O súbito falecimento de José Mário Branco
(JMB), ainda por cima anunciado logo pela manhã, é seguramente a pior maneira
de começar o dia para quem admira este vulto da cultura portuguesa,
representante da “geração que nos deu a liberdade num tempo em que novos
tiranetes levantam de novo a cabeça”, como afirma Daniel Oliveira numa
emocionada crónica que assina no “Expresso” Diário de hoje.
É claro que vão suceder-se por estes dias declarações
a exaltar a figura humana e de homem de cultura que foi JMB, muitas delas
eivadas da mais profunda hipocrisia. Disso, não tenhamos a mais pequena dúvida.
De qualquer maneira, temos a certeza de que
outros depoimentos contêm o que verdadeiramente sentem os seus autores. Aqui
ficam alguns desses depoimentos sem nenhuma ordem hierárquica mas apenas tendo
em conta o momento em que foram recolhidos por nós:
“Parou o mais inquieto dos nossos músicos”
(José Gusmão)
“Um dos imprescindíveis. Daqueles a quem
devemos mais do que sabemos dizer.” (Catarina Martins)
“Era a força genial da música popular
portuguesa contra a ditadura. Não houve nem haverá muitos mais como ele e só
posso lembrá-lo como um dos homens mais genuínos que tive a sorte de conhecer e
de partilhar ideais e projetos.” (Francisco Louçã)
“Sobre JMB não dá para escolher uma ou
outra música, fê-las com o povo e para o povo.” (Isabel Pires)
“Está muito para além de um cantor de
intervenção.” (Camané)
“A sua morte abalou-me. Mesmo. Talvez
porque ela seja a segunda morte de Zeca Afonso. O fim lento da geração que nos
deu a liberdade num tempo em que novos tiranetes levantam de novo a cabeça. Uma
geração para quem ser solidário não era branding de multinacional, carreira em
ONG ou uma oportunidade fotográfica presidencial.” (Daniel Oliveira)
“Ajudou a fazer o Bloco, sempre a exigir
mais e a dizer o que pensava, nunca lhe bastou a modorra dos tempos e as
trincheiras em que se espera e raramente alcança.” (Francisco Louçã)
“Faltará sempre o que não se consegue
dizer. Que detestou a podridão e que amou a vida. Que não tolerava cinismo e má
fé. Que apontava a dedo o charlatão.” (Francisco Louçã)
“Que tinha a arte de querer tudo e não
ficar com nada. Que foi genial.” (Francisco Louçã)
O título deste post é um lugar
comum, mas se há situações em que se pode aplicar com toda a propriedade é
esta, no momento do desaparecimento de um dos nossos imprescindíveis, como ser
humano e como homem de cultura.
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