(…)
Foi possível aguentar muito emprego e
alguns rendimentos, mas, em geral, não foram produzidas melhorias estruturais
nas empresas, o que significa estarmos perante perigos iminentes.
(…)
A pandemia evidenciou vulnerabilidades
que já existiam.
(…)
O desarmar das medidas de exceção não
pode significar voltarmos às anteriores desproteções.
(…)
É necessária uma visão integrada do
Sistema da Segurança Social, nos termos inscritos na Constituição da República.
(…)
Estão entregues às famílias pesadas
cargas com as políticas de cuidados, que não se coadunam com as realidades da
vida de hoje e que sobrecarregam imenso as mulheres.
(…)
Impõe-se uma profunda reflexão sobre o
equilíbrio entre dever da família e direito social e sobre como lidar com as
vidas mais longas, de forma universalista, fora e dentro do trabalho e ao longo
de toda a vida.
(…)
Não haverá crescimento a partir do
aumento da produtividade se não for alterado o perfil da economia, dinamizada a
negociação e aumentados os salários.
(…)
Criação de condições para voltarmos a ter
contratação coletiva, destruída paulatinamente ao longo de vinte anos.
(…)
Combate efetivo às precariedades.
Putin e a nostalgia imperial são muito perigosos numa Europa
sem defesa a não ser os americanos.
(…)
A
obrigação para quem tem uma escrita pública é perceber que a complexidade da
história pode e deve ser compreendida, e que não olhar para as coisas a preto e
branco não impede que se tenha posição.
(…)
Nestes
tempos de enorme simplificação, em que o conforto de ver a preto e branco
domina as posições e induz ao clubismo politico, nunca quis deixar de ver a
cores, ou seja a tentar perceber a complexidade de qualquer humano assunto.
Pacheco Pereira, “Público” (sem link)
Os transportes públicos são a espinha dorsal da mobilidade
nas cidades.
(…)
Todos
os dias entram na cidade 370 mil carros, que se juntam aos 160 mil que já
circulam nas suas ruas, fazendo com que se desloquem diariamente na capital tantos
carros como habitantes.
(…)
Veio
da esquerda o maior avanço das últimas décadas para incentivar o uso do
transporte público: a unificação de centenas de títulos de transporte num passe
único e a enorme redução do seu preço.
(…)
Nas
últimas eleições autárquicas, o Bloco de Esquerda defendeu a gratuitidade dos
transportes públicos para toda a gente, a implementar num plano faseado e
quantificado.
(…)
Como
seria expectável, o Bloco de Esquerda, cumprindo o seu programa eleitoral,
redigiu uma proposta com a colaboração de vários especialistas em transportes e
pediu o agendamento da sua apresentação ao presidente da Câmara de Lisboa.
(…)
Não só
Carlos Moedas não apresentou ainda qualquer proposta [que prometeu em campanha
eleitoral], como tem bloqueado a proposta do Bloco de Esquerda, impedindo o seu
agendamento.
(…)
Em 126 dias de governo da CML, a proposta do Bloco já passou
70 na gaveta da coligação de direita.
(…)
Uma
medida tão importante como os transportes públicos gratuitos, um tema em que
parecia haver maioria na CML para aprovar e decidir um caminho comum, foi
sequestrada pela direita.
(…)
Assim, decidimos avançar para tribunal contra o Presidente da
CML, por incumprimento das regras da autarquia.
(…)
Os novos tempos da direita parecem ser de falta de diálogo e
de incumprimento das regras da democracia.
Beatriz Gomes Dias, “Público” (sem link)
A soberania da Ucrânia não pode ser posta em causa. A invasão da
Ucrânia é ilegal e deve ser condenada.
(…)
Ainda mal refeita da pandemia, a Europa prepara-se para um
novo desafio de proporções desconhecidas.
(…)
O que se passou desde então [início dos anos 90 do séc. XX]
para que o Ocidente esteja hoje de novo a defrontar a Rússia?
(…)
A
resposta mais imediata será que tal se deve à total inépcia dos líderes
ocidentais para capitalizaram os dividendos do colapso da União Soviética.
(…)
[A UE]
foi incapaz de construir uma base sólida para a segurança europeia que
obviamente teria de ser construída com a Rússia, e não contra a Rússia.
(…)
Com o fim da Guerra Fria, os EUA sentiram-se donos do mundo,
um mundo finalmente unipolar.
(…)
Os EUA, com o entusiástico apoio da Alemanha, acharam que era
tempo de a Jugoslávia colapsar.
(…)
A nova
guerra dos Balcãs, no início da década de 1990, transformava-se assim na
primeira guerra em solo europeu depois de 1945.
(…)
Os
países ocidentais (à cabeça, a Alemanha) apressaram-se a reconhecer a
independência das novas repúblicas em nome dos direitos humanos e da protecção
das minorias.
(…)
Em 1991, o Kosovo exigia em referendo a sua independência da
Sérvia.
(…)
Qual é
a diferença entre o Kosovo e Donbass, onde as repúblicas etnicamente russas
realizaram referendos em que se manifestaram a favor da independência?
Nenhuma, excepto que o Kosovo foi apoiado pela NATO e as repúblicas do Donbass
são apoiadas pela Rússia.
(…)
Qual a
diferença entre a ameaça à sua segurança sentida pela Rússia perante o avanço
da NATO e a “crise dos mísseis” de 1962, quando os soviéticos tentaram instalar
mísseis em Cuba e os EUA, ameaçados na sua segurança?
(…)
A
resposta à pergunta sobre como e por que chegámos aqui reside fundamentalmente
num erro estratégico dos EUA e da NATO, o de não terem visto que nunca
estiveram num mundo unipolar por eles dominado.
(…)
Apostados
em não reconhecer o seu declínio, desde a saída caótica do Afeganistão ao
medíocre desempenho na pandemia, os EUA insistem em fugas para a frente, e
nessa estratégia pretendem arrastar a Europa.
(…)
[A Europa] pagará uma alta factura pelo que se está a passar.
(…)
É fácil concluir quem beneficiará da crise que aí vem
[a China].
(…)
Para a
Europa é melhor um mundo multipolar governado por regras de coexistência
pacífica entre as grandes potências do que um mundo exclusivamente dominado por
um só país.
(…)
A invasão da Ucrânia é inaceitável. O que não se pode dizer é
que não foi provocada.
Boaventura Sousa Santos, “Público” (sem link)
Sem comentários:
Enviar um comentário