(…)
[Neste
processo] o fantasma da hipocrisia está por aí desde sempre.
(…)
Também
não é novidade a militarização da política, é tão saboroso fazer coro contra ao
“apaziguadores”, no caso os que não enfunam as velas com o sucesso de Biden.
(…)
Há
sempre um estatuto a ganhar para os que mostram o seu “sentido de Estado” exigindo
mais guerra.
(…)
Já
fizeram isto quando Mário Soares e Maria de Lurdes Pintassilgo se opuseram á
invasão do Iraque.
(…)
[De outros
três fantasmas] o primeiro é o calculismo dos dirigentes, que cuidam de si
próprios sem qualquer preocupação com a ordem do mundo.
(…)
Biden
tem eleições em novembro, pode perdê-las e espera que os tambores de guerra
mobilizem o seu eleitorado.
(…)
[Biden]
pretende apagar o efeito político da derrota no Afeganistão, a segunda vez na
história que o exército norte-americano foi humilhado e fugiu do terreno de
operações que escolhera.
(…)
[Macron]
tem eleições em dois meses e convinha-lhe a afirmação da grandeza de França
como árbitro europeu.
(…)
A
cimeira que anunciou no fim de semana foi desprezada tanto por moscovo como por
Washington.
(…)
O
segundo fantasma é o da hierarquia: a Casa Branca quer dirigir a Europa e não tolera
uma relação económica com a Rússia.
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Desde
o início da tensão, Biden anunciou que o seu objetivo era impedir o Nord Stream
2, perante o incómodo de Scholz.
(…)
A Alemanha
é uma grande perdedora neste conflito.
(…)
O
discurso torrencial de Putin poderia ter posto um fim a essa mitologia [do partido-guia]
pois não hesitou em reclamar o império russo do fim do primeiro milénio.
(…)
Há uma
parte da esquerda que confunde a sua memória lendária com este político
imperial, social e religiosamente conservador, adorado pela extrema-direita, um
tirano sem escrúpulos.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
Este é o fim do pós-guerra e o mais
pesado início para a reconfiguração da nova ordem mundial que já se vislumbra,
mas que ainda não tem vigência.
(…)
Uma nova bipolaridade entre blocos pode
ser o reacender dos piores fantasmas.
(…)
Os que se indignam (e bem) com o ataque
russo não queimaram pestanas pelo reiterado incumprimento do Tratado de Minsk.
Ignoraram todos os sinais e atropelos de ambas as partes.
(…)
Agora somos (quase) todos ucranianos e
anti-imperialistas, imersos em soluções que não resistem à memória da invasão
do Iraque, da anexação da Crimeia.
(…)
A importância de atacar a oligarquia
russa no sistema financeiro é crucial. Em Portugal, façamos a nossa parte.
(…)
E contribuir, à escala internacional,
para um princípio de solução que nunca poderá deixar de passar pelo compromisso
claro de que a Ucrânia não integrará a NATO.
(…)
A Alemanha recuou na abordagem ao Nord
Stream2.
(…)
Mais uma vez, os humanistas não
acreditaram no que os homens são mesmo capazes de fazer.
[Todas as mulheres gostariam de se sentir] livres
e não com aquela coragem de quem tem, a toda a hora, de enfrentar o medo;
livres e não expostas ao julgamento que tem por base a tríade bafienta de se
ser bela, recatada e do lar.
(…)
Há ainda muitas lutas com as quais nos vamos debater, bem sei.
(…)
Ficámos
a saber que no show
da vida — aquilo que agora é inteligente chamar-se experiência social —, o entretenimento está acima de quaisquer valores e que
só o amor resolve as coisas mais condenáveis.
(…)
Terminámos
a semana passada a saber que um militar da GNR, acusado de ter violado uma mulher
detida, foi absolvido pelo Tribunal.
(…)
Em
casa, no convívio social, nas instituições e nos media, ainda lidamos com a história da colher,
do marido e da mulher, em olhares, frases, expressões que cheiram a mofo.
(…)
É isto
que o patriarcado e a misoginia nos ensinam. Somos fracas, mas fortes na arte
da provocação — qual Eva a dar a provar a maçã a Adão.
(…)
Somos vítimas, porque temos culpa, na forma de vestir, de
andar, de falar, de fazermos escolhas.
(…)
Vai na
volta, estamos a falhar enquanto vítimas e não percebemos que tudo o que de mau
nos acontece é consequência de não querermos ser belas, recatadas e do lar.
Inês Antunes, “Público” (sem link)
Foi em janeiro de 2020 que o escândalo Luanda
Leaks rebentou.
(…)
[Ficou a conhecer-se] uma rede de lavagem de
dinheiro e empresas offshore que
permitiram a Isabel dos Santos, filha do ex-presidente de Angola, construir um
império económico que fez dela a mulher mais rica de África.
(…)
A
fortuna nasceu e cresceu à custa da miséria do povo angolano, que assim se viu
arredado da enorme riqueza natural do seu país em petróleo e diamantes.
(…)
Desde
os anos 90 que a União Europeia tem regras de combate ao dinheiro sujo. A
última versão destas regras é a 5.ª Diretiva Antibranqueamento de Capitais e
Financiamento do Terrorismo, que data de 2018 e tinha de ser transposta para a
legislação nacional até janeiro de 2020.
(…)
Alargar
as regras impostas aos auditores antes de garantir que estes fazem o que lhes é
pedido é, na melhor das hipóteses, ingénuo. Mas mesmo com estas limitações, a
quinta diretiva é um passo na direção certa.
(…)
Por isso é inaceitável que Portugal não tenha ainda
transposto a diretiva para a legislação nacional, dois anos volvidos.
(…)
Os Luanda Leaks aterraram no
início da pandemia, o que explica a amnésia generalizada sobre este escândalo e
as suas ramificações em Portugal.
(…)
Muitas autoridades não fizeram o devido trabalho de casa.
(…)
Os
países ricos em recursos naturais com instituições fracas ficam frequentemente
sujeitos ao saque por elites corruptas, que exploram os ditos recursos a favor
de uma minoria ligada ao poder, expropriando e empobrecendo as populações.
(…)
Desde
2012 Portugal já concedeu 431 “vistos gold”
a cidadãos russos. Este esquema foi denunciado repetidas vezes (incluindo pela
Comissão e Parlamento europeus) por não implementar o necessário escrutínio à
origem do dinheiro.
Susana Peralta, “Público” (sem link)
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