluta, dizendo que a não pretende, com a direita de gatas é o
caminho para jogar à cabra cega com os eleitores.
A direita está derrotada. Fez tanto mal
com o programa da troika que poucos portugueses a querem. Não tem quem
seja capaz de apresentar alternativa aos acordos que deram sustento à
legislatura que se mostrou bem mais estável que a de Passos/Portas/Cristas. Bem
chamaram o Diabo e ele vai aparecer-lhes quatro anos depois com todo o
esplendor no dia 6 de outubro por volta das 19h do tempo do meridiano de
Greenwich.
Há na direita mais sábia quem queira
impedir uma nova “geringonça” votando PS para este ter maioria absoluta e assim
tentar evitar esse acordo com as esquerdas.
Nestas eleições o que vai ser decisivo
são os votos no BE e no PCP. O PS já ganhou as eleições. Ninguém duvida dessa
verdade. O que se não sabe é que votações vão ter os parceiros da “geringonça”.
Se reforçarem as suas posições haverá de novo acordos. A chantagem à espanhola
é manobra para encher o saco do PS e ameaçar com a instabilidade que ninguém
consegue descortinar. Não houve em quatro anos.
Costa será de novo primeiro-ministro. Só falta saber se terá votos
suficientes para enviar o PCP e o BE para a oposição. Essa é a questão para
Costa e o PS – ter ou não ter todo o poder.
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