(…)
O
truque português fez escola.
(…)
Só
que, neste caso, o projeto fracassou e, mesmo ganhando dois lugares, o PP ficou
mais linge da maioria.
(…)
O Vox,
agora, tem a chave do poder.
(…)
Para
governar, a direita tradicional ficaria dependente de um acordo que a
enfraqueceria.
(…)
A
direita espanhola vive o dilema que o PSD sofreria se precisasse do Chega para
fazer Governo.
(…)
Assim,
o que a velha direita tem agora de ceder favorece a sua destruição a longo
prazo, ao entregar o controlo da agenda aos bufões.
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No
centro, más notícias, o PSOE perdeu sete lugares.
(…)
Onde o
centro não aparece como o eixo do poder, pode reduzir a sua mobilização.
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Se o
Governo falha às espectativas de curto prazo da sociedade, o preço será a deslocação
para a direita.
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Na esquerda,
pior ainda (…). Há duas semanas, figuras do Podemos apressaram-se a proclamar a
superioridade da sua estratégia de participação no Governo, uma conclusão que
estes resultados não favorecem.
(…)
A
modéstia é boa conselheira e a política de esquerda deve reconhecer as
dificuldades de uma alternativa viável.
Francisco Louçã, “Expresso” Economia (sem link)
No passado os impactos daqueles avanços e
aplicações eram muito de âmbito local.
(…)
Hoje, vai-se impondo uma organização da
sociedade em que tudo tem de estar ligado com tudo, numa socialização
tecnológica que desvaloriza a interação humana e as suas estruturas de
intermediação.
(…)
Uma sociedade sem barreiras de controlo
será uma selvajaria.
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Tudo o que é passível de ser ligado em
rede é propiciador de ataques que podem pôr em causa o nosso estilo de vida e a
própria vida.
(…)
Existem poderes fátuos privados que não
são responsabilizados ou responsabilizáveis perante a sociedade, mas impõem-lhe
regras e comportamentos, em geral submetidos à pretensa superioridade das
"leis do mercado".
(…)
A resposta aos problemas gerados pela
comunicação digital, que tende a aumentar, bem como a utilização de tecnologias
em geral, exige reflexão sobre como convocar e responsabilizar todas as
instituições e organizações da sociedade e os diferentes atores.
(…)
Porque as tecnologias com que lidamos têm
"um poder astronómico" é que se exige estudo sério de todos os seus
impactos e que sejam postas ao serviço de todos os seres humanos.
O Estado português que, ao longo de sucessivas eleições, tem tratado o
voto dos emigrantes com os pés, foi apanhado descalço com a inesperada
alteração ao ciclo legislativo decorrente das eleições legislativas
antecipadas.
(…)
O desincentivo ao voto é gritante. Mesmo
com mais um inenarrável imbróglio que o Tribunal Constitucional tenta (e bem,
dentro do possível) minimizar, o mal está feito.
(…)
Os emigrantes, convidados a renovar votos
a 27 de Fevereiro apenas por voto presencial, sem direito a voto postal,
ficarão maioritariamente em casa.
(…)
A revisão da lei eleitoral é tão urgente
como acabar de vez com a possibilidade de um partido [PSD] dizer algo e o seu
contrário, como se a responsabilidade política fosse a enterrar junto com a
sensatez.
(…)
O centralismo cuida das comunidades
portuguesas no estrangeiro com o mesmo desrespeito com que trata as diferentes
realidades regionais dentro do país.
(…)
A forma como o poder político trata os
emigrantes não é muito diferente daquela com que trata dos legítimos interesses
do Portugal real que desconhece.
Há quem não hesite em inventar ou em falsificar o passado,
sobretudo aquele mais próximo, para que este possa corresponder às suas
expectativas e interesses.
(…)
O primeiro [exemplo que se pode dar] refere-se à forma como
os dois grandes sistemas concentracionários do século passado – os campos de
extermínio da Alemanha nazi, e o Gulag estalinista, replicado na China de Mao –
são encarados de forma profundamente desigual.
(…)
O segundo exemplo respeita à história do movimento estudantil
em Coimbra entre os anos cinquenta e o fim do regime.
(…)
O terceiro exemplo, muito importante quando nos aproximamos
dos 50 anos volvidos sobre o 25 de Abril, alude à forma como no sistema de
ensino são hoje ensinados os combates da oposição aos governos de Salazar e
Caetano, bem como as transformações do rico e complexo período revolucionário.
(…)
Enquanto os primeiros são praticamente omitidos, dando a errada
ideia de que a maioria da população aprovava a opressão, a ditadura e a guerra,
o segundo passa por um relato muito truncado, que fornece às novas gerações a
impressão de corresponder apenas a uma fase conturbada, cheia de «erros» e
«exageros», desta forma disseminando a indiferença pelas conquistas da
democracia.
Rui Bebiano, “Diário as beiras”
[Houve um tempo em que a notícia de] um acidente em Portugal
era mais importante do que uma tragédia na Etiópia.
(…)
Os jornais eram vendidos e as rádios e televisões privadas
dependiam da publicidade.
(…)
Hoje [as notícias] aparecem avulsas nas redes. O mercado da
credibilidade passou a ser o mercado da atenção.
(…)
Os canais de notícias e jornais digitais, com fluxos
noticiosos ininterruptos, anularam as primeiras funções do jornalismo:
selecionar, hierarquizar, dar contexto.
(…)
Jornalistas, editores e diretores assumiram a ética da concorrência
comercial.
(…)
[Foi abandonado] o critério do interesse público para abraçar
o interesse do público (mercado).
(…)
No estado de privação financeira da imprensa, a pressão é
eficaz.
(…)
Na
televisão a informação e o entretenimento são como o shampoo e o amaciador nas
prateleiras do supermercado.
(…)
fala-se
das redes sociais, mas somos nós, os que ocupam o espaço mediático tradicional,
boa parte do problema.
(…)
Fomos
convencidos de que a nossa função social é fazer empresas prosperar.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
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