(…)
Partindo
do mesmo anacronismo que levará a Rússia ao desastre, ninguém quer estar no
lugar do apaziguador.
(…)
Estamos,
pela primeira vez em 80 anos, a ver tudo pelos olhos das vítimas. E
descobrimos que as guerras nunca acabaram.
(…)
As
tantas em que participámos como agressores foram desmaterializadas, com as
vítimas vistas de longe.
(…)
Expostos
diariamente a uma tenebrosa realidade que desconhecíamos, as nossas cabeças
regressaram ao último momento em que isto foi possível.
(…)
Muitos
flertam com o enfrentamento direto que levaria a uma guerra nuclear.
(…)
Putin
não é apenas um bully, e já o devíamos ter percebido.
(…)
Joe
Biden exige que a China escolha um lado. Como precisamos dela como mediadora, o
nosso problema é mesmo se o escolher.
(…)
Aquilo
a que convencionámos chamar de Ocidente acreditou que um capitalismo global
desregulado traria a prosperidade e a democracia.
(…)
Sem
disparar um tiro, com um capitalismo de Estado e planeado ainda mais
implacável, a China está a tomar o nosso lugar.
(…)
Em
África, onde oferece nem menos nem mais liberdade, nem menos nem mais paz, nem
menos nem mais respeito pelos direitos humanos, [a China] já decide tudo.
(…)
Os
EUA, que uma esquerda mais antiamericana do que anti-imperialista ainda vê como
o centro de todas as coisas, são um império poderoso mas em declínio.
(…)
A
Rússia estrebucha violentamente em busca de um passado que já nem sequer é próximo.
(…)
Achamos
que somos atrativos porque vivemos em democracias.
(…)
O
resto do mundo percebe que os nossos valores são, como se lê nos
estabelecimentos comerciais, para consumo exclusivo da casa.
(…)
Muitos
conhecem a guerra de sempre e não são tão impressionáveis perante os seus
horrores.
(…)
Nós já
não somos o centro do mundo nem temos o poder de antes.
(…)
Temos
de nos concentrar em garantir, por agora, que a China não dá a mão a Putin.
(…)
Há
solução para a guerra? Apenas provisória, injusta e urgente.
Daniel Oliveira, “Expresso” (sem link)
Um mês depois da invasão da Ucrânia pela
Rússia, a guerra prossegue com os seus horrores, num cenário de corrida contra
o tempo, de premência da ação diplomática.
(…)
A diplomacia tem de ser bem mais do que a
troca de "avisos" a que temos assistido, e jamais se pode restringir
às verdades das propagandas.
(…)
O ricochete das sanções aplicadas à
Rússia está longe de ser percetível, mas é certo que o grande poder
económico/financeiro não abdicará de fazer negócio.
(…)
A exploração dos trabalhadores e dos
povos aumenta.
(…)
A extrema-direita e forças fascistas,
atuando em todos os espaços do conflito, aproveitam para "normalizar"
a sua existência e vão-se credibilizando.
(…)
No plano nacional, o contexto com que o
Governo se depara, (…), é exigente.
(…)
A desvalorização salarial e das
profissões, a precariedade e o esvaziamento da negociação coletiva como fatores
estratégicos do perfil da economia têm de ser abandonados.
(…)
Será que o Governo vai ser capaz de
construir políticas articuladas para respostas estruturais aos problemas
demográfico, habitacional, das mobilidades, da pobreza e territorial?
(…)
Não é preciso ser bruxo para adivinhar que
o deslizar para a Direita e a "normalização" da extrema-direita vão
acentuar a tentação para afastar contributos das forças da Esquerda.
Nestes dias comemora-se a ultrapassagem do tempo da ditadura
pelo tempo da democracia.
(…)
Olhando a partir do meu tempo “vivido”, a ditadura demorou
muito mais tempo do que a democracia.
(…)
Olhando
para os 48 anos de ditadura, o tempo parece-me muito longo; os 48 anos de
democracia um instante incomparável com o anterior.
(…)
Nenhum
historiador consegue escrever sobre estas quase cinco décadas sem fazer
distinções entre tempos, mas há constância (ou constâncias) na ditadura, a
começar por ser isso mesmo, uma ditadura.
(…)
Por outro lado, os 48 anos de democracia parecem-me muito
rápidos.
(…)
Por
muito que estes diferentes acontecimentos [mais recentes] marquem momentos da
vida da democracia, parecem ter uma duração curta e ter menor valor estrutural
do que os grandes momentos da relação da ditadura com a história do século XX.
(…)
Como
Salazar estava lá quase todo este tempo, a face do regime era sempre a mesma,
tudo parecia “evolução na continuidade”.
(…)
Aliás,
parece que, à medida que os anos de democracia e liberdade vão passando, se
instala um consenso de regime mais pacífico, e por isso sentido como uma normal
respiração do tempo, como se nada acontecesse.
(…)
Comparado
com 48 anos de claustrofobia e medo, sem liberdade, com polícia política e
censura, guerra em África, o tempo da democracia parece mais suportável, menos
pesado, logo, mais rápido.
(…)
A claustrofobia e a autarcia paralisavam a mudança e, por
isso, o tempo parecia mais lento antes de 1974.
(…)
Em bom
rigor, [a partir do dia 26 abril de 1974] começou a haver tempo, dia, manhã,
meio-dia, tarde, fim de tarde, crepúsculo, noite e madrugada, e não só noite.
Pacheco Pereira, “Público” (sem link)
Em Portugal, felizmente, muitas cidades contam já com
alternativas aos transportes habituais dentro dos seus centros urbanos.
(…)
[Apesar de termos estado] muito tempo confinados, acredito
que veremos uma aceleração no ritmo de crescimento do uso deste tipo de
soluções.
(…)
Sabemos que o futuro depende das acções de cada um e que
estas farão a diferença em anos vindouros.
Santiago Páramo, “Público” (sem link)
É tempo de os tribunais libertarem os profissionais da
cultura da inevitabilidade da precariedade.
Joana Neto, “Público” (sem link)
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