O movimento dos cuidadores informais fez um percurso notável e emocionante em muito pouco tempo. Rompeu a invisibilidade e chamou a atenção para o trabalho não remunerado dos cuidados.
(…)
Com os avanços e as limitações que
resultaram de uma relação de forças construída a pulso pelo movimento dos
cuidadores, [a lei dos cuidadores informais] foi uma lei histórica.
(…)
Só que a sua concretização ficou em
larga medida dependente de políticas públicas que cabe ao Governo realizar. E
aqui é que a porca tem torcido o rabo.
(…)
Até 31 de agosto, apenas 1340 cuidadores
tinham apresentado requerimento para obter o Estatuto. Destes, só 74 tinham
sido deferidos e não mais que 32 estavam naquele momento a receber o subsídio
de apoio.
(…)
Para esta situação muito contribuirá
alguma falta de informação e de contacto por parte dos serviços com os
cuidadores.
(…)
Mas a discrepância entre o número real
de cuidadores, o número dos que requereram o Estatuto e o número dos que estão
a beneficiar do apoio [resulta também de outros fatores].
(…)
Não esquecemos nem desistimos.
Foi com esta imagem [de um
Cristo negro nos braços da mãe] que a Pontifícia Academia para a Vida, um órgão
do Vaticano, tomou posição na luta contra o racismo. Ainda bem.
(…)
A simbologia deste quadro
bíblico é imensa, tanto para crentes como para não crentes.
(…)
Para os crentes, a Piedade
mostra Maria como a mãe universal, a quem todos podem recorrer e que todos
acolhe em seus braços.
(…)
A novidade da fotomontagem
recentemente publicada pela Pontifícia Academia para a Vida é ser uma tripla
mensagem contra o racismo e a xenofobia.
(…)
No momento em que o
movimento Black Lives Matter deu ao combate ao racismo uma
enorme visibilidade há aqui uma tomada de posição inequívoca.
(…)
[A divulgação da imagem] não
consente perante a vergonha de Moria e o desastre das política
migratórias da U.E..
(…)
A apresentação de Cristo
como um homem negro é um marco na visibilidade que a Igreja Católica dá a
pessoas de grupos que sempre foram sub-representados, exibidos como
subalternos, historicamente oprimidos.
(…)
No entanto, rapidamente se
ouviram gritos de “blasfémia”. Os setores conservadores
e reacionários da Igreja Católica, com particular ênfase nos EUA,
reagiram violentamente.
(…)
A indignação não é pela
liberdade artística, é pelo ataque às raízes profundas de onde emana o racismo
e o ódio. Não nos enganam.
(…)
As tomadas de posição do Vaticano
(…) parecem indiciar que se quer escrever uma nova página, o que se saúda.
Pedro
Filipe Soares, “Público” (sem
link)
Reconhece-se que o
trabalho é central na sociedade, mas não se promove a sua dignificação e
valorização.
(…)
As turbulências e impactos
imediatos da pandemia estão a ser aproveitados para justificar despedimentos,
em muitos casos de forma oportunista.
(…)
O princípio da conciliação
do trabalho com a vida familiar e pessoal deve ser salvaguardado.
(…)
Quando os sindicatos são
esquecidos, desvalorizados, marginalizados na elaboração da legislação laboral
e lhes é diminuído o direito à negociação coletiva, a sociedade toda perde o
contributo de competências e poderes estruturais e institucionais determinantes
(…)
Em todo este processo [do
Plano de Recuperação Económica] os sindicatos não podem deixar de ser chamados
a participar e têm de preparar-se para isso.
Depois do episódio do
"off" sobre os médicos de Reguengos (justo ou injusto, uma insólita
"punhalada"), já a presença [de António Costa] na lista de honra de
apoio à recandidatura de Luís Filipe Vieira à presidência do Benfica é muito
mais do que um erro político grosseiro e infantil.
(…)
António Costa não estava
só obrigado a um princípio de prudência. Estava obrigado a um princípio de
vergonha.
Mais do que nunca, temos
que ter uma conversação rigorosa, dura, intransigente, mesmo impiedosa, sobre a corrupção.
(…)
Nada mais fragiliza a
democracia nos dias de hoje do que a corrupção num debate público envenenado
pelas redes sociais.
(…)
O que aconteceu é que toda
esta gente [suspeita de corrupção] se encontrou uma ou mil vezes perante uma
tentação a que não resistiu, ou que acolheu de braços tão abertos, que nem
chega a ser tentação.
(…)
A fila enorme de gente
importante que foi lá buscar o seu quinhão, que mostra que não é um problema de
meia dúzia de corruptos, mas do “meio” que facilita o crime, ou seja, é
estrutural e não conjuntural.
(…)
Hoje isto é dinamite para
a democracia.
(…)
Os populistas usam a
corrupção para atacar a democracia divulgando o mito de que regimes de ditadura
como o de Salazar-Caetano não tinham corrupção.
(…)
O problema da corrupção (…)
vem da sociedade.
(…)
O problema é que os
promíscuos não estão sozinhos, porque, se se pensa que o alarido populista
significa verdadeira recusa deste tipo de actos, estão bem enganados.
(…)
Já viram alguma especial
indignação com a corrupção nos grandes clubes quando não é o “nosso”?
(…)
O populismo é
contraproducente para combater a corrupção; pelo contrário, até a reforça.
(…)
[Combater a corrupção] é também dar o exemplo de que não se mistura “honra” com
mundos muito pouco honrados.
Pacheco Pereira, “Público” (sem link)
Sem comentários:
Enviar um comentário