domingo, 10 de outubro de 2021

MAIS CITAÇÕES (150)

 
Depois dos Panama Papers e do Luanda Leaks, o consórcio internacional que junta 600 jornalistas de 117 países oferece-nos os Pandora Papers, a maior fuga de informação sobre paraísos fiscais de sempre. 

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São quase três terabytes de informação confidencial sobre 14 prestadores de serviços offshore, envolvendo 29 mil beneficiários.

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Há de tudo nesta caixa de Pandora: rasto de obras de arte contrabandeadas e hoje expostas em museus, sinais de riqueza que políticos querem esconder, empresários que acumulam dívidas enquanto fazem compras de luxo, provas de corrupção, fuga a impostos sobre o imobiliário.

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Estão ali os sugadouros das riquezas dos povos.

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Mas é mesmo esse o problema dos labirínticos offshores: misturam tudo para que tudo se torne indistinto.

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Com o apoio de legisladores e da banca, os ricos criaram pátrias suas, onde a lei é facultativa. 

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Garantindo que os percursos do dinheiro e da propriedade sejam impossíveis de mapear, tornam impossível o trabalho das autoridades e o escrutínio público.

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Mesmo depois destas investigações, pouco acontecerá. 

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[O objetivo] é o de destapar um segredo que é sempre ilegítimo, por dar à elite a possibilidade de se furtar às regras impostas ao cidadão comum.

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A opacidade, e não este ou aquele delito, é o crime dos offshores.

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Partir esta caixa de Pandora, revelando tudo o que lá se esconde, é o que se exige.

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Porque impor a lei a offshores é uma tarefa derrotada à partida.

Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)

 

Poucos males corroem tanto as democracias contemporâneas como a erosão de uma base fiscal partilhada e a possibilidade que se abre de uma elite — estruturalmente corrupta — capturar o interesse comum, desviando recursos financeiros significativos.

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De acordo com a OCDE, 240 biliões de dólares de impostos devidos por empresas perdem-se, todos os anos, em esquemas de evasão fiscal.

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Estas revelações sobre a forma como o dinheiro desaparece são fundamentais na formação de uma consciência coletiva.

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Denunciar um mal é, aliás, o primeiro passo para o combater. 

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Se de cada vez que há revelações os próprios políticos reagem como se nada tivesse, entretanto, mudado por ação política, estão a desvalorizar objetivamente o combate à evasão fiscal.

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Apesar de tudo, quando o tema é combate à evasão fiscal, temos tido mais ação do que é sugerido. 

Pedro Adão e Silva, “Expresso” (sem link)

 

Algo está muito mal na justiça portuguesa.

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O que se passa na justiça portuguesa não é nem uma fatalidade nem o resultado ocasional de uma negligência.

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[O que se passa na justiça portuguesa é] o resultado de uma falta grave e reiterada de vontade política em contribuir para a dignificação das instituições democráticas.

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O “caso Rendeiro” cumpriu totalmente o padrão de morosidade da criminalidade económica cometida por pessoas com poder e com dinheiro.

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Trata-se de um padrão a que o sistema de justiça nos habituou e que se tem revelado especialmente pungente nos casos da Banca.

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Falta vontade política tanto dos governos como do poder judicial para adotar uma política pública de justiça democrática que saiba coordenar a reforma legislativa com a complexidade da sua execução.

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A situação tanto pode ser vista como cumplicidade entre omissões recíprocas como empate num jogo de poder sempre adiado entre Governo e magistraturas. Em qualquer caso é a democracia que agoniza.

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No caso Rendeiro, a tramitação processual não alterou a sua cadência apesar dos avisos e dos sinais de uma fuga anunciada.

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Depois de três condenações a penas de prisão, [Rendeiro] mantinha a medida de coação mínima. 

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A formação especializada desempenha um papel crucial na criação de condições incentivadoras, não só de uma justiça mais eficiente, mas também de uma cultura judicial mais atuante contra a sua instrumentalização.

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Perante a gravidade do caso, a principal preocupação de atores políticos e judiciais foi procurar no “outro” o culpado.

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E a desigualdade estrutural dos cidadãos no sistema de justiça é uma das vertentes mais chocantes dessa realidade.

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Quase cinquenta anos de democracia não foram suficientes para criar um sistema de justiça penal democraticamente justo e eficiente!

Boaventura Sousa Santos e Conceição Gomes, “Público” (sem link)

 

No fundo, o PCP avalia os eleitores como sendo incapazes de verem o que só o núcleo iluminado da direção vê.

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O PCP perdeu dez municípios há quatro anos. O problema era do anticomunismo. Nestas eleições municipais volta a perder e a cobrir a derrota com a mesma manta.

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Ora defender que foi o anticomunismo a explicação para as perdas é uma desculpa de muito mau pagador.

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A direção do PCP não é capaz de fazer a análise serena acerca do que correu mal.

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A orientação político/ideológica da direção do partido de fechamento e de apego a um radicalismo verbal de fachada comunista isola os autarcas e retira-lhes credibilidade.

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A direção do PCP não se incomoda muito em sacrificar muitos dos melhores quadros para se manter ao leme, e isso leva-a a um isolamento da realidade.

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Num momento em que o PCP é tão necessário para a defesa das populações e dos trabalhadores portugueses, a direção só para se manter insiste em tapar o sol com a peneira.

Domingos Lopes, “Público” (sem link)


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