(…)
O
Orçamento desiste de quem trabalha. Ao recusar atualizar salários enquanto a
inflação galopa, corta rendimentos.
(…)
É o
próprio Governo que prevê uma inflação de 4% em 2022 e confirma que os preços
continuarão a subir no próximo ano.
(…)
Fernando
Medina assume, assim, que haverá mais quebra de poder de compra e que ela será
permanente.
(…)
O
debate orçamental confirmou que a maioria absoluta recua mesmo face aos
modestos compromissos que o PS tinha assumido.
(…)
Lembra-se
de António Costa repetir, há pelo menos cinco anos, o compromisso de que
garantiria médico de família a toda a população? Depois das eleições, a
intenção caiu do Programa de Governo.
(…)
Uma
após outra, a maioria absoluta vai metendo as promessas na gaveta.
(…)
Este é
um Orçamento de injustiça.
(…)
[Por
que razão o Governo] rejeita taxar as mais-valias de quem faz milhões em
criptomoedas e não contribui com um único cêntimo?
(…)
O PS
recusa uma taxa sobre os lucros extraordinários verificados na energia, uma
medida recomendada pela Comissão Europeia, pela OCDE e pelo FMI.
(…)
Toda a
política orçamental do Governo está, portanto, subordinada a um objetivo de
direita: cumprir as regras do Tratado Orçamental e reduzir o défice “custe o
que custar”.
(…)
O
Orçamento da maioria absoluta do PS — “o mais à esquerda de sempre”, lembra-se?
— deixa a direita com falta de críticas.
A Ucrânia
é um país bloqueado pela história, pela demografia e por interesses externos.
(…)
A sua
política tem sido, desde o fracasso económico dos anos 90 (o PIB caiu 60% e a
emigração foi torrencial), um pêndulo entre o Ocidente e a Rússia.
(…)
[Houve
sempre] uma clivagem entre a parte ocidental e as regiões mais industrializadas
a leste, que se mantiveram próximas da Rússia.
(…)
Oferecendo a unidade nacional contra o
invasor e martirizando os territórios que lhe eram mais próximos, Putin pode
ter resolvido este bloqueio.
(…)
A
vitória de Zelensky, em 2019, parecia representar a interrupção do movimento do
pêndulo.
(…)
Aproveitando
o descontentamento com a corrupção e a austeridade, prometia a paz no Donbas e
a reconciliação com os russófonos maltratados por Poroshenko.
(…)
É nas
províncias do Leste que Zelensky tem as vitórias mais significativas. Mas
também é na promessa de conciliação e paz que falha clamorosamente.
(…)
Com o
apoio ativo dos EUA à revolta de Maidan e ao esforço militar ucraniano no
Donbas, pairava sobre Moscovo o fantasma da adesão da Ucrânia à NATO.
(…)
E o
medo russo não era paranoia. O alargamento da NATO a leste fez-se violando
compromissos anteriores, quando a Rússia não era uma ameaça.
(…)
Confrontam-se
dois discursos para explicar esta guerra. Um resume tudo à expansão da NATO,
braço dos interesses imperais dos EUA, outro ao apetite imperialista de Putin.
(…)
O que
é moralmente relevante é uma potência ter decidido invadir um país soberano. Só
ela pode ser responsabilizada.
(…)
Enquanto
aspirante a imperador, Putin ofereceu aos EUA a oportunidade para travarem a
sua decadência.
(…)
Como
qualquer potência, os EUA gostam da globalização que controlam.
(…)
Ao
contrário de alguns saudosistas, não procuro imperialismos que confrontem os
EUA.
(…)
Ao
contrário do discurso dominante, não desejo protetorados de um “polícia do
mundo”.
Em Davos, foi descaradamente promovido o
belicismo e a luta interimperialista.
(…)
A Oxfam confirmou [que a globalização vai
no melhor sentido para os muito ricos] ao denunciar que a pandemia lhes
propiciou, em dois anos, uma acumulação de riqueza igual à que tinham obtido
nos vinte anos anteriores.
(…)
E que dela resulta uma enorme pobreza e
sofrimento.
(…)
[Em Portugal surgem] duas preocupantes
realidades; no plano político começa a "não haver gente adulta na
sala"; no plano económico, consolida-se o baixo perfil de especialização
da economia.
(…)
O objetivo de aumentar a produtividade,
embora levado a sério por algumas empresas e serviços públicos, no geral não é
assumido, e o do aumento dos salários encostou às boxes.
(…)
Dirigentes patronais e comentadores
doutorados no senso comum neoliberal lançaram-se na promoção da tese de que os
elevados impostos são o empecilho à competitividade das empresas.
(…)
[Ora, os custos globais do trabalho] só
pesam no plano global dos custos das atividades das empresas e dos serviços
públicos cerca de 25%.
(…)
[Há outros grandes problemas] que
bloqueiam a melhoria da produtividade e também dificultam a competitividade das
empresas.
(…)
A competitividade não emperra nos custos
do trabalho.
Portugal é um país pobre, pouco desenvolvido, muito inculto,
pouco cosmopolita e não me é indiferente que seja assim.
(…)
Tudo
isto é ainda verdade, embora os últimos quase cinquenta anos de democracia
tenham melhorado de forma drástica todos estes
parâmetros.
(…)
Houve
uma verdadeira revolução nestes cinquenta anos, mas estamos ainda muito longe
de deixarmos de ser pobres, atrasados, incultos e provincianos.
(…)
Nalgumas coisas, estamos mesmo a andar para trás,
principalmente nos valores da sociabilidade e na cultura.
(…)
Não
vale a pena estar a falar da evidência da pobreza. Antes das prestações
sociais, e mesmo depois, metade dos portugueses é pobre.
(…)
Mas também andámos para trás. A civilidade diminuiu. O
português abastardou-se.
(…)
Também não vale a pena falar da desvalorização do trabalho a
favor dos unicórnios e das start-ups em incubadoras.
(…)
Deviam
ler o Compêndio da Doutrina Social da
Igreja, esse texto comunista, já que não querem ler Karl Marx
onde também aprendiam alguma coisa.
Pacheco Pereira, “Público” (sem link)
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