(…)
Certo
é que, com menos de um mês de guerra e sanções, já há protestos de camionistas
na Europa.
(…)
Esta é
apenas uma parte do problema. Rússia e Ucrânia são dos maiores produtores de
alumínio, cobalto, cobre, níquel, ferro, titânio, aço e grafite.
(…)
Mas,
ainda mais relevante, é serem o primeiro e o quinto exportadores mundiais de
trigo, com mais de um quarto da produção global.
(…)
Representam
20% do mercado exportador de milho e cevada.
(…)
Tudo
se alinha para uma crise alimentar à escala global.
(…)
Como
aconteceu no passado, o aumento do preço do pão pode levar a revoltas em países
da dimensão do Egito.
(…)
Perante
a determinação da corajosa resistência ucraniana, a Rússia não tem condições
militares e económicas para ocupar de forma prolongada a Ucrânia.
(…)
Do
lado ucraniano, a heroica resistência dentro das cidades resulta sempre em
muitas perdas civis.
(…)
Salvar
a Ucrânia pode custar a Europa e o mundo. A única solução é negociar
antes disso.
(…)
Cada
semana é um passo num arame instável que, a qualquer deslize pode descambar
numa catástrofe.
(…)
Haverá
um momento em que Rússia, Ucrânia e Europa, com Estados Unidos, chegam ao seu
limite.
(…)
[Como]
a Ucrânia não pode fazer mais do que resistir, é provável que o desfecho não
corresponda aos desejos de qualquer das partes.
(…)
O pior
que poderia acontecer aos russos seria ficar a sofrer por muito tempo na
Ucrânia, o melhor seria a queda de Putin.
(…)
É a única
certeza desta guerra: vença quem vencer, vencerá a China.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
Para
já, quando não se descortina a racionalidade no campo de batalha, torna-se
difícil compreender como é que ela vai surgir no momento da negociação.
(…)
Aconteça
o que acontecer, não poderemos, num horizonte temporal curto, vislumbrar um
cenário de alguma prosperidade e estabilidade política na Europa.
(…)
Contra
as expectativas de muitos, a Europa revelou-se unida e não hesitou no momento
de assumir os custos das sanções económicas à Rússia.
(…)
Acontece
que, nas suas configurações atuais, é pouco provável que [UE e NATO] estejam
preparadas para lidar com o mundo de amanhã.
(…)
A
China deixará de ter na Rússia um aliado com peso nas relações económicas e de
poder com o Ocidente e a transição energética acentuará a trajetória de
empobrecimento da Rússia.
Pedro Adão e Silva, “Expresso” (sem link)
O
Governo deve baixar o preço dos combustíveis no curto prazo e definitivamente
não deve baixar os impostos sobre os combustíveis.
(…)
Reduzir
os impostos sobre os combustíveis não dá qualquer garantia de reduzir os preços
dos mesmos.
(…)
É
natureza do cartel do monopólio fóssil explorar todas as circunstâncias
históricas (reais ou provocadas) para expandir lucros, e a situação atual não
é exceção.
(…)
Não
existe nenhuma razão material para o aumento dos preços que não seja especulação.
(…)
A
única maneira credível de fazê-lo é impor preços máximos dos combustíveis e
impor perdas às empresas energéticas e aos seus acionistas.
(…)
Baixar
impostos só garante desonerar as empresas e perder receita fiscal, isto é,
pôr-nos a pagar o resgate destas empresas (uma vez mais) e viabilizar a
continuação da indústria fóssil.
(…)
A
solução para a situação é uma modificação fundamental da matriz energética,
eliminando definitivamente o gás e o petróleo do sistema, não daqui a 30 anos,
mas esta década.
(…)
Para
travar os piores cenários da crise climática e cumprir os mínimos do Acordo de
Paris é necessário cortar 50% das emissões globais até 2030, comparando com o
nível de 2010.
(…)
O
Governo deve impor preços máximos aos combustíveis já e acelerar a transição
energética a um ritmo de guerra.
João Camargo, “Expresso” (sem link)
Pelo seu impacto destrutivo, pelas cargas de injustiça e violência que
gera, pelo seu potencial de horrores e morte, a guerra é a crise das crises,
aquela que mais assusta os seres humanos.
(…)
Por tudo isso a exigência de que se ponha fim à guerra é a prioridade das
prioridades.
(…)
Todavia, a luta pela paz não se confina
ao ato de terminar a guerra.
(…)
Se os "mecanismos" políticos,
económicos e sociais que ficarem instalados aumentarem as injustiças, podemos
ter a certeza de que a guerra seguinte estará mais próxima.
(…)
A recente pandemia, e agora a guerra na
Ucrânia, vieram evidenciar em dimensões coincidentes ou distintas a obstrução
dos canais que até hoje têm sustentado o aprofundamento dos processos de
integração económica.
(…)
O papel do Estado (s) não pode
afunilar-se na missão de garantir lucros aos acionistas das empresas.
(…)
A responsabilidade social das empresas
não deve ser mero produto propagandístico;
(…)
O risco não pode desaguar todo nas costas
dos trabalhadores e no comum dos cidadãos.
(…)
Na sequência da invasão e guerra na
Ucrânia, subiu de tom o "coro económico" de setores empresariais
viciados em reivindicar apoios do Estado.
(…)
Os preços sem dúvida sobem, mas quem os
sobe são empresas. Isto é, as empresas têm custos mais elevados porque há
outras empresas que aumentam os preços.
(…)
As empresas mais frágeis face à
concorrência tendem a perder, mas isso é improvável que aconteça com as grandes.
(…)
Uma coisa é certa,
quem mais perde é quem paga o preço final dos bens de consumo e não consegue
transformar esses acréscimos de custos em aumento de salário ou de pensão.
Por razões óbvias, as informações sobre
a guerra propriamente dita são escassas e muito dependentes do acesso aos
campos de batalha.
(…)
Sabemos pouco sobre a frente de batalha,
mas isso é normal na condução de operações militares. O que é grave é que essa
ignorância não pareça ser sentida como importante, no meio da multidão de imagens
muito mais “populares”.
(…)
Uma guerra é um tema emocionalmente
forte, e 24 horas de guerra por dia presta-se a dois efeitos aparentemente
contraditórios: um, um efeito de viciação; outro de cansaço.
(…)
Quer num caso, quer noutro, o rastro
comunicacional torna-se essencialmente emotivo e pouco racional, o que o deixa
muito propício à manipulação.
(…)
As emoções moldam a
opinião pública com facilidade, e a razão, não.
(…)
[A televisão] comunica
facilmente a emoção, e com 24 horas em cima, com uma repetição sistemática de
imagens fortes, esmaga a razão.
Pacheco Pereira, “Público” (sem link)
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