(…)
Quem defendeu que não podia
haver novas transferências sem auditoria, pretendia agora dispensar a análise
do Tribunal de Contas antes de garantir uma nova injeção?
(…)
Mas o ponto já é outro: a
Lone Star não tem obrigações para cumprir?
(…)
[A dramatização ensaiada
pelo PS] não deixa de colocar os socialistas no papel de porta-vozes dos
interesses do fundo abutre.
(…)
É no momento de fechar as
contas que se decide a injeção e, até lá, o Novo Banco tem que provar que não
está a abusar do contrato.
(…)
Quando, em 2019, o PS
recusou fazer um acordo com a Esquerda, tomou a decisão de navegar à vista,
como se tivesse uma maioria absoluta.
José Soeiro, “Expresso” Diário
Para os bloquistas, nem mais um euro para o sorvedouro do
Novo Banco, sem que primeiro se faça uma auditoria séria a um buraco negro que
já custou 4,9 mil milhões de euros para o BES e 3 mil milhões de euros para a
Lone Star.
(…)
Um escândalo a céu aberto, coberto pelos bolsos dos
contribuintes, sem explicações, sem razoabilidade, sem escrutínio.
(…)
A teoria da irresponsabilidade e do fatalismo perante o jugo
das instituições europeias, esconde um enorme desejo de fazer de conta.
(…)
Para além dos contratos firmados, está em causa uma gestão
potencialmente ruinosa que ninguém explica e que, não fosse agora travada,
seguiria inevitavelmente a sua marcha.
(…)
O enorme drama e a imensa farsa é que a aprovação desta
medida se faça com a total descredibilização de alguns políticos que não se
cansam de querer dar "banhos de ética" ou clamar por
"vergonha" perante tudo o que mexe.
(…)
André Ventura conseguiu o recorde, digno de registo, de mudar
o seu sentido de voto por três vezes em apenas 12 horas.
Em Portugal, o tempo passa e, até agora, para além de medidas
pontuais de mitigação de situações mais delicadas, não surgem políticas de
alcance estratégico.
(…)
O nosso país, como outros "periféricos", já estava
depauperado pelo austeritarismo da última crise.
(…)
As pessoas estão cada vez mais aprisionadas e atrofiadas nos
seus projetos de vida face à persistência de medos.
(…)
O Partido Socialista e o Governo não mostram vontade de
pensar e agir para além dos condicionamentos impostos pela UE, por mais que o
cenário europeu se vá esboroando.
(…)
Os partidos à sua Esquerda, em condições diferenciadas,
surgem presos entre o assumir de compromissos amplos que impeçam o assalto da
Direita ao poder, e terem programas consistentes em que o povo se reveja e em
torno dos quais se mobilize.
(…)
O tempo que aí vem perspetiva mais desemprego e reforço das
condições para a imposição unilateral (pelo poder patronal) de relações de
trabalho.
(…)
Temos, sem dúvida, de lidar com urgências, situações de
emergência e de exceção, mas não se permita que elas se tornem num dramático
novo normal.
[O contrato
de venda do Novo Banco à Lone Star] foi elaborado por Sérgio Monteiro,
do PSD, assinado pelo governador do Banco de Portugal e pelo Governo – o Bloco
de Esquerda disse que o contrato era mau e apresentou alternativas a esta venda
ruinosa, mas o PS não quis saber.
(…)
Ao
longo do tempo, em particular no último ano, foram sendo publicadas notícias
que colocavam suspeitas, legítimas, sobre a forma como o dinheiro público tem
sido gerido no Novo Banco.
(…)
Havendo
estas dúvidas sobre se a Lone Star está a cumprir as obrigações contratuais,
faz sentido que o Estado pague sem saber porque o faz, se é legítimo ou não?
(…)
Estranho
quem acha que o Estado só tem deveres, enquanto os privados que negoceiam com o
Estado só têm direitos.
(…)
É aqui
que entra a auditoria que o Bloco de Esquerda tem exigido e a grande
divergência com o Governo: nós achamos que se deve investigar antes de pagar,
enquanto o Governo quer pagar e só depois avaliar o resultado da auditoria.
(…)
Nessa
altura [Março de 2021] se verificará a dimensão da injeção de capital que o
Novo Banco reivindicará, se é mais ou menos do que os 476 milhões que discutem
nesta fase.
(…)
Um
Estado de bem é aquele que defende o dinheiro público e não se deixa roubar.
(…)
[André
Ventura] fez a tripla [votou contra, absteve-se e votou a favor] de quem não
tem espinha dorsal, não quer afrontar os poderes do sistema financeiro nem
ficar fora de nenhuma fotografia que ache apetecível.
Pedro Filipe Soares, “Público” (sem link)
Agora o
PCP [ao realizar o congresso] tornou-se um “filho” num reino de “enteados”, ou
seja, passa para a opinião pública a ideia de que quer usufruir de regalias e
privilégios que os “outros” não podem ter no estado de excepção.
Pacheco Pereira, “Público” (sem link)
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